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'O mínimo que meu nariz deveria fazer é sentir cheiro e respirar', desabafa estilista após denunciar cirurgião Alan Landecker à Polícia

A estilista Juliana Castro de Macedo decidiu fazer um boletim de ocorrência contra Alan Landecker após ver relatos de outros casos na mídia; ao todo, dez pacientes fizeram queixa na Polícia, resultando em seis inquéritos instaurados

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Por Maria Isabel Miqueletto
Atualização:

Atualizada às 12h20 com nota dos advogados

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A Polícia Civil de São Paulo começou a ouvir os depoimentos dos ex-pacientes que prestaram queixa contra o cirurgião plástico Alan Landecker alegando terem sofrido deformações no nariz e problemas de saúde após rinoplastia. Novos boletins de ocorrência foram registrados e a polícia apura seis inquéritos instaurados. Ao todo, dez registros foram feitos no 15º Distrito Policial (DP), segundo a Polícia Civil.

Juliana (esquerda) prestou queixa contra Alan após ver relatos de outros ex-pacientes na mídia. O cirurgião Alan Landecker ao centro. Paula (direita) já havia feito boletim de ocorrência contra o cirurgião. Fotos: arquivo pessoal e reprodução/Facebook Foto: Estadão

A estilista e empresária Juliana Castro de Macedo, 29, decidiu fazer um boletim de ocorrência após ver os relatos de outros casos na mídia. Ela fez a primeira cirurgia com Landecker em janeiro deste ano para consertar um desvio de septo e reparar questões estéticas, teve uma infecção e precisou realizar outras quatro. Dos cinco procedimentos cirúrgicos, dois foram feitos no Hospital São Luiz do Morumbi e os outros três, na clínica do cirurgião, segundo a empresária. "Até começar a aparecer as reportagens, ele falava que nunca tinha visto isso em todo o tempo de carreira dele. Meu nariz abria completamente, eu tinha necrose e cartilagem exposta", conta.

Na direita, Juliana antes da cirurgia realizada em abril e, à esquerda, em fevereiro após infecção. Foto: arquivo pessoal

Foram 100 dias tomando antibióticos e seguindo o tratamento recomendado por Landecker, que Juliana diz ter seguido até o último mês de outubro. Ainda assim, continua sem olfato e sem conseguir respirar bem. "Eu perdi quase completamente meu olfato, passei isso para ele diversas vezes e ele não deu a menor bola. O mínimo que meu nariz deveria fazer é sentir cheiro e respirar", relembra.

A assessora de imprensa Paula Oliveira, 38, uma das ex-pacientes que prestou queixa contra o cirurgião, afirma que 15 pessoas procuraram quem já havia denunciado Alan com relatos semelhantes. Um grupo no WhatsApp chamado 'Pacientes do Alan', que reunia, até o último dia 6, 17 ex-pacientes que afirmam ter sofrido danos decorrentes do procedimento estético, hoje conta com 26 membros. 

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"Ainda tem a turma de pacientes que se sentem ameaçados pelo Alan, estão ali no grupo para trocar informação e ter suporte psicológico, mas preferem não entrar na briga", afirma a assessora. Paula fez a primeira cirurgia em dezembro de 2020 e, após os procedimentos, perdeu o olfato, não respira normalmente por uma das narinas e sofreu deformações estéticas no nariz. 

À direita, Paula antes da cirurgia com Alan e, à esquerda, atualmente. Foto: arquivo pessoal

No caso de Paula, um mês após a cirurgia os pontos começaram a abrir e a cartilagem do nariz caiu. No mês seguinte foi comunicada que não poderia mudar para os Estados Unidos para assumir uma vaga de emprego pois estava com infecção e precisaria passar por nova cirurgia. "Quando fiz o boletim pensei: 'a gente vai pra luta'. A gente tem direitos e vai lutar por eles", relembra.

A assessora diz ter investigado as datas dos casos relacionados a infecções com pacientes do cirurgião. "Desse surto de infecção, o primeiro caso foi em junho de 2020, minha cirurgia foi em dezembro de 2020, já haviam vários casos e mesmo assim ele não comentou", diz.

Para Paula, a omissão do cirurgião tirou o direito de os pacientes procurarem outros profissionais - e, em seu caso, de ter um plano de saúde para tratar as sequelas. "Isso fez com que a gente ficasse se culpando. Foi um ano da minha vida parado", pontua. Ela estima que seu investimento em saúde, após as cirurgias, chegou na casa dos R$ 100 mil.

"Eu falava: 'não vou ter coragem de sair de casa com esse nariz, doutor'", conta Paula, que deixou de assumir duas posições de trabalho nos Estados Unidos em decorrência dos problemas pós-rinoplastia. Foto: arquivo pessoal

Após as denúncias, o cirurgião foi afastado de suas atividades nos hospitais Vila Nova Star, Sírio-Libanês e Israelita Albert Einstein, onde realizava cirurgias. O Ministério Público de São Paulo e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) também foram acionados para investigar os casos. 

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COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS DANIEL BIALSKI E FERNANDO LOTTENBERG, QUE REPRESENTAM O CIRURGIÃO 

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"O Dr. Alan Landecker nunca realizou procedimentos cirúrgicos em sua clínica: todos eles foram feitos nos centros cirúrgicos de hospitais de primeira linha e o profissional sempre atendeu com diligência seus pacientes.

É incomum este surto de infecções que atingiu alguns pacientes do Dr. Alan Landecker. Não há provas de que o Dr. Alan tenha deixado de praticar ou praticado algum ato que tenha dado origem ou seja a causa das infecções, não havendo nexo causal destas com o atendimento prestado, antes, durante ou depois dos procedimentos cirúrgicos.

A conclusão das investigações demonstrará que não houve negligência, imperícia ou imprudência no caso."

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