Rafael Pizzardo*
23 de maio de 2019 | 05h00
Embora ainda possua uma parcela pequena de participação no mercado de fundos como um todo, o instrumento de investimento em direitos creditórios vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil.
Os FIDC apresentaram no primeiro trimestre deste ano um forte volume de emissões, o equivalente a R$ 24,7 bilhões, segundo dados da consultoria Uqbar. Se comparado com o mesmo período do ano passado, isso representa crescimento de 125%.
Esse avanço expressivo mostra um mercado aquecido nessa frente, e uma série de fatores que vem ocorrendo nos últimos anos explicam isso.
Em cenários de movimento ainda fracos da economia brasileira, com taxas de juros em patamares minimamente históricos, é natural que haja uma busca pelo mercado de securitização. Sendo o principal veículo nesse aspecto no Brasil, os FIDCs e a tecnologia financeira vêm ganhando importância crescente no País.
Desde o seu surgimento pelo Conselho Monetário Nacional, em 2001, muitas mudanças estruturais e de regulação ocorreram. E o fortalecimento do seu caráter de segurança também deixou muitos investidores mais tranquilos. Mas ainda há muito a ser feito para expandir o volume de recursos alocados nesta categoria.
Os players de mercado e o próprio órgão regulador, na figura da Comissão de Valores Mobiliários, entendem que é preciso criar mecanismos para simplificar determinadas exigências, principalmente na ponta do custodiante e da administradora.
A autarquia deve pautar para o segundo semestre deste ano a audiência pública que vai revisar as regras dos FIDCs para discutir com mais profundidade esse tema. É sabido que hoje há um peso excessivo por parte do custodiante. Então é necessário balancear melhor os papéis das diferentes partes.
A atuação ativa do órgão regulador já vem apresentando reflexos significativos. O mercado se sente mais maduro em fazer novas emissões. De acordo com a avaliação da Anbima, os FIDCs devem crescer dois dígitos ao fim deste ano.
Ou seja, o patrimônio líquido dessa categoria de fundos deve subir dos atuais R$ 113 bilhões registrados no fim de 2018. Pontos como a expansão do investimento ao varejo e a exclusão da necessidade de um valor mínimo para aquisição de cota dos fundos foram bastante importantes para atrair demanda.
Ajuda a contribuir para o bom cenário também a questão de instituições financeiras de médio porte atuarem em nichos específicos, que muitas vezes são ignorados pelos grandes bancos. Exemplo disso foi a criação de um fundo pelo São Paulo Futebol Clube.
É o primeiro time de futebol no País a ter um FIDC. Com o avanço na fiscalização, superando o fantasma das fraudes que ocorreram no passado, muitas empresas já consideram a possibilidade de recorrer a esse instrumento.
A evolução do mercado de securitização, o amadurecimento dos players que atuam nas diferentes pontas – seja na parte custodiante, na administração ou na gestão -, somado à tecnologia financeira e à participação ativa do órgão regulador, são elementos primordiais para o fortalecimento da indústria de FIDCs.
Seguindo o otimismo, devemos observar uma expansão dos ativos captados, dos fundos emitidos e de novos players surgindo na gestão de recursos e na indústria fiduciária.
*Rafael Pizzardo é sócio-diretor da Fromtis, empresa líder em tecnologia e serviços para o segmento de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios
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