Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Número 2 do Ministério do Trabalho entrega primo em depoimento após prisão

Leonardo Arantes, capturado na Operação Registro Espúrio, da Polícia Federal, disse ser inocente e comprometeu Rogério Arantes, sobrinho do líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes, também investigado

PUBLICIDADE

Por Breno Pires/BRASÍLIA
Atualização:

 Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Número 2 do Ministério do Trabalho até ser preso na Operação Registro Espúrio, na semana passada, Leonardo Arantes se disse inocente, mas comprometeu o primo Rogério Arantes ao depor pela primeira vez após a prisão e confirmar que recebeu o pedido de 'agilizar' o deferimento de um registro sindical que custaria R$ 4 milhões. Ambos são sobrinhos do líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (PTB-GO), também investigado na operação deflagrada no dia 30/5, mas alvo apenas de busca e apreensão de documentos.

PUBLICIDADE

Agora ex-secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Leonardo admitiu que Rogério lhe pediu "facilitação" para a liberação do registro do Sindicato das Pequenas e Micro Empresas de Transporte Rodoviário de Veículos Novos do estado de Goiás (Sintrave-GO).

O presidente do sindicato, Afonso Rodrigues, tinha recebido um pedido de pagamento de R$ 4 milhões para obter o registro. A propina foi solicitada pela lobista Veruska Peixoto e a negociação teve o aval de Rogério Arantes, que falou em nome do primo Leonardo. Rogério tinha cargo de diretor no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

"Que houve contato de Rogério para a facilitação do processo do SINTRAVE/GO, conforme citado pelo declarante acima, no referido almoço com Rogério, Veruska e Marcão; Que não sabe como seria dividido qualquer valor; Que não sabe quem eram os servidores da SRT que facilitavam a obtenção do registro sindical; Que não sabe a contrapartida dada e/ou prometida a esses servidores; que nunca recebeu nada de Veruska", disse Leonardo Arantes.

O depoimento não identifica o 'Marcão' citado.

Publicidade

O almoço citado no depoimento foi a ocasião em que Leonardo afirma ter sido apresentado à lobista Veruska.

Estava lá também o primo Rogério. Leonardo disse que 'na ocasião do almoço, foi solicitado por Rogério que fosse agilizada uma carta sindical, o qual o declarante não lembra o nome do sindicato'.

Leonardo disse que 'não era de responsabilidade de sua secretaria, de Políticas Públicas e de Emprego, e que não poderia ajudar'. Ele afirmou que nunca mais viu Verusa. "Contudo Rogério tocou no citado assunto em outra oportunidade, recebendo a mesma resposta", disse Leonardo, destacando que o registro sindical do Sintravego nunca foi concedido.

Ele também disse que nunca se encontrou com Afonso Rodrigues -- presidente do Sintravego e autor da denúncia inicial.

Bacharel em direito, Leonardo Arantes afirmou em depoimento jamais ter tido conhecimento de que havia propina sendo negociada para liberação desse registro e sustentou que "nunca solicitou que fosse agilizado processo". Ele admitiu que "repassava todas as demandas para os setores competentes para providências cabíveis quando solicitadas ao declarante", mas disse que pedia apenas que fosse observado o trâmite normal. No entanto, admitiu que Rogério buscou direcionar o processo sobre o Sintravego.

Publicidade

Leonardo Arantes, que estava viajando no dia da operação, foi o último a ser preso dentre os 23 alvos de mandados de prisão. A Registro Espúrio, deflagrada na quarta-feira, 30, investiga suposta organização criminosa formada por políticos, lobistas, dirigentes de sindicatos e funcionários públicos que atuavam na negociação para liberar registro sindical pelo ministério.

COM A PALAVRA, ROGÉRIO ARANTES

A reportagem não conseguiu contato com Rogério Arantes. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE LEONARDO ARANTES

"A defesa de Leonardo José Arantes, em respeito à Autoridades que investigam os fatos ligados ao Ministério do Trabalho e Emprego, não se pronunciará sobre os mesmos, mas informa que já prestou todos os esclarecimentos à Polícia Federal e ao Ministro Relator no STF, apresentando documentos demonstrando que nunca recebeu qualquer valor sem origem declarada ou ilegal."

Publicidade

"Esclarece que nunca fez qualquer pedido para que terceiros agissem em desacordo com a lei, e que em sua vida pública sempre se pautou pela ética e transparência, tanto que foi de sua iniciativa, a título de exemplo, ações que economizaram mais de 01 bilhão de reais aos cofres públicos, que criaram mecanismos para evitar fraudes ao seguro desemprego. Segue confiante na Justiça." Pedro Paulo de Medeiros, advogado

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.