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O consumidor de energia quer liberdade

Por Claudio Ribeiro
Atualização:
Claudio Ribeiro. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

"Mesmo as leis bem ordenadas são impotentes diante dos costumes". Uso essa frase de Nicolau Maquiavel para começar essa reflexão sobre o momento atual do setor elétrico brasileiro.

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Todo o desenho do setor nasceu, prioritariamente, estatal e passou por um processo inacabado de privatização, o que é esperado em uma democracia, com seus fluxos e contra fluxos. Mas a verdade é que o mercado tomou um caminho de monopólios e reservas de mercado.

Há mais de 20 anos, foi criado no Brasil o mercado livre de energia que, por sua vez, ainda beneficia apenas uma pequena parcela dos consumidores. O que nos encoraja é que, nos últimos cinco anos, esse cenário começou a mudar. Vemos discussões no governo e no parlamento e decisões estratégias que podem transformar esse mercado. Transformação provocada, principalmente, pela exasperação de quem paga a conta de energia cara diante da ineficiência do nosso sistema atual.

A exemplo de outros países, o mercado brasileiro de energia passará pela liberalização. Este é um anseio da sociedade. Com mais competição, teremos mais eficiência. É um caminho inexorável.

Já estamos 20 anos atrasados. São duas décadas de menos competitividade para as empresas nacionais, de negócios desfeitos, de empregos perdidos e de uma dívida social que cresce ano após ano.

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É inadmissível estarmos atrás de países como Bolívia e Equador, e ainda sermos regidos por um ambiente tão regulado. Isso só afirma a ineficiência do nosso setor.

Como já citado em estudo desenvolvido por Vitor Ribeiro, analista da Thymos Consultoria, temos a segunda tarifa de energia mais cara do mundo, quando comparamos à renda per capita das nações. Isso acontece mesmo o Brasil tendo uma poderosa matriz de geração baseada em fontes limpas e de recursos abundantes.

Não podemos nos enganar pelo atual momento hídrico. A razão dessa eventual escassez ou encarecimento do custo da energia não é a mudança comportamental hídrica. Isso já era previsto. O que está por trás desse cenário é a falta de planejamento. É preciso pensar de forma sistêmica como viabilizar um mercado que traga benefícios tangíveis a quem interessa: o consumidor.

Estando em um mundo globalizado, nossas pequenas e médias empresas - responsáveis pela maior geração de empregos no país - ainda competem com players internacionais. Esses, por sua vez, têm preços mais competitivos por pagarem muito menos em seus insumos de produção, notadamente a tarifa de energia. Uma realidade bem diferente da nossa.

Precisamos olhar menos para o lado político e entender como a tecnologia, inteligência de dados e sustentabilidade podem beneficiar a sociedade como um todo. Devemos enxergar isso como oportunidade.

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O caminho está se abrindo. Não porque os monopólios e lobbys irão permitir. Mas, principalmente, porque a voz do consumidor está ecoando. Ele é cada dia mais consciente de que a nossa situação é atrasada e não o beneficia.

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As empresas responsáveis pelo funcionamento do mercado são ineficientes, e algumas têm uso político, com zero foco no consumidor e para atendê-lo. E é justamente ele quem paga na sua conta de energia pela falta de investimento em tecnologia e pela fonte de energia cada dia mais cara.

No meu dia a dia, percebo ainda a dificuldade da maioria dos atores do setor em pensar "fora da caixa" e entender que precisamos olhar para frente e para fora, onde o mercado livre de energia já é realidade para todos, e há muito tempo.

Em mais de 30 anos de carreira, eu me desafio a mudar a minha forma de pensar, de me vestir, de falar, de liderar. A sociedade mudou. E o setor elétrico não pode ficar para trás. Não mais!

É um processo natural que grandes corporações que não se reinventam terão seus lucros reduzidos com novos entrantes que olham para o cliente com cuidado, tecnologia e conveniência, oferecendo soluções inovadoras e benéficas. É preciso se reinventar. Urge liberalizar.

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Porque, agora, é o consumidor quem dá as cartas, quem pede, se posiciona e quem reivindica aquilo que é seu direito e sua verdade. Ele quer menos burocracia e siglas que ninguém conhece. Demanda mais informação e clareza.

Por isso, eu os convido a serem protagonistas dessa mudança, democratizando informação e o acesso à energia limpa. O Brasil, com seus mais de 86 milhões de consumidores de energia, anseia pela liberdade, e os consumidores por serem bem tratados também quando se trata do custo de energia.

Já aconteceu em outros setores como o de telecomunicação, bancário e entretenimento. Um exemplo bastante recente é o Nubank, que acaba de receber uma injeção de capital e seu valor de mercado já superou o do Banco do Brasil, que tem mais de 200 anos. Não vai ser diferente com o setor elétrico!

Que façamos essa transição de forma definitiva. As empresas do setor de energia devem investir cada vez mais em energia limpa, que é apenas um meio para entregar benefícios reais ao consumidor, com investimentos em tecnologia e nas pessoas.

O consumidor é a voz ativa que tem transformado o mercado e o mundo. No setor elétrico, ele também quer ter voz. Ou as empresas e órgãos reguladores se adequam ou o consumidor se fará ouvir na sede pela liberdade de escolha.

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É hora de agir. Porque a corrida já começou. É preciso reinventar a relação da sociedade com a energia.

*Claudio Ribeiro é diretor-presidente da 2W Energia

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