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'Naquela hora foi isso que eu pensei, achei que ia morrer', diz mulher agredida por PM em Curitiba

Em entrevista à reportagem do Estadão, Stephany Tauani Rodrigues, dona de uma hamburgueria, diz ter temido por sua vida; vídeo viralizado nas redes sociais mostra a abordagem policial na madrugada de sábado, 23

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Por Maria Isabel Miqueletto
Atualização:

A empresária após ser agredida e presa pela PM. Foto: arquivo pessoal

A empresária curitibana Stephany Tauani Rodrigues afirma ter temido pela sua vida ao ser presa por desacato por policiais militares na madrugada do último sábado, 23, em Curitiba. "Estava tão aterrorizada que meu medo era de que, por tudo, eles tentassem me matar. Naquela hora foi isso que eu pensei, achei que ia morrer", conta em entrevista ao Estadão. Ela foi agredida por um policial durante abordagem na rua em que está localizado seu estabelecimento, o momento em que Stephany é agredida foi gravado e viralizou nas redes sociais. Para a OAB, que pede afastamento imediato dos policiais envolvidos, houve 'exagerado e inaceitável uso da força''. O caso está sendo investigado pela PM.

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Stephany é dona de uma hamburgueria que foi fechada pelos policiais por estar com ocupação acima da capacidade permitida e por não oferecer álcool em gel. A abordagem ocorreu durante operação da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu), no bairro Cidade Industrial de Curitiba. Ao dar voz de prisão, um policial a derruba, profere xingamentos e a acerta com a boina na cabeça. A ação foi gravada por pessoas que estavam no local.

O momento em que Stephany, no chão, é agredida pelo PM. Foto: vídeo/arquivo pessoal

"Houve um momento de revolta, me deixou indignada por uma série de situações, mas o que prevaleceu foi o medo, eu não tinha a quem recorrer", relembra Stephany.

As imagens mostram que, ao ver um homem que fumava narguilé dentro de seu terreno sendo preso pelos policiais, com o portão sendo derrubado por conta da ação, a empresária se aproxima, gravando, e diz que os PMs 'passaram dos limites' e que são 'ridículos'. Ela questiona a ausência de uso de máscaras dos policiais, já que eles haviam acabado de multar seu estabelecimento por questões sanitárias relacionadas à Covid.

Ela acompanha a autuação gravando com seu celular quando um dos policiais derruba o aparelho. Ela se exalta, proferindo um xingamento aos policiais, que a derrubam logo em seguida. Ela recebeu voz de prisão por desacato.

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Confira o vídeo do momento:

No chão, ela grita que o policial está 'quebrando sua mão' e ele bate com a boina do uniforme na cabeça da empresária, profere um xingamento e puxa os cabelos dela. Ela ainda grita que o policial lhe deu um soco na boca. Em outro momento, quando ela já estava algemada, um policial a derruba no chão. Toda a ação foi gravada por pessoas que estavam no local. Ela, no chão, grita por ajuda.

"Se a minha proteção maior era a polícia, e a polícia era a causadora, eu não tinha a quem recorrer senão à população", conta Stephany, explicando a razão que a levou a postar os vídeos em suas redes sociais.  "Eu pedi pro meu esposo chamar a polícia, mas era a polícia, então eu não tinha uma proteção, não tinha o que fazer", complementa. O exame anexado ao boletim de ocorrência aponta lesões no rosto e no nariz da empresária.

Confira o vídeo do momento:

O advogado de Stephany, Igor José Ogar, diz que a abordagem foi 'irregular' e ela foi 'brutalmente agredida e ofendida'. Aponta ainda que houve seis agressões pontuais gravadas nos vídeos. "Tem muito trauma físico e psicológico, eu temo que isso nunca passe", reflete a empresária. 

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Em nota, a Polícia Militar afirma que a abordagem ocorreu "em decorrência de inúmeras denúncias e chamados sobre perturbação do sossego, uso de drogas e aglomerações em via pública com algazarra". A PM diz que vai apurar as circunstâncias do fato, que é 'um fato isolado', e ressalta que "conforme consta em boletim de ocorrência, o policial militar foi  agredido e, por isso, precisou usar de força gradativa para conter a mulher, que, inclusive, tentou impedir o encaminhamento de outra pessoa durante a ação policial".

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Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), houve 'exagerado e inaceitável uso da força contra a cidadã'. "As forças policiais devem proteger a população com segurança. É inimaginável que diligências  de índole fiscalizatória a respeito das regras sanitárias de prevenção a covid-19 evoluam para atos truculentos e violência policial contra uma mulher, notadamente diante do número de policiais que realizavam a operação, o que por si só revela a completa desnecessidade de força física", pontua o presidente da instituição, Cássio Lisandro Telles, em nota.

A PM informou que foi instaurado um procedimento interno sobre a ocorrência da Rua Raul Pompéia, que vai 'ouvir as partes envolvidas e testemunhas para levantar informações acerca do fato'.

A OAB afirmou que representará às autoridades da Polícia Militar e ao Ministério Público pelo imediato afastamento das funções dos policiais envolvidos, abertura de inquérito e adoção das sanções penais e administrativas cabíveis contra os responsáveis.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública afirma ter determinado às policias que apurem o fato ocorrido, com o 'objetivo de esclarecer e dar uma resposta à sociedade'. O prazo para conclusão dos procedimento é de 30 dias.

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A Secretaria ressalta ainda que "não coaduna com condutas que extrapolem os limites da lei e vai acompanhar o andamento das apurações".

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