A comunicação e a cultura vêm expandindo nos últimos anos procedimentos que caracterizam a chamada "sociedade do espetáculo".
Estudiosos da matéria que vão de Elias Canetti à Marshal Mcluhan demonstram que a excitação passional é uma sedução fácil, encanta, principalmente, as pessoas, intelectualmente, pouco dotadas afetivamente, carentes.
Nesta realidade o comportamento criminoso possibilita um campo fértil de identificação tipológica com assassinos, ladrões, gângsteres que agem na contestação social violando princípios morais e consenso civilizatório.
Alguns anos atrás a exibição de terroristas muçulmanos cortando cabeças de inimigos e exibindo a execução pela televisão acabou ensejando a repetição da brutalidade sádica em muitos países, inclusive em penitenciarias brasileiras.
Ainda agora vemos pela Netflix uma série com sucesso extraordinário de audiência "Round 6" com a romantização da barbárie, bandidos como heróis.
A linguagem magica que excita nestas formulas de narrativas é o cenário de intensidade e exuberância tão escassos na cultura pasteurizada, monotemática, das linhas de produção do cotidiano contemporâneo.
O que atrai já não é mais tanto o turismo geográfico universalizado ou mesmo os esportes de luta, mas o "show" de terror que amplia cada vez mais seu campo no desrespeito à dignidade do corpo e à vida do indivíduo.
Paradoxalmente, uma indiferença pela dor alheia, o sofrimento da vítima, que se transforma num estilo mercadológico de viver.
O canalha insinuante don juanesco, conquistador de mulheres, cafetão maquiado, contrabandista com aparência de sultão, o machão que na "pegada" acaba matando a jovem indefesa, são as fotos no algum do crime-maldade que serve de roteiro a um romance, em que se esconde pedofilia até em instituições milenares, guerrilha político-ideológico, e todo gênero de artimanhas no arsenal de uma concepção alienada e esquizofrênica dos mecanismos da realidade como Polícia e Exercito, Poder Judiciário, órgãos de segurança pública que não podem ser satanizados no vácuo da organização social e comunitária.
Não existe uma zona cinzenta entre a Lei e o Crime, mas a fronteira intransponível sem a qual o império da perversidade subverte a solidariedade como tecido harmônico de progresso que harmoniza as naturais tensões intimas da contingencia humana.
*Flavio Goldberg, advogado e mestre em Direito
*Valmor Racorti, tenente-coronel, comandante do Batalhão de Operações Especiais