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'O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios', disse Moro à PF

Ex-ministro relatou que Bolsonaro ameaçou trocar o diretor-geral da Polícia Federal e o próprio ministro de Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o comando da corporação no Rio

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Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo , Rafael Moraes Moura , Paulo Roberto Netto , Pepita Ortega/SÃO PAULO e Vinicíus Valfré/BRASÍLIA
Atualização:

O ex-ministro Sérgio Moro relatou à Polícia Federal que o presidente Jair Bolsonaro anunciou, em reunião com o primeiro escalão do governo, que iria 'interferir em todos os ministérios' e que, caso não conseguisse trocar o comando da Polícia Federal no Rio de Janeiro, ele trocaria o diretor-geral da corporação e o próprio ministro da Justiça.

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A reunião ocorreu no dia 22 de abril, dois dias antes do anúncio de demissão de Moro, e teria sido gravada pelo Planalto. Durante o encontro, Bolsonaro teria cobrado a substituição do diretor-geral da PF e do superintendente no Rio.

"O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e quanto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, trocaria o Diretor Geral e o próprio Ministro da Justiça", relatou Moro.

Moro prestou depoimento em Curitiba no último sábado, no âmbito do inquérito instaurado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar as acusações de que Bolsonaro interferiu politicamente na Polícia Federal. O relator do caso é o ministro Celso de Mello. (Leia a íntegra do depoimento aqui).

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O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Foto: Dida Sampaio / Estadão

Em sua oitiva, o ex-juiz da Lava Jato relatou que Bolsonaro queria trocar o comando da PF Rio desde o ano passado. Em março, durante viagem aos Estados Unidos, o presidente enviou mensagem cobrando a substituição do superintendente da corporação fluminense.

Segundo o ministro, a mensagem tinha o teor: "Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro".

Moro disse ter esclarecido a Bolsonaro, à época, que não nomeia e nem é consultado sobre as escolhas de superintendentes, e que tal prerrogativa é de competência da direção da PF. Ainda na viagem, a troca do então diretor-geral Maurício Valeixo, abordada anteriormente em janeiro deste ano, voltou a ser mencionada.

Moro alegou que até aventou a 'possibilidade de atender o presidente para evitar uma crise', visto que Valeixo declarou que 'estava cansado' da pressão que sofria para a sua substituição e para a troca de comando da PF no Rio.

O ex-juiz frisou que não havia nenhuma solicitação sobre interferência ou informação de inquéritos que tramitavam no Rio de Janeiro. Por essa razão, apesar das resistência, Moro concordou em trocar o comando da PF desde que o novo diretor-geral fosse de sua escolha técnica e pessoa não próxima do presidente.

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Porém, Moro relatou que 'não poderia aceitar a troca da Superintendência Regional do Rio de Janeiro'. "A partir de então, cresceram as insistências do presidente para a substituição tanto do diretor-geral quanto do superintendente", disse o ex-ministro.

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Ao ser questionado se as trocas solicitadas por Bolsonaro estavam relacionadas à deflagração de operações policiais contra pessoas próximas ao presidente ou seu grupo político, Moro disse que desconhece, mas observa que não tinha acesso às investigações enquanto elas evoluíam.

O ex-ministro disse que, à medida que cresciam as pressões para trocar os comandos da Polícia Federal, Bolsonaro lhe relatou verbalmente no Palácio do Planalto que 'precisava de pessoas de sua confiança para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência'.

Questionado se haviam desconfianças do Planalto em relação a Valeixo, Moro disse que isso deve ser indagado diretamente ao presidente.

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