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O PIB contra Bolsonaro

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Por Sílvio Ribas
Atualização:
Sílvio Ribas. FOTO: ARQUIVO PESSOAL  

Ao divulgar neste primeiro dia de setembro um recuo de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, na comparação com três meses anteriores, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pode estar revelando mais do que só uma perda de fôlego da economia brasileira. Após avançar 1,2% de janeiro a março, completando três trimestres em alta, o PIB sofre com a escassez de chuvas, de vacinas e de bom senso na política.

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A agropecuária sofreu um tombo de 2,8%, afetada por quebra de safras, e a indústria retraiu 0,2%, abalado pela falta de insumos e custo elevado das matérias-primas. O pior, contudo, foi a variação zero no consumo das famílias na comparação com o primeiro trimestre e uma forte queda (-3,6%) dos investimentos. Em outras palavras, é inflação crescendo, pessimismo voltando e donos do capital preocupados com incertezas fiscais e eleitorais.

Nos últimos dias, a série de posicionamentos da sociedade, sobretudo de setores produtivos, contra a escalada de ameaças de confronto mais-que-verbal entre os poderes Executivo e Judiciário deixou claro que os dois anos e meio de tensões atingiram ponto incontornável. O manifesto da Fiesp apoiado por dezenas de outras entidades empresariais foi retido depois do protesto do governo, selando o rompimento de Bolsonaro do mercado.

Chamamos de "mercado" a entidade abstrata que a tudo observa, financia e colhe lucros e, eventualmente, prejuízos. Após tanto apostar na agenda liberal, este mercado resolveu deixar o chefe do Executivo falando sozinho. O mercado não é bom ou mau. Só cobra as promessas que depositaram nele, sobretudo as combinações desfeitas e as ilusões consumadas. Se ele precifica tudo, sabe quando erros são excessivos, sem chance de correção.

Ao desafiar as regras do jogo institucional, o presidente da República fez uma aposta política elevada demais para ser comprada pelo establishment econômico e perturbadora para a sobrevivência do establishment político. Sem limites consensuais, fora das quatro linhas, como gosta de ilustrar o próprio Bolsonaro, abre-se a janela para o caos de desfechos imprevisíveis. Antes disso ocorrer, outras janelas começam a se fechar, uma após outra.

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*Sílvio Ribas, jornalista, assessor parlamentar no Senado Federal e consultor em relações institucionais

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