Nas buscas realizadas na residência do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma) em São Paulo na Operação Omertà, 35.ª fase da Lava Jato, a Polícia Federal encontrou notas fiscais indicando que ele realizou, em um mesmo dia, três palestras para a empresa Piemonte Empreendimentos, do lobista e delator da Lava Jato Júlio Camargo.
As três notas fiscais são do dia 27 de junho de 2006 e somam R$ 55,8 mil. Três meses antes, em 27 de março daquele ano, ele deixou o Ministério da Fazenda do governo Lula.
A Piemonte foi a mesma utilizada pelo delator para pagar propinas no esquema de corrupção na Petrobrás, afirma a Lava Jato. Camargo foi um dos primeiros empresários a fechar um acordo de colaboração com a Lava Jato e admitir, por exemplo, que era pressionado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB/RJ) para pagar propinas no esquema de corrupção na Petrobrás
Documento
AS PALESTRAS DE PALOCCIA Piemonte, segundo os investigadores, foi usada para lavar o dinheiro que teria sido destinado a Cunha - preso em Curitiba - referente a contratos de navios-sonda da Petrobrás com um estaleiro representado por Camargo.
O advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto, que defende Júlio Camargo, disse que 'as palestras pagas a Palocci realmente ocorreram'.
Segundo o o advogado, todos o episódios envolvendo o delator e o ex-ministro 'não envolveram irregularidades e já foram esclarecidos às autoridades'.
No relatório, o agente da PF Antonio Chaves Garcia, responsável pelo documento, ressalta que 'cabe fazer um questionamento quanto a licitude dos recibos', em referência a todos as notas fiscais de palestras encontradas na residência do ex-ministro.
Ao todo, foram encontrados 32 recibos de palestras de Palocci para empresas que vão de bancos a loja varejista e construtoras.
As palestras eram uma das atividades do ex-ministro, que também mantinha uma empresa de consultoria - a Projeto atendia empresas de variados setores.
Tanto Palocci quanto a Projeto se tornaram alvos da Omertà após a investigação identificar a referência ao ex-ministro em trocas de e-mails da cúpula da Odebrecht por meio do codinome 'Italiano', que possuía inclusive uma planilha própria de pagamentos no 'departamento de propinas' da empreiteira.
Indiciado nesta segunda-feira, 24, por corrupção, o ex-ministro era, segundo os investigadores, um intermediador dos interesses do Grupo Odebrecht no governo federal e por isso teria recebido pagamentos de propina da ordem de R$ 128 milhões que teriam sido destinados não apenas para ele, mas para o PT e até para custear campanhas eleitorais da sigla.