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O poder da fragilidade

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Por Tati Sadala
Atualização:
Tati Sadala. FOTO: PEDRO GASPAR Foto: Estadão

Recentemente o mundo assistiu a maior atleta da ginástica olímpica da atualidade, a jovem americana Simone Biles, de 24 anos, anunciar em plena Olimpíada que não participaria de várias modalidades, onde despontava como favorita, por estar com "twisties",  espécie de bloqueio mental que pode fazer com que as ginastas percam o controle de seus corpos no ar. Apontaram os médicos que isso ocorreu em decorrência da forte pressão emocional vivida por ela.

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Num primeiro momento, houve quem condenasse publicamente a atitude da jovem, como o subprocurador-geral do estado do Texas, Aaron Reitz, que a chamou, em rede social, de uma mulher infantil e de ser uma vergonha nacional para os Estados Unidos. Felizmente ele percebeu o equívoco e, não só apagou a publicação, como também pediu desculpas a atleta. Sobre esse episódio veio a reflexão: ela foi frágil ou forte? O maior medalhista olímpico de todos os tempos, o nadador Michael Phelps, o tenista André Agassi, o ginasta brasileiro Diego Hypolito e pelo menos mais uma dezena de outros atletas declararam publicamente que passaram por situações semelhantes, mas foi Biles, uma jovem mulher, quem, na verdade, teve a coragem de tornar isso público no auge de sua carreira.

Biles é um reflexo do que vemos no mundo. A mulher precisa fazer muito para ser reconhecida e, se demonstrar qualquer fraqueza, corre o risco de prejudicar toda sua trajetória.

Dados do levantamento do Ibre - Instituto Brasileiro de Economia - da FGV mostram que em 1970, apenas 20% dos trabalhadores brasileiros eram mulheres. Em 2020, esse número subiu para 42%. No entanto, a pandemia atingiu mais fortemente a mulher. Dados da PNAD Contínua, do IBGE, mostram que mais de 8 milhões de mulheres deixaram seus empregos e, desse total, 26% saíram do trabalho pela necessidade de cuidar dos filhos, contra apenas 2% dos homens que precisaram fazer a mesma coisa. Essa pesquisa ainda traz outro apontamento nada agradável, a questão salarial. As mulheres com formação superior e idades entre 20 e 29 anos  ganham, em média, 11% menos que os homens na mesma faixa etária. Já para aquelas com mais de 45 anos a diferença salarial é ainda mais gritante: 38% menos que os homens.

É verdade que o projeto de lei que prevê a equidade salarial entre homens e mulheres até foi aprovado no Senado Federal, em março deste ano. A empresa que não cumprir a lei, que remunerar de forma diferente homens e mulheres na mesma função, será multada. Isso acontecerá quando o projeto, que é de 2011, virar lei. Enquanto isso, precisamos muito da iniciativa privada em ações em prol da igualdade de condições para ambos os sexos e da força de muitas "Bailes", e Rebeca Andrade, Ana Marcela Cunha, Martine Grael e Kahena Kunze, para citar os nomes daquelas que colocaram o Brasil no lugar mais alto do pódio, mostrando que somos fortes e capazes, mesmo quando mostramos fragilidades. Ou, mostrando que somos fortes porque também mostramos fragilidade.

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*Tati Sadala é cofundadora do Todas Group

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