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O imbróglio sobre o imposto de importação dos cilindros de oxigênio

Por Ana Campos
Atualização:
Ana Campos. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O Imposto sobre a importação de produtos estrangeiros (II) é um tributo de competência federal que incide sobre produtos estrangeiros cujas alíquotas, conforme explícito no Artigo 153 da Constituição Federal, podem ser alteradas pelo Poder Executivo.

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Dito isso, nas últimas semanas, diante do colapso ocasionado pela falta de oxigênio nos hospitais de Manaus para pacientes de COVID-19, o II voltou a ser discutido na grande mídia do país, uma vez que o imposto de importação sobre os cilindros de oxigênio fora elevado no fim do ano - poucas semanas antes da atual crise - fator que, na prática, seria mais um entrave para o combate aos caos na saúde pública manauara e, em última instância, para o controle dos casos graves de coronavírus que voltam a crescer no país.

O objetivo deste artigo é contribuir para uma elucidação deste cenário. O que ocorreu, de fato? Houve falha do Governo Federal? Qual o órgão responsável e quais foram as diretrizes para o aumento? Vamos a uma análise mais detalhada do caso.

Entendendo a questão

De início, é importante salientar que, no último dia 15, em medida antecipada pelo Presidente da República Jair Bolsonaro, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Economia, zerou o imposto de importação sobre os cilindros de oxigênio, monitores de sinais vitais, sensores de oxigênio e "diversos insumos médicos que permitem intensificar o combate à pandemia da COVID-19."

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Para entendermos a medida - que pode evitar um problema ainda maior no Amazonas e em outros estados que enfrentam aumentam de internações motivadas pelo coronavírus - no entanto, precisamos voltar algumas casas no tabuleiro do combate a pandemia.

Já no início da crise, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior criou, a partir da Resolução Camex nº 17, de 17 de março de 2020, a lista de redução temporária das alíquotas do Imposto de Importação para combate à COVID-19, a qual vem sendo atualizada por uma série de resoluções subsequentes e que, em suma, reduz a zero o II de uma série de produtos importantes para o controle da pandemia de coronavírus.

Ocorre que, em dezembro do ano passado, os cilindros de oxigênio não foram incluídos na prorrogação da medida de redução da alíquota e, portanto, voltaram a ser taxados já em janeiro (14% para os cilindros de ferro e 16% para os cilindros de alumínio). Em comunicado, o Camex informou que a decisão seguiu recomendação do Ministério da Saúde "autoridade finalística sobre o assunto no âmbito do governo federal".

Diante da crise de Manaus e da repercussão negativa em torno da questão, o Camex buscou uma resolução rápida sobre o tema e, como dito acima, fez uma nova atualização da lista, incluindo um total de 561 que ficam isentos de II, ao menos até 30 de junho deste ano.

A responsabilidade do Governo Federal e uma visão sobre o caso

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Não há como eximir a responsabilidade do Governo Federal em torno do imbróglio do imposto sobre os cilindros de oxigênio.

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Ainda que a questão pareça, muito mais, uma falha de comunicação que, se não tivesse sido rapidamente sanada, poderia causar ainda mais impactos para a crise da COVID-19 no Brasil; o fato é que, conforme aponto acima, o II é um tributo de incumbência do Poder Executivo.

Além disso, o Ministério da Saúde e o Ministério da Economia são órgãos subordinados diretamente a Presidência da República e, portanto, seus equívocos e virtudes pesam também sobre os ombros do Governo Federal.

Da parte dos órgãos subordinados é fundamental, por sua vez, que haja um assessoramento mais eficiente da Presidência; de modo que o poder executivo, no conjunto de suas forças, possa antever, se planejar e agir de modo eficiente em contextos de crise e, sobretudo, para que se evitem colapsos, como o penoso e triste cenário vivido em Manaus.

O fato é que falhas de comunicação - seguidas de idas e vindas nas tomadas de decisão - infelizmente, não são uma novidade no atual contexto de instabilidade política vivido pelo País. Ainda assim, cabe à sociedade a cobrança de atitudes mais assertivas, as quais serão, mais do que nunca, essenciais para que o país volte a crescer e para a proteção da vida de cidadãos brasileiros.

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*Ana Campos é especialista em Aquisições e Reestruturações e sócia- fundadora da empresa Grounds

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