Presidente de uma das maiores empreiteiras do País, em 2014, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, foi apresentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um "vendedor" de imóveis, ao relatar sua versão ao juiz federal Sérgio Moro, sobre o emblemático tríplex 164-A, do Edifício Solaris, no Guarujá (SP).
"O Léo esteve no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento dos normais e o tríplex. Eu fui lá ver o apartamento, coloquei 500 defeitos no apartamento, não voltei e nunca mais conversei com Léo sobre o apartamento", afirmou Lula, ao ser questionado se já visitou um dia o imóvel, que ele afirma não ser o dono.
O Ministério Público Federal imputa prática de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro - pena prevista de até 22 anos de prisão, se condenado. A ampliação, reforma e decoração de um tríplex, no Guarujá (SP), e o custeio do armazenamento de bens, de 2011 a 2016, seriam "benesses" dadas ao petista, em troca de negócios na Petrobrás.
"Quem foi junto?", perguntou Moro, que ouviu Lula, o último réu do processo a ser interrogado - passada essa fase, as partes (acusação e defesas) têm prazo para suas alegações finais e depois o juiz dá sua sentença.
"Eu e minha mulher", respondeu Lula. O ex-presidente atribuiu à ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro, o interesse no triplex.
Em outras ocasiões, Lula afirmou que o triplex no Guarujá, com 215 metros quadrados de área, "era pequeno".
Em 4 de março, no Aeroporto de Congonhas, em meio a um clima de forte tensão, quando foi conduzido coercitivamente para depor alvo da Operação Alethea, na 24ª fase da Lava Jato.
"Quando eu fui a primeira vez, eu disse ao Léo que o prédio era inadequado porque além de ser pequeno, um triplex de 215 metros é um triplex 'Minha Casa, Minha Vida', era pequeno."
Dia D. Frente a frente como Moro pela primeira vez como réu da Lava Jato, em Curitiba, o ex-presidente foi questionado sobre o conteúdo da conversa com Léo Pinheiro, então presidente da OAS, uma das maiores empreiteiras do País.
"O Léo estava querendo vender o apartamento. O senhor sabe como todo e qualquer vendedor, quer vender de qualquer jeito. Não sei se o doutor já procurou uma casa para comprar para saber como que o vendedor faz"
Lula admitiu que em fevereiro de 2014, um mês antes de ser deflagrada a Lava Jato, esteve com Léo Pinheiro no Guarujá para visitar o imóvel, junto com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro.
A versão contada por Léo Pinheiro, em juízo, há 10 dias, é outra. Candidato a delator da Lava Jato, pela segunda vez, o ex-presidente da OAS contou que em 2009 foi procurado pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para que a empreiteira assumisse a obras do edifício, que era da Bancoop e estava quebrando.
Léo Pinheiro contou a Moro, como réu nesse processo, no dia 20 de abril, que só comprou os prédios da Bancoop no Guarujá porque Vaccari e Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, indicaram a importância do negócio por ter no local uma unidade da família de Lula.
O ex-presidente da OAS confessou que o triplex, apesar de estar em nome da empresa, era de Lula e foi reformado atendendo seus interesses e pedidos.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em 2017) assinou Termo de Adesão e Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu 'uma cota-parte para a implantação do empreendimento então denominado Mar Cantábrico', atual Solaris, em abril de 2005.
Em 2009, a OAS adquiriu o empreendimento da Bancoop. Segundo a defesa de Lula, a ex-primeira-dama não exerceu a opção de compra após a OAS assumir o imóvel. Em 2015, Marisa Letícia pediu a restituição dos valores colocados no empreendimento.
Segundo Léo Pinheiro, que tenta um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, o custo das reformas do triplex 164-A, do Edifício Solaris, foi abatido de um acerto de R$ 15 milhões da OAS com o PT.
"Levei esses créditos e esses débitos. Levei o que a OAS estava devendo por conta desses pagamentos de vantagens indevidas ao PT naquele momento, o que estava atrasado e que ainda ia acontecer. E os custos dos empreendimentos que estávamos fazendo, desses passíveis ocultos, e mais os custos do tríplex e do sítio", afirmou Léo Pinheiro, ouvido como réu nesta ação penal.
"A OAS pagava, primeiro, porque é uma regra de mercado. Tinha sido estabelecido que em alguns mercados àquela época existiria contribuição de 1% para o Partido dos Trabalhadores e que o gerenciamento disso seria feito pelos tesoureiros do partido", afirmou Léo Pinheiro.
Léo Pinheiro explicou que a OAS comprou o Edifício Solaris no Guarujá, em 2009, da Bancoop - que estava em falência - a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Apesar da falta de interesse comercial no empreendimento, ainda em construção, Vaccari teria orientado a compra por envolver um imóvel de Lula. O negócio foi referendado posteriormente pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto.
Para a Lava Jato, a aquisição do empreendimento pela OAS, em 2009, da Bancoop, e a reforma do apartamento foi propina da empreiteira para o ex-presidente.
Além de Lula, são réus nessa ação penal Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, Paulo Gordilho, arquiteto e ex-executivo da OAS, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, ex-executivo da OAS, Fábio Hori Yonamine, ex-presidente da OAS Investimentos e Roberto Moreira Ferreira, ligado à OAS.
A ação do tríplex é a primeira aberta por Moro contra Lula, no dia 19 de setembro de 2016. Em três anos de investigação, a Lava Jato descobriu que partidos da base aliada - PT, PMDB e PP - comandaria diretorias da Petrobrás, por meio das quais, desviavam de 1% a 3% em propinas de contratos fechados com empreiteiras cartelizadas.