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O legado de Bruno Covas: uma São Paulo mais humana

Por Ana Claudia Carletto
Atualização:
Ana Claudia Carletto. Foto: Divulgação

O prefeito Bruno Covas partiu deixando uma mensagem importante. Bruno sempre teve orgulho de ser político, e uma convicção inabalável de que é apenas por meio da política de alto nível que se pode solucionar os problemas complexos das cidades e do país. Era com base nessa crença que ele procurava agir. E foi com esta postura que enfrentou de maneira digna e simultaneamente os desafios avassaladores de governar a maior cidade da América do Sul durante uma pandemia, lutar contra o câncer em progressão e atravessar uma campanha política com leveza e fair play.

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Nenhuma das tarefas era simples, ainda mais num contexto político marcado pela insensatez e o radicalismo. Se há uma mensagem, um legado deixado por Bruno Covas, é sua convicção de que é possível e é preciso que sejamos mais humanos. Foi esse sentimento que o levou a estar presente na cena do desabamento do Edifício Wilson Paes, no Largo Paissandu, em seus primeiros dias de prefeito. Foi lá o seu debut como prefeito, olhando nos olhos das pessoas e mostrando que é com ação e presença que tomaria suas decisões.

Seu legado se reveste de maior importância no momento atual. Passado um ano e quatro meses do início da pandemia, contamos mais de 520 mil mortos. Além das vidas das vítimas e do luto mal vivido por seus entes queridos, a pandemia nos tirou muito mais. Levou planos e sonhos, deteriorou a economia e tirou da gente abraços e beijos que poderíamos ter trocado. Tolheu, pelo medo da transmissão, o convívio de netos com os avós.

A faceta mais cruel da pandemia, embora a inquietação que provoque nos corações seja geral, é sua capacidade de aprofundar as desigualdades. A crise bate em quem pode fazer home office, mas a pancada é bem mais forte naqueles que não tem home, nem office. Nos que atravessam a cidade para chegar ao trabalho presencial. Nas famílias que tinham pouco ou nenhum dinheiro guardado e hoje fincaram o pé no mapa da fome. Nos bairros periféricos que, invariavelmente, contam mais mortes.

Em suas últimas palavras escritas, Bruno deixou clara sua convicção e a importância do tempo em que vivemos. "O momento do Brasil demanda de todos nós espírito público, unidade, agregação, somar e não dividir, não deixar nenhum interesse pessoal sobrepujar o coletivo", escreveu aos seus correligionários. Ele sabia que os direitos básicos dos cidadãos devem ficar acima de tudo.

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A cidade de São Paulo agiu desta forma, orientou seus moradores a ficarem em casa, sim, para preservar vidas, mas voltou imediatamente o olhar para aqueles que não tinham casa para ficar. A pandemia impõe à sociedade uma elevação de espírito, de civilidade. Precisamos enfrentar o aprofundamento das desigualdades decorrente da Covid.

A consciência do momento histórico não pode nos levar a outro sentimento que não seja

à empatia. É preciso um olhar mais humano para a pessoa que vive na rua, para o idoso, para as famílias nas comunidades e ocupações, para as mães solo e mulheres vítimas de violência, para a população LGBTI que sofre com a homofobia, para a população negra vítima do racismo, para os imigrantes que são discriminados. É hora de acolher, de colaborar e exercitar a humanidade, que nos caracteriza.

Se não aproveitarmos este momento para tornar a nossa querida cidade uma São Paulo mais humana, teremos perdido mais do que as vítimas da COVID ou um incontável número de empregos, teremos perdido a humanidade.

*Ana Claudia Carletto, secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania

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