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O potencial do turismo médico no Rio de Janeiro

Por Ricardo Cavalcanti Ribeiro
Atualização:
Ricardo Cavalcanti Ribeiro. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O turismo médico tem uma imensa capacidade de movimentar a economia de uma cidade, um estado ou um país. Mas, no Brasil, e mais especificamente no Rio de Janeiro, essa importante área não vem sendo aproveitada como deveria. Apesar de receber, anualmente, milhares de pacientes, nossos números ainda estão muito abaixo da capacidade que temos. Além de contarmos com um completo sistema de saúde, o Rio de Janeiro é referência em uma série de especialidades, como a cirurgia plástica, e oferece uma excelente relação custo/benefício em comparação com cidades da Europa, Estados Unidos e Japão. É importante lembrar, para reforçar ainda mais a importância do tema, que os turistas que viajam em busca de tratamentos e/ou cirurgias chegam a gastar 10 vezes mais que os demais.

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Para se ter uma ideia do montante sobre o qual falamos, de acordo com Patients Beyond Borders, entidade especializada no tema, a estimativa é que, até o final de 2019, mais de 20 milhões de pessoas viajarão para o exterior em busca de procedimentos e tratamentos médicos de excelência. Além disso, um relatório de uma importante operadora internacional de cartões de crédito destaca que a indústria do turismo médico já movimenta cerca de US$ 50 bilhões ao ano em todo o mundo.

E, para se inserir fortemente nesse cenário, gerar divisas e empregos e disputar com São Paulo, atualmente a cidade que mais recebe esses turistas no Brasil, a Secretaria de Estado de Turismo do Rio de Janeiro lançou o manual Turismo de Saúde - Diagnóstico e Proposições e criou um grupo de trabalho, formado por especialistas, para tratar da questão.

A proposta é aprofundar o conhecimento sobre as oportunidades que o turismo médico pode trazer para a Cidade Maravilhosa. Entre as medidas estão: capacitação de profissionais fluentes em línguas estrangeiras; atualização do corpo médico para trabalhar com softwares modernos, medicamentos e instalações de alto nível; incremento do número de hospitais com certificações internacionais e investimento em segurança pública.

São inúmeros os países, e as cidades, que investem para atrair viajantes inseridos no setor do turismo médico. Esse é o caso, por exemplo, da Turquia, Tailândia e México, além do emirado de Dubai. A Turquia, por exemplo, ficou conhecida nos últimos anos por oferecer soluções em transplantes de cabelo a preços extremamente competitivos e técnicas de ponta. Segundo o governo do país europeu, a meta é tornar a Turquia o terceiro principal destino para o turismo médico até 2023. E como esse objetivo será concretizado? A partir de investimentos constantes em hospitais modernos e bem equipados, ferramentas de atendimento eficazes e serviços de qualidade e acessíveis.

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A Tailândia é outro ótimo exemplo. A cada dez cirurgias realizadas no país, nove são em pacientes que chegam do exterior. Da otoplastia à cirurgia plástica, passando pela cirurgia de mudança de sexo, os cirurgiões tailandeses são conhecidos e reconhecidos em mundo todo.

Um dos lugares que sabe aproveitar como poucos o crescimento do turismo médico é Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Com o crescimento ano após ano do turismo, a autoridade de saúde de Dubai traçou uma estratégia que funciona desde 2014 e tem como objetivo desenvolver e apoiar o turismo de saúde. O cuidado é tão impressionante que eles já são capazes de identificar as necessidades dos turistas-pacientes do momento em que pisam no aeroporto até a hora de retornar aos países de origem. O objetivo é otimizar o tempo do procedimento para que o turista possa desfrutar, em companhia da família, de toda a oferta de lazer e turismo em Dubai. Com isso, a expectativa é que o setor gere, até 2020, 630 milhões de euros somente com o turismo de saúde.

O México, com uma realidade mais próxima da nossa, é outra referência. O país recebeu, no ano passado, mais de 1,2 milhão pacientes em busca de tratamentos de saúde. Entre os fatores que atraem cada vez mais pacientes estão os baixos custos das consultas e procedimentos, entre 30 a 70% menores em comparação aos praticados nas cidades norte-americanas.

E as cidades do país, principalmente as mais próximas da fronteira com os Estados Unidos, caso de Tijuana, investem alguns bilhões de dólares na instalação de novas clínicas e reformas em hospitais.

E no Rio de Janeiro? O que precisa ser mudado para que o estado também consiga aproveitar o desenvolvimento mundial do setor? Apesar de termos especialistas que são referência no mundo todo, o estado ainda precisa investir em infraestrutura, qualificação e segurança. E para isso, claro, é fundamental uma política de estado, que finalmente surge agora, que apoie o turismo médico.

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Atendo, mensalmente, dezenas de pacientes vindos de outros países, sobretudo da América Latina, Europa e África, e poderia dobrar esse número caso contasse com infraestrutura adequada. Apesar disso, a demanda é grande e cresce há anos. Muitos são brasileiros que moram no exterior e acompanham as pesquisas na área médica e estética através dos congressos internacionais e das notícias divulgadas pela mídia outros são estrangeiros em busca de qualidade, eficiência e lazer. É importante lembrar que esses turistas chegam a ficar na cidade por até três semanas, com um retorno enorme para diversos setores da economia.

O Rio de Janeiro, como todos nós sabemos, enfrenta uma severa crise econômica e, enquanto a indústria do petróleo não se recupera, é hora de investirmos fortemente no turismo, com destaque para o turismo médico, gerar divisas e empregos e contribuir, o mais rapidamente possível, para ajudar o estado a crescer e se recuperar.

*Ricardo Cavalcanti Ribeiro é diretor do Instituto de Pós-Graduação Carlos Chagas e chefe do setor de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Gaffrée Guinle

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