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O ônus da pandemia para o paciente oncológico

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Por Rafael Prado
Atualização:

Rafael Prado. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Um ano após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia provocada pelo novo coronavírus, o isolamento social continua sendo necessário e tendo impacto na vida de todos, principalmente nas pessoas que compõem o grupo de risco, como os pacientes oncológicos. Eles se encontram não só sob o risco aumentado de complicações associadas à Covid-19, mas também preocupados com manter a sequência do tratamento e as visitas constantes ao médico e aos cada vez mais demandados serviços de saúde.

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Embora a telemedicina, aprovada em março de 2020 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), tenha ampliado os canais de comunicação e atendimento entre os profissionais de saúde e seus pacientes, os impactos da pandemia no acompanhamento médico do paciente oncológico vêm sendo demonstrado por diversos estudos. Especialmente em oncologia, a telemedicina atende à necessidade de avaliação clínica para quando o médico já tem conhecimento total da patologia do paciente. No entanto, não atende, em um primeiro momento, as outras demandas de uma consulta, como a avaliação física, também essencial e complementar ao diagnóstico de um tumor.

Na Inglaterra, um estudo realizado pela University College London analisou dados de oito hospitais e detectou redução de 76% dos encaminhamentos urgentes de pessoas pacientes com suspeita de câncer e diminuição de 60% nos agendamentos de quimioterapia1. O motivo é o medo de contaminação pela presença em ambientes públicos, como hospitais e clínicas, que leva a atrasos na realização de exames de diagnóstico e o abandono dos tratamentos em andamento. Com isso, conclui-se uma expectativa de aumento de óbitos de pacientes com novos diagnósticos de câncer em até 20% nos próximos 12 meses1.

No Brasil, um levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo mostra uma redução média de 26% no número de novos casos de tumores de rim, próstata e bexiga, em 2020, em comparação aos diagnósticos feitos em 2019. Os dados vêm de cinco instituições paulistas que atendem pacientes do SUS: Hospital Amaral Carvalho, de Jaú, Instituto do Câncer da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Hospital AC Camargo, de São Paulo, Hospital das Clínicas da Unicamp, de Campinas, e Hospital São Paulo, da Unifesp, de São Paulo3.

No HC da Unicamp, houve queda de 52% nos casos de câncer de bexiga, 61,04% nos de próstata e 63% nos de rim3. No AC Camargo, as reduções foram de 24%, 48,8% e 29%, respectivamente3. No Hospital São Paulo, houve diminuição de 25% nos casos de câncer de próstata e 35% nos de rim3.

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Em julho do ano passado, o Hospital Moinhos de Vento, referência no tratamento contra o câncer em Porto Alegre, relatou que a média diária de pacientes em terapias do centro de oncologia havia caído pela metade, enquanto exames de diagnósticos para alguns tumores tiveram redução de 80%4. De acordo com dados locais de Porto Alegre da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), a quantidade de biópsias de próstata, por exemplo, caiu 80% entre março e maio de 2020 na comparação com o mesmo período de 20194.

Os pacientes oncológicos são especialmente vulneráveis devido à imunossupressão de algumas doenças e tratamentos, além da combinação do câncer com comorbidades, como hipertensão, diabetes e doença pulmonar obstrutiva. Pacientes acometidos pelos tumores hematológicos, por exemplo, como mieloma múltiplo, leucemia e linfoma podem desenvolver a forma mais grave de Covid-19 em comparação com aqueles que foram diagnosticados com outros tipos de câncer, como pulmão, próstata e mama2. O dado foi revelado por um estudo britânico publicado na revista científica The Lancet2. Apesar disso, o atendimento a todos os tipos de pacientes oncológicos não deve parar.

Com a nova onda da pandemia e a atual sobrecarga de hospitais e atendimentos de saúde, os pacientes oncológicos enfrentam o risco de novos cancelamentos de consultas e cirurgias. Desde o ano passado já enfrentamos um momento que pede a união. E mais uma vez, todos nós, comprometidos com a saúde de nosso país, precisamos nos unir para estimular a adoção de medidas que favoreçam a avaliação do risco individual para cada paciente oncológico e a manutenção dos cuidados durante a pandemia para que o ônus seja minimizado.

*Rafael Prado é diretor-geral da Sanofi Genzyme, unidade de negócios para doenças de alta complexidade, com foco em oncologia, imunologia e doenças raras

  1. Estimating excess mortality in people with cancer and multimorbidity in the COVID-19 emergency. Disponível em: https://setorsaude.com.br/wp-content/uploads/2020/07/Laicancercovidpreprint2020-04-28v4.pdf
  2. COVID-19 prevalence and mortality in patients with cancer and the effect of primary tumour subtype and patient demographics: a prospective cohort study. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/936578. Acesso em 04/02/2021.
  3. Sociedade Brasileira de Urologia. Pandemia provoca redução de 26% em diagnósticos de tumores de próstata, rim e bexiga. Disponível em: https://sbu-sp.org.br/publico/pandemia-provoca-reducao-de-26-em-diagnosticos-de-tumores-de-prostata-rim-e-bexiga/  Acesso em 04/02/2021.
  4. Hospital Moinhos do Vento. Medo da COVID-19 provoca queda em diagnósticos de câncer e pode gerar onda de mortes devido à demora no tratamento. Disponível em: https://www.hospitalmoinhos.org.br/institucional/noticias/medo-da-covid-19-provoca-queda-em-diagnosticos-de-cancer-e-pode-gerar-onda-de-mortes-devido-demora-no-tratamento Acesso em 04/02/2021.

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