Os fatos são públicos através da cobertura mediática universal. Uma das regiões mais miseráveis do mundo ocupa as atenções da opinião politica de todo o mundo disputando e correndo, paralelamente, com a pandemia do Covid19.
Cabe a licença poética de Susan Sontag, "a doença como metáfora".
Se em, praticamente, todos os países , a disseminação e o contágio da doença impuseram algumas leis na contra-mão do progresso e do desenvolvimento civilizatório como o distanciamento social e o uso de máscaras, até a paralisação de todas as atividades sociais e econômicas, chegando ao lockdown, no pequeno e paupérrimo território haitiano, gangues, milícias, bandos, quadrilhas, enraizados numa longa e mutilante história toma as ruas e, com a participação suspeita de elementos estrangeiros assalta os tímidos processos de ordenação constitucional do Estado.
As formas escandalosas de assassinato do presidente e a primeira-dama baleada tem um significado que transcende o episódico e pontual.
O que se pretende é uma espécie de instauração de uma legitimidade ilegítima de conflito, como já vimos, alguns ensaios em países da Africa, no dilaceramento da Iugoslávia, no Oriente Médio.
O crime, assim como Instituição rompe, internamente todo esforço moral de convivência e externamente, através de corrupção e do sequestro e assassinato faz imperar um sistema paranoico de Terror.
A narrativa caótica corresponde ao caos implantado como desordem na escravidão.
Porque é disto que se trata e à partir desta visão podemos nos preocupar com certos espaços urbanos e suburbanos de nosso Brasil em que os bandidos pretendem impôr sua onipotência asseverando a concepção de Hannah Arendt da "banalização do Mal".
Pois é disto que se trata nas cenas surreais que retratam o Haiti, com suas disputas pelas farias de poder que enriquecem o crime organizado nativo e, cada vez mais se constata, redes internacionais que usam instrumentos brutais de terror para submeter, subjugar a população ao nível da desumanidade.
Por tudo isto e a nossa problemática quanto à segurança da cidadania, urge atenção no que ocorre no infeliz Haiti, aonde já se faz presente, o Brasil numa atuação com a O.N.U. Que, infelizmente, como se constata não consegue deter a cancerização do tecido social.
A ciência criminal na sua didática realista nos ensina que é preciso estar adiante do fenômeno da violência e não correndo atrás para saneá-lo.
Neste quadro a terrível lição do Haiti serve como demanda de socorro e alerta.
*Flavio Goldberg, advogado e mestre em Direito
*Valmor Racorti, comandante do Batalhão de Operações Especiais de São Paulo