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O camelo, o buraco da agulha e o imprevisível: meu trabalho na Nasa

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Por Wanderley Abreu Jr.
Atualização:
Wanderley Abreu Jr. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Há mais de vinte anos eu invadi a Nasa. Sim, a agência espacial americana. Era moleque e hackeava de tudo e mais um pouco - inclusive um supercomputador chamado Blue Mountain do Laboratório Nacional de Los Alamos, do departamento de Energia dos Estados Unidos mais conhecido por ter sido o local em que se criou a primeira bomba atômica. Estava atrás de indícios de alienígenas. Não encontrei nada de concreto, mas fui pego e acabei por ajudar um dos centros espaciais da Nasa a testar a segurança da sua rede de computadores. De lá para cá, utilizei softwares deles em projetos da minha empresa e trabalhei em missões espaciais da Agência.

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Recentemente, me deparei com um dos grandes desafios da minha carreira: fazer parte da equipe de comunicação do projeto da Nasa que pousou o veículo Perseverance em Marte em 18 de fevereiro. Com vinte e três câmeras de altíssima resolução, a Perseverance manda toneladas de dados para a Terra. Um volume nunca transmitido antes de uma distância tão grande - para se ter uma ideia, se eu enviar um dado neste momento de Marte para a Terra ele demorará, na melhor das hipóteses, cinco minutos para fazer o trajeto e mais cinco para voltar até Marte.

Fazer com que esse sinal chegue de forma mais rápida e segura à Terra é parte do trabalho da equipe de comunicação. E para isso precisamos dividi-lo e comprimi-lo ou, como sempre digo, temos de passar um camelo pelo buraco de uma agulha. Somente assim, podemos fazer com que mais dados cheguem "rapidamente" à Terra - não é à toa que logo após o pouso da Perseverance as primeiras imagens quase que instantaneamente apareceram na mídia. Elas passaram pelo buraco da agulha. E diariamente milhares de gigabytes de informações são comprimidos e enviados através dele da Perseverance para a Terra. O sistema tem funcionado perfeitamente, o que é sempre uma alegria considerando que Marte está há pelo menos 60 milhões de quilômetros da Terra.

O que me deixa ansioso - se é que é possível ter mais ansiedade do que eu já tenho naturalmente - é refletir sobre possíveis situações imprevistas. Historicamente temos sido muito bem-sucedidos em lidar com elas. Há pouquíssimas falhas de comunicação e - devido à forma como os sistemas são projetados - elas acabam corrigidas sem grandes consequências. Agora, tenho de confessar que sempre tenho uma certa apreensão. Fico pensando: "e se...". Como engenheiro sei que não resolve nada, mas o imprevisível está aí. E torço sempre para que ele não nos visite.

*Wanderley Abreu Jr. é engenheiro mecatrônico pela PUC-RJ e fundador do Storm Group

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