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Na pandemia: time, treino e jogo no campo da política

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Por Rodrigo Augusto Prando
Atualização:
Rodrigo Augusto Prando. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Há pouco (22/4), deu-se entrevista do governo de São Paulo para anunciar o "Plano São Paulo" cujo objetivo é o de, a partir do dia 11/5/2020, retomar a abertura da economia paulista, mas de forma gradual, heterogênea e segura. No primeiro momento, as informações ficam a cargo do Governador, João Doria, que enfatizou que, em São Paulo, não houve "lockdown" como em outros países e isso não se deu por conta das medidas terem sido tomada no tempo certo e à luz da ciência e da medicina e do apoio da população e da opinião pública. E, na sequência, a palavra é repassada à sua equipe: Rodrigo Garcia, vice-governador; José Henrique Germann, Sec. de Saúde, Patrícia Ellen, sec. de Desenvolvimento Econômico; Ana Clara Abrão, economista; Henrique Meirelles, sec. da Fazenda; Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã; David Uip, infectologista e coordenador do Comitê de Saúde (Centro de Contigência da Covid-19).

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Logo no início de 2019, afirmei, em entrevistas e artigos, que Doria não montava um simples secretariado e sim um "secretariado ministerial", dado os nomes relevantes que apresentava e, dentre estes, Henrique Meirelles que, 2018, concorreu à Presidência. Simbolicamente, o fato de Meirelles ter aceito participar no governo Doria tem o sentido de indicar que estes atores políticos miram, sim, a disputa de 2022 e se preparam para ela.

Na referida entrevista, todos falaram de forma clara, objetiva e ilustraram suas ideias e ações com tabelas, gráficos e textos curtos a fim de que a imprensa e a sociedade possam acompanhar e compreender. Dois destaques, para não se alongar: Meirelles e Dimas Covas. Meirelles fez questão de indicar que o estado de São Paulo já apresentou, em 2019, um crescimento três vezes maior (2,8%) que média do crescimento nacional, que foi de 0,9% e, ainda, que os instrumentos macroeconômicos que o governo estadual tem a disposição são e serão usados na tentativa de mitigar os danos da pandemia e da retomada pós-pandemia. Já Dimas Covas, indicou que conseguiu-se concluir os cerca de 17 mil exames que aguardavam resultado para covid-19 e apresentou, até agora, 36,7 mil exames em todo estado. Doria fez questão de destacar que a meta foi cumprida e um dia antes do previsto.

É comum usar, metaforicamente, o futebol para a lógica do poder político e da ação governamental. Num jogo, é primordial um técnico com visão do conjunto e das especificidades de seus atletas e entendimento das várias táticas possíveis dentro do campo. Contudo, ter uma equipe com talentos individuais não forma, necessariamente, um time coeso e competitivo. Para isso, faz-se necessário muito treino e, já faz parte do universo cultural futebolístico, a máxima de que "treino é treino e jogo é jogo". Quantos bons jogadores ou times que, no campeonato ou, especialmente, numa final, "amarelaram", ou seja, tiveram um medo bloqueando suas potencialidades? Exemplos não faltam. Muitas vezes há técnicos que são renomados, mas não conseguem coordenar o seu time. Na política, há a diferença entre chefiar e liderar. O chefe manda e os subordinados obedecem com medo. O chefe precisa de cargo. Em contrapartida, o líder ao invés de mandar, coordena, dialoga, convence, aponta caminhos e vai junto. O líder é capaz de liderar sem necessidade de cargos. Portanto, liderar - seja no futebol ou na política - é bem mais complexo e difícil do que chefiar.

Doria, hoje, frente à pandemia, credencia-se como líder e, metaforicamente, tem um Barcelona à sua disposição. Bolsonaro, em Brasília, perde espaço político e está à frente do Ibis. É cedo, ainda, para apontar que, ao final e ao cabo da pandemia, Doria sairá fortalecido e Bolsonaro enfraquecido. Na leitura do cenário, como, por exemplo, discurso, ação e equipe, o time de Doria vem fazendo um ótimo primeiro tempo, com placar já muito favorável. Ganhará o campeonato? Dependerá da avaliação do eleitor.

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*Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp de Araraquara

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