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O impacto da covid-19 no ecossistema empreendedor brasileiro 

Por Tatiana Pimenta
Atualização:
Tatiana Pimenta. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Temos vivido dias difíceis. A propagação da covid-19 assusta, isola, mata e nos faz repensar muita coisa. Cenários sendo revistos, projetos antigos sendo engavetados e novas soluções surgindo de forma criativa. Foi dada a largada ao período das reavaliações e reinvenções.

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Estamos diante de uma crise humanitária sem precedentes. Devemos, antes de mais nada, prezar pela saúde e segurança de nossos times, familiares e clientes. Escancara-se em nossa frente uma crise global de saúde que provocará mudanças profundas na sociedade e economia.

Um verdadeiro senso de oportunidade é palpável. Uma possibilidade de transformação, pessoal e coletiva. Estamos sendo convidados a repensar e mudar muitos dos padrões, processos e sistemas comuns que tínhamos considerado imodificáveis.

Sem protocolos em vigor e sem respostas predefinidas sobre como navegar nesses novos cenários, somos deixados à experimentação - tentativa e erro. Somos obrigados a errar, aprender e corrigir à medida que avançamos. Isso requer coragem. E compaixão. E resiliência. E uma dose saudável de otimismo.

Não estamos no controle

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A covid-19 chega para mostrar que não temos o controle de todas as coisas. Temos a tendência de nos considerarmos altamente potentes, mas não somos. Negócios podem ser drasticamente abalados, em um piscar de olhos, mesmo que sejamos super competentes e estejamos fazendo nosso melhor. Do dia para noite, a vida da grande maioria dos empreendedores virou do avesso. Simples assim!

Enquanto empreendedora, percebo a urgência de sermos flexíveis. É preciso muito jogo de cintura e criatividade para lidar com o inimaginável. Seremos confrontados com a necessidade de tomarmos decisões difíceis, de forma rápida, nos próximos dias. Ao mesmo tempo, trabalhamos para prever os próximos 6, 12 ou 18 meses.

Para garantirmos um mínimo de assertividade e sanidade mental, foco e priorização serão a palavra da vez. Vamos ter que aprender a dizer não, ou seremos drenados pela avalanche de informações, lives, webinars, reuniões e todas as demais demandas que surgirem agora. Não vamos dar conta de tudo e os pratinhos vão cair. Se não aceitarmos isso, teremos problemas  mais sérios.

Precisaremos ter cuidado para não cairmos na cilada do termo "o novo normal", que ando ouvindo nos últimos dias. A tal "nova normalidade" sugere a existência de um código oculto de como devemos nos comportar. E é aqui que este termo parece ser problemático. Continuar operando, quase como se nada estivesse acontecendo, como se estivéssemos de fato vivendo tempos normais, na melhor das hipóteses, parece impreciso, na pior delas perigoso.

Ao assumir a ideia de um "novo normal" não criamos espaço para processar as rápidas mudanças pelas quais estamos passando, como indivíduos e sociedade. Mais importante, ele não cria espaço para re-imaginar uma nova realidade - que é o que realmente é necessário agora.

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A realidade muda diariamente e adaptabilidade de todo e qualquer plano será a chave para enfrentarmos o momento. Devemos estar preparados para o pior e extremamente alinhados com nossos times. Se precisarmos mudar de direção rapidamente, alinhamento fará tudo acontecer de forma mais consistente.

Respire um pouco, observe e aja rápido

Separar tempo para respirar e desenhar alguns cenários se faz urgente e necessário. Estresse todas as hipóteses. Qual o melhor cenário para sua empresa? Qual o pior? Como está o burn rate? O runway? Recebíveis em atraso? Clientes pedindo corte de preços? Fechamento de novos contratos sendo prorrogados? Cancelados?

Em um cenário de tamanha incerteza, onde não temos clareza sobre como se dará  a demanda por nossos produtos ou serviços, é importante separar algumas horas para desenhar planos de ação que garantam a preservação de caixa.

As primeiras demissões já começaram a aparecer, cancelamentos de contratos e revisões de planos também! E acredito que estamos apenas no começo.

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Li um artigo interessante do Steve Blank semana passada. Nele, Blank afirma que a sobrevivência de uma empresa nesta crise pode ser capturada em uma fórmula simples:

Sobrevivência = (velocidade da compreensão da situação) x (a magnitude das opções de pivôs /cortes/ botes salva-vidas que os empreendedores tiverem construído) x (a velocidade do tempo para fazer essas alterações)

A palavra velocidade aparece duas vezes, não à toa. Blank deixa claro que este não é o momento para comitês, grupos de estudo ou amplo consenso. Mesmo com informações imperfeitas, o futuro da empresa dependerá da capacidade do CEO de tomar decisões rápidas e começar a agir.

O que o coronavírus deixará

Acredito que essa pandemia vai provocar grandes reflexões. Veremos muitas mudanças de mindset com relação às relações de trabalho, a digitalização de alguns serviços e também em nosso estilo de vida.

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Provavelmente passaremos a ter uma maior adoção do trabalho remoto, um uso mais consciente de recursos, a digitalização de muitos serviços, inclusive os de saúde, com uma intensificação e consolidação do teleatendimento. Este último, ao meu ver, veio para ficar.

Novas tecnologias surgirão, sempre há muita inovação em períodos de crises e guerras. Um historiador de Stanford, chamado Walter Scheidel, afirma que um país só realiza mudanças significativas após viver "grandes choques trazidos por guerras, revoluções e epidemias".

Se a vida está nos dando um limão, que saibamos fazer dele uma limonada. O que eu quero dizer com tudo isso? Que muita coisa vai mudar daqui para frente. A vida não será a mesma depois do coronavírus

O coronavírus com certeza vai deixar de presente a possibilidade de reinvenção e evolução. Como diria Darwin, não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. Que a gente siga se adaptando e evoluindo, não é mesmo?

*Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude

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