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Nada mais urgente do que o clima

Por José Renato Nalini
Atualização:
José Renato Nalini. FOTO: ALEX SILVA/ESTADÃO Foto: Estadão

O maior desafio, o maior perigo, o maior risco posto na trajetória da humanidade no século 21 é o aquecimento global, causador das alterações climáticas. O historiador Neil Ferguson, que escreveu o livro "Catástrofe - uma História dos Desastres, das Guerras às Pandemias- E o nosso fracasso em aprender como lidar com eles", acha que é um exagero pensar no clima e deixar de lado a possibilidade de uma guerra entre EUA e China.

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É uma espécie de negacionismo que acomete inclusive pseudo-cientistas, com expertise em clima e meio ambiente, que juram ser este o melhor dos mundos. Chegam a sustentar que o Brasil tem mais área verde do que o total de seu território. Manipulação a serviço de quem é insensível em relação ao desmatamento desbragado, aos incêndios provocados por quem extermina o futuro, que não se comove com o novo genocídio dos índios que restam. Suas áreas invadidas, ocupadas por garimpeiros criminosos, que favorecem a cadeia do ouro desde a extração até o consumidor final, nos sofisticados mercados europeus.

Não é verdade que epidemia cause mais mortes em pouquíssimo tempo e que as consequências do maltrato à natureza só produzirão efeitos daqui a algumas décadas. Não é isso o que estamos assistindo. Não bastou o fenômeno das tempestades de areia no interior de São Paulo, reproduzindo ocorrências típicas de regiões desérticas? Não foi suficiente exibir ao mundo o espetáculo de um pantanal em chamas?

A própria pandemia tem uma concausa nas modificações do clima. E se não houver imediato freio à política de eliminação da floresta, seguida de replantio das milhões de árvores que faltam ao Brasil, outras pandemias virão. Isto já tem sido anunciado pelos cientistas. Não é delírio, mas é realidade. Delirante é acreditar que Estados Unidos e China, com o poderio nuclear de que dispõem, se aventurarão em uma guerra que acabaria com a humanidade antes mesmo do cataclismo gerado pela insanidade em relação à natureza.

Como negar que de 1970 a 2019, dois milhões de pessoas morreram em virtude de eventos climáticos extremos? Nada representa o fato de que a ocorrência de tais eventos se multiplicou por cinco nesse período?

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Estou mais é com pensadores como Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, que exorta o Brasil a reassumir uma liderança que jogou no lixo, ao tratar o ambiente como assunto não prioritário. A pauta ambiental é, com certeza, a mais importante no momento e deveria sensibilizar toda a população. É o ser humano que sofrerá com os impactos gerados por sua inconsequência e ignorância!

Não precisamos nos ater apenas na região Amazônica, embora ela seja imprescindível para o regime de chuvas aqui no Sudeste. Mas a nossa exuberante Mata Atlântica, um dos biomas protegidos pela Constituição, perdeu dez milhões de hectares entre 1985 e 2020. É um bioma exuberante e a caminho da extinção. Por inúmeras causas. Especulação imobiliária, sobretudo no litoral. Formação de pasto, para criar gado - o Brasil tem mais cabeças bovinas do que humanas. E ninguém parece prestar atenção a uma verdade incontornável: o gás metano produzido pela flatulência e pela digestão bovina, é pior do que o CO2 gerado pelos combustíveis fósseis dos automotores.

A população já está sofrendo consequências dolorosas e concretas do desmatamento. A crise hídrica não é senão produto do desflorestamento. A eliminação da cobertura vegetal faz desaparecer os pequenos cursos d'água, que alimentam aqueles que abastecem os reservatórios, dos quais nos servimos para nos dessedentar.

É preciso convencer as pessoas - todas elas - a serem semeadores, plantadores de árvores, cuidadores das florestas. Não é por "simpatia" à causa ecológica. Não é fundamentalismo ambientalista. É por necessidade de sobrevivência. Se o aquecimento global continuar nesse ritmo, o Brasil continuará a sofrer efeitos danosos, os quais já experimenta, como perda de capacidade de produção agrícola resultante de estiagens prolongadas. Chuvas fortes, que destroem habitações, derrubam árvores e postes, interrompem o fornecimento de energia elétrica e de comunicações, serão a cada vez mais frequentes.

Ao contrário de tal panorama desalentador, seria milagre acreditar que o Brasil passe a se valer dos trilhões de dólares disponíveis para investimentos verdes, leve a sério a cultura ESG, faça um replantio geral para recompor as chagas abertas, restaurar os pastos abandonados, sem a necessidade de se derrubar uma só árvore a mais, para mitigar - ao menos - os deletérios efeitos da estupidez humana.

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Reitere-se: nada mais urgente do que o clima! O resto é conversa mole de negacionistas que acreditam nas teorias conspiratórias, índice da ignorância que tomou conta do mundo.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2021-2022

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