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'O navio corre o risco de naufragar', diz Rachid a auditores sobre maior crise da Receita

Em mensagem dramática aos administradores que ameaçam renunciar a postos estratégicos por causa de alterações no Projeto de Lei 5864/16, secretário do Fisco aponta para 'muitos interessados no não funcionamento, na desorganização, no enfraquecimento e no fatiamento da Instituição'

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Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Atualização:

O secretario da Receita Federal, Jorge Rachid . Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

 

Em mensagem aos auditores que colocaram à disposição postos estratégicos e cargos de confiança no Fisco, o secretário da Receita Federal Jorge Rachid apontou para 'muitos interessados no não funcionamento, na desorganização, no enfraquecimento da Instituição'.

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Rachid disse que 'ao deixar a função que se ocupa ou mesmo ameaçar fazê-lo, fragilizam-se as linhas de responsabilidade e comando da Instituição e perde-se a funcionalidade do órgão'.

"Um navio não chegará mais rapidamente ao seu destino com o abandono de seus comandantes. Pelo contrário, restará à deriva e correndo o risco de naufragar. Cabe equilíbrio emocional e serenidade neste momento", sugeriu o secretário, dramaticamente.

A emblemática carta de Rachid, endereçada a delegados e a superintendentes, busca estancar a maior crise da história da Receita, deflagrada por um qualificado e numeroso corpo de auditores insatisfeitos com o que chamam de 'graves distorções' no texto original do Projeto de Lei 5864/2016, sobre a carreira tributária.

Eles repudiam o 'partilhamento da quase totalidade das prerrogativas que são privativas do cargo de auditor fiscal'

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Na primeira grande reação às alterações do projeto, na quarta-feira, 9, um bloco de 57 auditores ameaçou renunciar às funções de confiança da 8.ª Região Fiscal (São Paulo), a que mais arrecada tributos em todo o País, na ordem de R$ 500 bilhões por ano.

Na sexta-feira, 11, a crise chegou ao seu grau máximo - quatrocentos auditores, entre subsecretários, superintendentes regionais, coordenadores-gerais e especiais, delegados e inspetores, divulgaram manifesto contra os 'efeitos nocivos' do substitutivo aprovado pela Comissão Especial da Câmara que analisou o projeto 5864/2016.

"Estamos assistido movimentos de entrega de cargos na Receita Federal como manifestação de insatisfação com a tramitação do PL nº 5.864/2016", escreveu Rachid a seus pares.

"Os efeitos desta linha de ação serão o empobrecimento produtivo e intelectual da Receita Federal; o enfraquecimento institucional no plano efetivo e o desgaste de sua imagem; e, a consequência mais grave, a derrocada dos servidores devido à 'desindentificação' dos quadros funcionais com a Instituição e seus valores."

"Sem desconsiderar, o colapso do respeito mútuo e dos laços de amizade, efeitos perversos que podem perdurar indefinidamente."

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O secretário faz uma reflexão. "Há algum resultado positivo derivado desse imenso sacrifício no qual, no limite, imola-se a própria Instituição? É isto que a sociedade espera da Receita Federal?"

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Rachid seguiu. "Alguns esperam que o Poder Executivo se sinta com a 'faca no pescoço' e tome 'providências' e que o Congresso Nacional se sensibilize. No entanto, como se pode imaginar que, para fortalecer uma campanha reivindicatória, deva-se promover a ruptura hierárquica, favorecendo o enfraquecimento e desmonte da Instituição? Ainda mais quando o Poder Executivo demonstra empenho em buscar solução para o pleito."

Ele faz uma ressalva. "É bom lembrar que o processo legislativo ainda está em sua primeira etapa."

Depois, uma previsão. "Um navio não chegará mais rapidamente ao seu destino com o abandono de seus comandantes. Pelo contrário, restará à deriva e correndo o risco de naufragar."

Sugeriu. "Cabe equilíbrio emocional e serenidade neste momento."

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"Ora, se tal estratégia parece tão negativa, sob tantos aspectos, então por que vem sendo disseminada? Qual é o substrato que a alimenta? O que pode levar uma Instituição a sua autodestruição? Na raiz deste fenômeno, será que não reside um processo de desmoralização, de opressão da autoestima e de desvalorização dos seus quadros funcionais (bandeira sempre defendida na retórica de alguns)? Não é possível perceber um verdadeiro mantra da 'desvalorização' profissional, soando todos os dias e em todos os lugares?"

Ele abordou, ainda. "A quem, internamente, interessa a desorganização e o enfraquecimento da Receita Federal? Aos que trabalham e que identificam nos seus processos de trabalho e projetos grande significado para sua própria realização pessoal? Aos que se consideram moralmente obrigados a prestar um melhor serviço aos contribuintes em troca da remuneração que aceitaram receber ao ingressarem nos seus quadros (sem prejuízo do direito de buscar melhorias)? Certamente, não."

Sem citar nomes, o secretário destacou. "Externamente, poderiam ser identificados muitos interessados no não funcionamento, na desorganização, no enfraquecimento e no fatiamento da Receita Federal. Mas, internamente, só podemos listar como interessados os que querem um 'lugar' (jamais uma organização) sem responsabilidades pessoais, sem controles, e que estimulam outros servidores a adotarem prática que parece ser heroica, mas que é apenas destruidora."

