PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

No sítio de Atibaia, pessoal da Odebrecht não usou macacão da empresa, diz delator

Alexandrino Alencar alega que 'pela sensibilidade do processo' funcionários da empreiteira atuaram discretamente nas obras do imóvel que a Lava Jato diz ser de Lula

Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Atualização:

 

Sítio frequentado pelo ex-presidente Lula em Atibaia. Foto: Márcio Fernandes/Estadão

O executivo Alexandrino Alencar, um dos delatores da Odebrecht, relatou ao Ministério Público Federal que 'nenhum' funcionário usou macacão da empreiteira durante as obras do sítio em Atibaia, interior de São Paulo, que a Operação Lava Jato afirma pertencer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista nega ser o dono do imóvel.

"Em função da sensibilidade do processo, não houve, nenhum dos nossos funcionários usou macacão de Odebrecht e sei que as compras dos materiais foram feitas todas na região", relatou.

O Ministério Público Federal questionou qual seria a sensibilidade do processo.

"De não comprometer, vai que está o presidente Lula,... se tem uma Odebrecht, não sei. Foram cuidados que foram tomados", afirmou.

"Por instrução de alguém?", quis saber o Ministério Público Federal.

Publicidade

"Deles. Não minha, deles. Eles acharam por bem e eu acho que faz sentido tomar essa precaução", relatou.

O executivo relatou que a obra foi estimada em R$ 500 mil, mas custou R$ 1 milhão. A reforma foi entregue, contou, em 15 de janeiro de 2011.

A Odebrecht, de acordo com o delator, substitui 'o grupo de engenheiros' do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do petista, nas obras do sítio de Atibaia. Alexandrino afirmou que a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula disse a ele que estava precisando 'terminar uma reforma em um sítio'.

"A dona Marisa chegou para mim e disse assim: 'poxa, Alexandrino, vou precisar de um favor seu'. 'Diga, dona Marisa'. 'Estou precisando de terminar uma reforma em um sítio", relatou.

"Eu, nos meus contatos passados com o presidente Lula, entendi que era um sítio que ele tinha em Rio Grande da Serra, que ele tem até hoje um sítio. Mas não. Ela disse: 'não, não, peraí. O sitio é em Atibaia'. Eu digo: 'Ué, Atibaia? Não sabia disso'. Ela disse: 'É, porque o pessoal do Bumlai está fazendo esse sítio, está fazendo a obra, mas está muito lento. Nós precisávamos de alguém que conseguisse fazer para que janeiro ficasse pronto".

Publicidade

José Carlos Bumlai, pecuarista, amigo de Lula, é investigado na Lava Jato.

PUBLICIDADE

Alexandrino disse que Marisa não era uma 'interlocutora frequente'. "Não, não era, não. Eu só encontrava com ela raramente. Nesse dia, aniversário dele", afirmou.

Segundo Alexandrino, a ex-primeira-dama pediu que ele entrasse em contato 'com Aurélio, funcionário que tratava de assuntos pessoais da família do presidente Lula e que, naquele momento, era encarregado das referidas obras'.

"Cheguei em São Paulo, fui ligar para o Aurélio. 'Como é que é esse negócio?'. O Aurélio explicou que é em Atibaia. Aí foi que eu soube que o sítio era do filho do ex-prefeito de Campinas, o Jacó Bittar, companheiro dos primórdios do presidente Lula, que era um filho dele", relatou.

"Fui conversar com o Carlos Armando Pascoal, que era nosso superintendente em São Paulo: 'Carlos Armando, tem essa demanda, veja aí se você tem gente disponível para fazer e me reporte. Já conversei com Emilio (Odebrecht). Emilio já autorizou'. Eu falei e aí me recolhi aos meus outros trabalhos."

Publicidade

O Ministério Público Federal perguntou de onde saiu o dinheiro para a obra. "Não sei. De alguma contabilidade da engenharia", relatou. "Soube que eles entraram dia 15 de dezembro com o compromisso de em um mês fazer a obra, porque dia 15 de janeiro a primeira-dama queria estar no sítio. Soube por fora que foram feitos uns 3 ou 4 quartos, mexeram um pouco no lago, fizeram acho que um campo de futebol. Soube que choveu um pouco."

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE IMPRENSA DE LULA

Os procuradores da Lava Jato sabem, há mais de um ano, que o sítio frequentado pelo ex-presidente Lula em Atibaia não pertence e nunca pertenceu a ele. Os donos comprovaram a propriedade e a origem dos recursos. Sabem também que Lula não pediu nem autorizou ninguém a pedir que fossem feitas reformas no imóvel. Lula não tem nada a esconder, porque não fez nada de ilegal.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.