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Não fuja da due diligence quando quiser atingir o pico da escalada

Por Alessandra Lucchese
Atualização:
Alessandra Lucchese. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Com frequência, a empresa que vai passar por uma Due Dilligence - seja porque está na mira para ser comprada ou para se fundir com outra operação - questiona o porquê de não servir ao mesmo propósito o resultado da sua auditoria anual, que afinal já está lá pronta muitas vezes. Faço uma comparação alegórica que pretende ajudar a entender a diferença: pense no seu checkup médico. Aquele que você deveria fazer de tempos em tempos para saber como está sua saúde de um modo geral. Nesse checkup verificamos se nosso corpo está funcionando majoritariamente "nos conformes". O exame de sangue, por exemplo, apontará estar regular se, dentro de uma determinada faixa numérica considerada padronizadamente aceitável pela ciência médica, estarem enquadrados seus números do colesterol, de triglicerídeos e da glicose. E assim por diante, outras tantas aferições por amostragem de sangue serão constatadas e relatadas no seu resultado. Nesse exame saberemos se você está burlando as regras nutricionais e mandando ver numa empadinha a ponto de afetar o seu resultado no colesterol, ou ainda investindo indevidamente em muito açúcar, contrariando todos os conselhos.

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Com os resultados do checkup em mãos, seu médico lhe recomendará o que fazer, mudar ou manter algumas coisas em sua vida, podendo inclusive prescrever um tratamento médico ou apenas lhe parabenizar pelos excelentes resultados (oremos!). Mas sejamos honestos que seguir ou não os conselhos médicos será uma decisão pessoal, assim como sabemos que arcaremos com as consequências boas ou ruins destas nossas decisões em algum momento da vida. De forma ousadamente alegórica, posso dizer então que este checkup seria o equivalente à uma auditoria da sua empresa: coleta de informações por amostragem e que dentro de margens padronizadas por uma determinada metodologia dirá se a empresa está em conformidade com a legislação a que está submetida.

Agora imagine junto comigo que nós vamos nos preparar para um evento singular em nossas vidas: vamos escalar uma montanha nevada muito alta e se alcançarmos o pico atingiremos também um elevado patamar de sucesso pessoal! Aí parceiro, você deve concordar comigo que o checkup genérico que falamos ali em cima não será o suficiente, não acha? Certamente faremos parte de uma equipe nesse desafio, e a atuação de cada um desta equipe impactará severamente no resultado do outro. Teremos que averiguar, por exemplo, em detalhes nossa capacidade cardiorrespiratória, e averiguar pensando o contexto de clima, temperatura, altura da montanha, tempo de escalada, condições da equipe, etc. Verificaremos em minúcias como nosso corpo suportará o trajeto e se comportará no pico da montanha, assim como será a estabilização da nossa saúde na volta. Exames aprofundados serão feitos e análises de riscos sobre nossa performance antes, durante e depois serão detalhadas, pois o objetivo não é só atingir o pico, a volta com boa saúde é fundamental para dar efeito duradouro a nossa conquista.

Conseguiu imaginar todo o processo? Pois aqui estamos falando da Due Dilligence. Veja que na auditoria iremos focar nas conformidades e não propriamente nos riscos, enquanto na Due Dilligence vamos intensamente investigar os riscos para chegar no valor mais real da tua empresa. Na auditoria, os resultados apresentados têm margens de interpretações flexíveis e aceitáveis, na Due Dilligence não, pois estamos falando de resultado direto na precificação da tua empresa, qualquer percentual de erro na análise pode resultar em milhões de reais errados no preço final. Lembre-se da nossa escalada ao pico, não podemos ter informações erradas ou inexatas pois o resultado da nossa Due Dilligence apontará nossas chances de êxito em sobreviver com sucesso ou de morrer na empreitada.

Se escalar uma montanha até o pico é uma oportunidade na tua vida e quer agarrá-la, não fuja, dificulte ou ignore uma Due Dilligence, o resultado te trará a segurança necessária para tomar a decisão de encarar o desafio e a que custo, assim como poderá te mostrar que precisas de mais tempo para se preparar para esse desafio.

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*Alessandra Lucchese é advogada, sócia do Becker Direito Empresarial, gestora de riscos trabalhistas e palestrante do 1.º Congresso de Compliance para Pequenas e Médias Empresas. Ela participará do painel sobre Due Dilligence no dia 28 de janeiro, às 15h, ao lado de Soraya Salomão

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