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Muito juízo, Brasil!

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Por José Renato Nalini
Atualização:
José Renato Nalini. FOTO: ALEX SILVA/ESTADÃO Foto: Estadão

O Brasil é o país que tem a maior carga tributária de toda a América Latina e Caribe. Chega a 33% do PIB, o que é um exagero atroz e comprometedor do futuro. Também é o país que tem o Estado mais inflado e perdulário que se conhece. A máquina estatal é faminta de tributos, voraz na sua cobrança, ademais burocrática e antieconômica e pífia na devolução de serviços públicos. Os tributos pagos pelos desprovidos de quase tudo sustentam autocracias cujo interesse é produzir sua própria perpetuidade.

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Além disso, o orçamento estatal é todo engessado, em todos os níveis. Hoje, no âmbito federal, 94% dele é engessado com despesas obrigatórias, muitas previstas no próprio pacto federativo que, segundo um Presidente da República, tornou o Brasil ingovernável.

Portanto, apenas 6% do orçamento da União são aparentemente destinados a aplicação discricionária. Só que não são exatamente utilizáveis segundo a opção do governante. São reservados ao pagamento de pessoal, à satisfação das despesas de utilidade pública e de outros gastos inevitáveis.

O Estado tentacular não é eficiente. Que o digam a educação, a saúde, o saneamento básico, a segurança pública e infraestrutura, cotejados com o quase nenhum avanço em ciência e tecnologia.

Já passou da hora de reduzir o tamanho do Estado. Estado é meio e não fim. Foi previsto como etapa transitória, até que a sociedade chegasse a um estágio civilizatório em que não fossem necessários esquemas de força, para que o convívio fosse decente, respeitoso e harmônico. Quanto menos Estado, melhor para o povo.

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O pacto federativo prestigiou a livre iniciativa, enfatizou os direitos fundamentais e nada indica ser necessário um Estado onipotente para que os humanos possam exercitar a sua vocação ínsita, no rumo da perfectibilidade. Porque isso parece mais distante a cada dia?

Tudo se reduz ou converge para a falta de qualidade da educação brasileira. Nada indica uma revolução no anacronismo dos métodos e sistemas escolares ainda vigentes. Ancorados numa única realidade: fazer o alunado decorar informações desatualizadas, quando ele já consegue obtê-las atualizadas instantaneamente, mediante o manuseio de qualquer bugiganga eletrônica.

Nem tudo está perdido, contudo.

Há muita lucidez no Brasil, porque a inteligência não se resigna a observar os limites impostos pelo obscurantismo, pela ignorância vigente e pela falta de respeito em relação ao ser humano, realidades tão evidentes, mas que muita gente aparentemente escolarizada se recusa a enxergar.

Essa elite intelectual precisa cuidar da educação, algo muito sério para se deixar exclusivamente a critério do governo. Cada brasileiro consciente precisa assumir a responsabilidade de educar. Educar o iletrado, educar o analfabeto funcional, alfabetizar o analfabeto digital.

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As grandes empresas precisam investir mais em educação, não destinando recursos para o Estado, mas promovendo elas mesmas os projetos de preparação das novas gerações para os desafios do futuro.

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As Igrejas, em lugar de enfatizar uma compartimentação que as torna adversárias de outras confissões ou de verdadeiras seitas dentro de uma única religião, devem se preocupar com a educação e fazer com que seus fiéis também se preocupem com isso.

Clubes, entidades, associações, instituições, todo o Terceiro Setor precisa participar dessa cruzada. Enquanto o Brasil não tiver uma elite intelectual afinada com as urgências da Quarta Revolução Industrial, continuará a estar na rabeira do mundo.

Um ponto que foi negligenciado e no qual se verifica vistoso fracasso é a educação ambiental. Pese embora prevista na Constituição, provida de normatividade que mereceria cursos especiais para formar defensores da natureza, não parece implicar em formação de uma consciência ecológica. Tanto que a nação assiste, entre inerte e estupefata, à destruição da Amazônia, ao desmanche das estruturas protetivas, ao envenenamento das águas com o garimpo ilegal, ao extermínio do Pantanal, do cerrado e da Mata Atlântica.

Essa vertente colocara o Brasil na vanguarda planetária. Hoje é o país considerado o maior inimigo do meio ambiente e acelerador das mudanças climáticas que farão desaparecer a vida da face deste pequeno e sacrificado planeta.

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Educação é o que resolveria esse e todos os demais graves, persistentes e escandalosos problemas brasileiros. Encará-los com olhos fitos na realidade, sem tergiversar nem negar a evidência, faria com que o capital estrangeiro, ávido por segurança, voltasse a produzir benéficos efeitos nesta terra tão pródiga em tesouros naturais.

Ainda é tempo de reverter, se houver juízo. Mas esse é outro ingrediente de cuja falta o Brasil parece padecer. Muito juízo, brasileiros de bem. Vocês é que poderão mudar o aflitivo quadro, que assusta - e com razão - os que ainda não perderam o discernimento.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2019-2020

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