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O que o futuro reserva para a economia e para a sociedade brasileira?

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Por Marcelo Fonseca
Atualização:
Marcelo Fonseca. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Desde o início da pandemia, muito se fala sobre os impactos que ela trará a longo prazo nos mais diversos setores do país, além da saúde. Agora, no início de 2021, temos a sensação de que não evoluímos e estamos empurrando para frente o calendário de 2020, com os mesmos problemas e sem nenhuma perspectiva de melhoria - devemos ter um primeiro semestre bastante parecido ao que vivemos no ano passado.

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A chegada da segunda onda, e o colapso em hospitais em algumas regiões do país, trará ainda mais consequências para a já combalida atividade econômica. Para os comerciantes, por exemplo, o retorno para fases mais restritivas da quarentena não poderia ter vindo em pior hora. Estima-se que as vendas do comércio nacional tenham desabado em 10,3% na semana das festas natalinas - quando os casos de Covid-19 voltaram a aumentar - o pior desempenho já registrado da série histórica iniciada em 2003, de acordo com a Serasa Experian.

Outro ponto sensível, e que precisa ser visto com muita atenção, é o fim do auxílio emergencial concedido pelo governo federal. Apesar do gasto extraordinário, foi essa ajuda, para mais de 66 milhões de brasileiros, que não travou totalmente a economia. Sem isso, poderemos vivenciar uma nova queda e ter mais de 20 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema.

Não está claro se o governo estenderá o auxílio e quais serão os próximos passos. Muitas perguntas seguem em aberto sobre como ficará a dívida pública caso ingressemos em uma duradoura "segunda onda". Ainda não há um plano para reequilibrar as contas públicas e ajudar a sociedade e empresas, mas espera-se ansiosamente que o Ministério da Economia apresente soluções sustentáveis visando dar credibilidade e capacidade do governo de pagar sua dívida.

É uma situação bastante delicada, pois a ajuda social traz impactos nas questões fiscais, mas não se pode deixar de ajudar visando apenas um lado desse impasse. Por outro lado, para poder aliviar o fiscal e contribuir com o social, o governo teria que trazer algumas medidas, mexer não só na reforma, mas também em subsídios, entre outras necessidades. Mas enquanto isso, essa agenda de reformas segue parada.

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Infelizmente, ainda convivemos com um número inacreditável de perdas humanas e só haverá visibilidade razoável sobre o futuro quando o programa de vacinação em massa da população se inicie. Mas a sinalização é de que isso ainda demore a acontecer devido à falta de planejamento na compra de imunizantes, insumos e na logística de entrega. O que vemos, ainda, é uma imunização simbólica, embora o país já tenha ultrapassado a marca de mais de 1 milhão de vacinados.

Temos visto que Europa e Estados Unidos já vivenciam momentos amargos com o repique da pandemia e definindo novos lockdowns. Mas, diferente desses países, nós que não estamos nem entre as dez maiores economias do mundo, sofreremos ainda mais com a crise sanitária e com as restrições de pequenos negócios. Afinal, 99% dos estabelecimentos do país são formados por micro e pequenas empresas, de acordo com o Sebrae, que respondem por mais da metade (52%) dos empregos com carteira assinada no setor privado.

E, por falar em PMEs, há uma movimentação do Sebrae para que o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) retome como iniciativa permanente em 2021. Embora se discuta que a disponibilidade de crédito, aliada à política de aumento da produtividade, possam ser a saída para a recuperação das micro e pequenas empresas, ainda não há espaço para se falar em aumento de produtividade quando empresas pleiteiam programas do tipo "refis" e prorrogação da suspensão de contratos de trabalho.

Apesar do cenário apocalíptico que tem se pintado à nossa frente, vale ressaltar que a economia brasileira já vinha fragilizada na última década. Com tudo isso - e com as novas informações que não param de chegar - o que podemos esperar para um futuro próximo?

Analistas não se cansam de afirmar que o país necessita fazer reformas profundas, como por exemplo a tributária e a administrativa. Da mesma forma, paira sobre o país o espectro do descontrole fiscal, que poderá trazer consequências graves para a economia ressuscitando inclusive o dragão da inflação. Há um consenso de que estes assuntos devem ser enfrentados o quanto antes. No final das contas percebe-se que estes problemas (teto de gastos, custo do funcionalismo, estrutura tributária injusta) são na verdade subprodutos de um problema maior, este sim central: o Brasil (aqui representado pelos indivíduos eleitos pela sociedade) não enfrenta seus problemas, os posterga até o limite. Os que não se fazem representar através de grupos de interesse ficam no fim da fila. Mas, no limite, as consequências pela protelação recairão sobre todos.

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*Marcelo Fonseca é sócio e economista da HLB Brasil

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