Apontou para um cenário sombrio. "Ou alguém honestamente considera que será possível reerguer a Receita Federal que admiramos e onde nos realizamos profissionalmente depois de transformá-la em escombros, ao romper o respeito coletivo, profissional e os laços de amizade com os colegas? É provocando o desrespeito por parte da sociedade que vamos valorizar a Instituição?"

"Assim, julgo que estão enganados aqueles que, ao argumento de que a Instituição está sendo atacada ('desmonte da Receita Federal'), deve-se entregar o comando (as funções) como forma de manifestação de repúdio."

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Por fim, insistiu. "É precisamente o contrário. Trata-se de conduta extremamente equivocada. O momento exige lucidez. É hora de mostrar a vitalidade da Instituição, mantendo a energia e o comando necessários para defender a Receita Federal. No campo da estratégia, não é razoável que se abandone o combate, que pode ser longo, ao revés da primeira batalha!"

O DRAMÁTICO APELO DE JORGE RACHID AOS AUDITORES:

"Prezados(as) Administradores(as) da Receita Federal

Temos assistido movimentos de entrega de cargos na Receita Federal como manifestação de insatisfação com a tramitação do PL nº 5.864/2016.

Ao deixar a função que se ocupa ou mesmo ameaçar fazê-lo, fragilizam-se as linhas de responsabilidade e comando da Instituição e perde-se a funcionalidade do órgão. Os efeitos desta linha de ação serão o empobrecimento produtivo e intelectual da Receita Federal; o enfraquecimento institucional no plano efetivo e o desgaste de sua imagem; e, a consequência mais grave, a derrocada dos servidores devido à "desindentificação" dos quadros funcionais com a Instituição e seus valores. Sem desconsiderar, o colapso do respeito mútuo e dos laços de amizade, efeitos perversos que podem perdurar indefinidamente.

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Há algum resultado positivo derivado desse imenso sacrifício no qual, no limite, imola-se a própria Instituição? É isto que a sociedade espera da Receita Federal?

Alguns esperam que o Poder Executivo se sinta com a "faca no pescoço" e tome "providências" e que o Congresso Nacional se sensibilize. No entanto, como se pode imaginar que, para fortalecer uma campanha reivindicatória, deva-se promover a ruptura hierárquica, favorecendo o enfraquecimento e desmonte da Instituição? Ainda mais quando o Poder Executivo demonstra empenho em buscar solução para o pleito. É bom lembrar que o processo legislativo ainda está em sua primeira etapa.

Um navio não chegará mais rapidamente ao seu destino com o abandono de seus comandantes. Pelo contrário, restará à deriva e correndo o risco de naufragar. Cabe equilíbrio emocional e serenidade neste momento.

Ora, se tal estratégia parece tão negativa, sob tantos aspectos, então por que vem sendo disseminada? Qual é o substrato que a alimenta? O que pode levar uma Instituição a sua autodestruição? Na raiz deste fenômeno, será que não reside um processo de desmoralização, de opressão da autoestima e de desvalorização dos seus quadros funcionais (bandeira sempre defendida na retórica de alguns)? Não é possível perceber um verdadeiro mantra da "desvalorização" profissional, soando todos os dias e em todos os lugares?

Outras questões que me parecem importantes: a quem, internamente, interessa a desorganização e o enfraquecimento da Receita Federal? Aos que trabalham e que identificam nos seus processos de trabalho e projetos grande significado para sua própria realização pessoal? Aos que se consideram moralmente obrigados a prestar um melhor serviço aos contribuintes em troca da remuneração que aceitaram receber ao ingressarem nos seus quadros (sem prejuízo do direito de buscar melhorias)? Certamente, não.

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Então, a quem interessa?

Externamente, poderiam ser identificados muitos interessados no não funcionamento, na desorganização, no enfraquecimento e no fatiamento da Receita Federal. Mas, internamente, só podemos listar como interessados os que querem um "lugar" (jamais uma organização) sem responsabilidades pessoais, sem controles, e que estimulam outros servidores a adotarem prática que parece ser heroica, mas que é apenas destruidora. Ou alguém honestamente considera que será possível reerguer a Receita Federal que admiramos e onde nos realizamos profissionalmente depois de transformá-la em escombros, ao romper o respeito coletivo, profissional e os laços de amizade com os colegas? É provocando o desrespeito por parte da sociedade que vamos valorizar a Instituição?

Assim, julgo que estão enganados aqueles que, ao argumento de que a Instituição está sendo atacada ("desmonte da Receita Federal"), deve-se entregar o comando (as funções) como forma de manifestação de repúdio.

É precisamente o contrário. Trata-se de conduta extremamente equivocada. O momento exige lucidez. É hora de mostrar a vitalidade da Instituição, mantendo a energia e o comando necessários para defender a Receita Federal.

No campo da estratégia, não é razoável que se abandone o combate, que pode ser longo, ao revés da primeira batalha!

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