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MPF denuncia reitor da UFSC por 'ofensa' a delegada da PF

Segundo o Ministério Público Federal em Santa Catarina, Ubaldo Cesar Balthazar se 'omitiu' diante de protesto que envolveu faixas com a foto de Érika Marena, que conduziu a Operação Ouvidos Moucos

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Por Túlio Kruse
Atualização:

Reprodução de trecho da denúncia 

O Ministério Público Federal em Santa Catarina apresentou denúncia contra o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ubaldo Cesar Balthazar, e o professor Áureo Mafra de Moraes. Eles são acusados de ofender a "honra funcional" da delegada federal Érika Marena, responsável pela Operação Ouvidos Moucos, que investigou supostos desvios na instituição e resultou na prisão do então reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo.

Cancellier cometeu suicídio poucos dias após o cárcere temporário.

A denúncia foi motivada por uma faixa confeccionada por "manifestantes não identificados" e exibida em uma cerimônia em dezembro de 2017. A cerimônia em questão comemorava a fixação de um quadro com a foto de Cancellier, morto dois meses antes, na galeria de ex-reitores da universidade.

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Documento

DENÚNCIA

Na faixa, há um foto da delegada e o título "As faces do Abuso de Poder", além dos dizeres: "Agentes públicos que praticaram Abuso de Poder e que levou ao suicídio do Reitor. Pela apuração e punição dos envolvidos e reparação dos malfeitos".

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Balthazar presidiu a cerimônia e é acusado de ter se omitido diante da manifestação. O MPF diz, na denúncia, que era responsabilidade do reitor ter coibido o protesto, exercendo "poder de polícia administrativo", e pedido a retirada da faixa.

"Ao omitir-se de seu dever jurídico, o acusado atribuiu para si autoria da injúria ali perpetrada, não sendo relevante que não tenha sido ele quem tenha produzido a faixa ou determinado sua exposição durante tal cerimônia oficial da Universidade", diz o MPF na denúncia.

Já o professor Áureo responde por ter consentido em deixar-se fotografar e filmar em frente à faixa. O MPF entendeu que os protestos ganharam "caráter oficial" ao aparecer em um vídeo da TV UFSC, na qual o professor aparece falando em frente a um microfone. Áureo foi chefe de gabinete do reitor Cancellier.

Tanto Balthazar quanto Áureo prestaram depoimento às autoridades antes de a denúncia ser oferecida. O reitor disse que não leu os conteúdo da faixa e apenas se lembra de que havia algumas fotos no material. O MPF diz na denúncia que a versão é inverossímil. Ele disse ainda que a faixa não estava no local no início da cerimônia. Nos autos, o professor também é citado ao dizer que não tem responsabilidade pelo fato de o protesto ter aparecido em vídeo.

O procurador Marco Aurélio Dutra Aydos, autor da denúncia, pede R$ 15 mil em compensação por dano moral. A quantia é um valor mínimo estimado pela própria delegada, segundo o documento. Em nota, o MPF diz que o procurador responsável pela denúncia não dará entrevistas sobre o caso por motivo de "segurança institucional". Segundo o professor Áureo, os acusados não receberam a denúncia e não devem se manifestar antes de serem formalmente notificados.

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Morte. Cancellier morreu após se jogar do sétimo andar de um shopping na região central de Florianópolis. Em seu bolso, havia um bilhete com a frase: "Minha morte foi decretada quando fui banido da universidade". Desde então, houve diversas manifestações na universidade contra a atuação da PF na Operação Ouvidos Moucos.

As investigações começaram a partir de suspeitas de desvio no uso de recursos públicos em cursos de Educação à Distância oferecidos pelo programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) na Federal de Santa Catarina. Repasses que totalizam cerca de R$ 80 milhões foram investigados na operação.

Cancellier foi preso, segundo a PF, por supostamente ter tentado barrar investigações internas sobre o caso e deixado de tomar medidas para coibir problemas na fiscalização de recursos.

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