Redação
14 de setembro de 2015 | 05h00
Por Mateus Coutinho, Julia Affonso e Fausto Macedo
E-mails dos executivos da Camargo Corrêa encaminhados ao Cade, órgão antitruste do governo federal, revelam que as empresas já haviam definido os vencedores das licitações de Angra 3 antes mesmo de serem apresentadas as propostas de cada um dos consórcios concorrentes UNA 3 (Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e UTC) e Angra 3 (Queiroz Galvão, Techint e EBE).
CONFIRA A ÍNTEGRA DO E-MAIL ABAIXO:
Estratégia. Inicialmente, segundo o relato da Camargo ao Cade, as empreiteiras discutam a possibilidade de cada consórcio vencer um pacote da licitação, que era dividida em dois pacotes de obras. Contudo, devido as divergências do grupo, segundo o histórico de conduta, os executivos acabaram “reformulando” a decisão e definindo que um consórcio se sagraria vencedor dos dois pacotes e abriria mão de um, já que o próprio edital vetava a possibilidade de apenas um consórcio assumir os dois pacotes licitados.
Ainda de acordo com a empreiteira, as equipes das sete empresas se uniram para fazer um estudo técnico sobre os preços a serem oferecidos “tamanha era a certeza de que o cartel seria implementado na licitação”. Posteriormente, os dois consórcios de uniram no consórcio Angramon, que dividiu os dois pacotes de obras da usina.
As trocas de e-mails são algumas das provas entregues pela Camargo no acordo de leniência e reforçam a versão dos delatores da empresa, o ex-presidente Dalton dos Santos Avancini e o ex-vice Eduardo Hermelino Leite, sobre o cartel das empreiteiras em Angra 3. Os dois delatores já foram condenados pela Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Quando procuradas sobre o acordo de leniência da Camargo Corrêa com o Cade, no começo do mês, as empreiteiras citadas no esquema negaram irregularidades e evitaram comentar sobre o acordo.
COM A PALAVRA, A QUEIROZ GALVÃO:
“A Queiroz Galvão acredita na idoneidade de todos os seus executivos e reafirma seu compromisso com a ética e a transparência. A companhia nega qualquer pagamento ilícito a agentes públicos para obtenção de contratos ou vantagens e reitera que todas as suas atividades seguem rigorosamente à legislação vigente”.
COM A PALAVRA, A ANDRADE GUTIERREZ:
Por meio de sua assessoria a empreiteira informou que não vai se manifestar sobre o caso
COM A PALAVRA, A EBE:
“A EBE Não tem nenhum executivo envolvido neste processo que está sendo apurado e nem pagou nada a ninguém. Apesar da desistência de algumas empresas do Consórcio Angramon, continuamos no firme propósito de manter o contrato assinado para a montagem de Angra 3. A EBE montou sozinha a Usina Nuclear de Angra 1 e fez parte do consórcio de empresas que montou Angra 2. A empresa tem larga experiência no setor nuclear e continua com o objetivo de honrar o contrato assinado para Angra 3.”
COM A PALAVRA, A TECHINT:
“A Techint Engenharia e Construção reitera que segue padrões internacionais de governança e observa estritamente a legislação brasileira.”
COM A PALAVRA, A ODEBRECHT:
“A Construtora Norberto Odebrecht informa que nunca participou de cartel para contratação com qualquer cliente público ou privado. A empresa não teve acesso a documentação constante do referido acordo e se manifestará nos autos do processo tão logo tenha acesso às informações em sua integralidade.”
COM A PALAVRA, A UTC:
A empreiteira informou via assessoria de imprensa que não vai se manifestar sobre o caso.
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