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Mulheres e Meninas na Ciência

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Por Elisângela Farias-Silva
Atualização:

Elisângela Farias-Silva. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O Dia Internacional das Mulheres e das Meninas na Ciência foi criado em Assembleia-Geral da Organizações das Nações Unidas (ONU), em dezembro de 2015, para celebrar o fórum inaugural que deu origem à ideia original, ocorrido no dia 11 de fevereiro do mesmo ano. O objetivo daquele encontro foi reconhecer o papel fundamental que mulheres e meninas desempenham na ciência e na tecnologia1.

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Ressaltar o protagonismo das mulheres e das meninas nos dias de hoje parece trivial, em cenário pandêmico, onde o sequenciamento do genoma do SARS-Cov-2 foi realizado por equipe de pesquisadores nacionais e internacionais (das Universidades de São Paulo e de Oxford e do Instituto Adolfo Lutz), tendo como destaque Jaqueline Góes e Ester Sabino. Em tempo recorde: 48 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 em São Paulo2.

Do universo microscópio ao espacial: mesmo antes de ingressar no curso de medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP), Verena Paccola, fez inscrição - e foi selecionada - no programa Caça-Asteroide da NASA e do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Após treinamento online para saber como analisar uma sequência de imagens no universo, Verena, em meio aos estudos preparatórios para o vestibular, enviava relatórios para os organizadores brasileiros do programa, que os encaminhavam à Universidade de Harvard. Nos EUA, os relatórios eram reavaliados para a confirmação (ou exclusão) da identificação do asteroide. Foram 25 asteroides descobertos por Verena Paccola3.

Frente a essas notoriedades científicas, a participação feminina no campo científico parece mesmo trivial e abrangente, mas - infelizmente - não é. De acordo com a UNESCO, em pleno século XXI, apenas 33% dos pesquisadores são mulheres, apesar de representarem 45% e 55% dos alunos nos níveis de bacharelado e mestrado, respectivamente, e 44% dos matriculados em programas de doutorado4.

Em análise feita pela equipe de inteligência em pesquisa da Elsevier, mesmo com número muito inferior aos homens, as mulheres têm maior representatividade na área de Ciências Biológicas e da Saúde. Nas ciências exatas, o número de mulheres corresponde a menos de 25% dos pesquisadores. A participação global de mulheres entre os inventores listados em pedidos de patentes permanece fortemente sub-representada, com índice inferior a 15%.5

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Os números referentes ao prêmio Nobel, apogeu da honraria científica denotam a supremacia masculina: desde sua origem, em 1901, quando passou a ser entregue, apenas 59 mulheres alcançaram a renomada láurea, correspondendo a um pouco mais de 6% de todos os 975 premiados6. São referências científicas: Charles Darwin, Isaac Newton e Albert Einstein; na atualidade: Neil Degrasse Tyson e Richard Dawkins. Marie Curie vem com muita luta, dividindo protagonismo.

E a pergunta que não quer calar: quais são os fatores que contribuem para a sub-representatividade da mulher na carreira científica no mundo todo? Pois bem, esse também é o título de uma revisão bibliográfica sistemática, que verifica, extrai e combina resultados de outros estudos para responder uma das questões de gênero que intriga a comunidade científica, especialmente a feminina. De acordo com Beatrice Avolio e colaboradores (2020)7, a revisão da literatura científica apresenta fatores interconectados e que contribuem para a sub-representatividade das mulheres na ciência, podendo ser agrupados em: individuais, familiares, sociais, educacionais e econômicos.

Desde livros didáticos e desenhos animados até às telenovelas, há sempre uma maior associação do cientista com a figura masculina, contribuindo para que as meninas deixem de construir uma identidade com a pesquisa. Trata-se, portanto, de questão complexa, multicausal e abrangente, que perpassa a linha tênue entre oportunidade, apoio em vários momentos, além dos fatores que influenciam a admissão, a participação e a progressão das mulheres na ciência.

No entanto, a força feminina, a despeito dos fatores que insistem e persistem em colocar as mulheres como coadjuvantes na ciência, segue no propósito de contrariar todas as estatísticas em prol do conhecimento científico e tecnológico. Ana Gabryele Moreira, natural de Salvador (BA), é um exemplo inspirador disso. Mestranda da USP, é a primeira brasileira preta, periférica e cotista a receber o Prêmio Marie Curie da Agência Internacional de Energia Atômica8. Orgulho? Mais que isso: representatividade de muitas meninas e mulheres brasileiras. E é esse posicionamento e atitude que se espera e que se vê nas muitas mulheres fortes, nos esforços que instituições como a Ânima fazem para celebrar a diversidade e reconhecer ativamente a importância da igualdade e equidade de gênero na educação, na ciência e na tecnologia.

Que o Dia Internacional das Mulheres e das Meninas na Ciência seja cada vez mais amplamente divulgado, para espaço, visibilidade e reconhecimento. E a mudança já está acontecendo. Então, lute como uma cientista.

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1. https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/news/international-day-women-and-girls-science 2. https://agencia.fapesp.br/premio-ester-sabino-para-mulheres-cientistas-e-lancado-em-sao-paulo/35418/ 3. https://www.fmrp.usp.br/pb/arquivos/10240 4. https://www.unwomen.org/en/news/in-focus/international-day-of-women-and-girls-in-science 5. https://www.nobelpeaceprize.org/laureates/ 6. https://www.elsevier.com/__data/assets/pdf_file/0008/265661/ElsevierGenderReport_final_for-web.pdf 7. https://link.springer.com/article/10.1007/s11218-020-09558-y 8. https://www.geledes.org.br/estudante-da-usp-e-primeira-brasileira-preta-premiada-com-bolsa-de-agencia-nuclear-internacional/

*Elisângela Farias-Silva é graduada em Ciências Biológicas - Modalidade Médica, mestre e doutora na área de Fisiologia, pós-doutorado em Farmacologia e Biologia Vascular. Professora da Universidade São Judas e coordenadora regional/SP da Área de Ciências Biológicas e da Saúde da Ânima

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