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Moro crava que Bolsonaro queria mesmo interferir na PF e insiste na divulgação do vídeo da reunião ministerial

Em nota divulgada neste sábado, 16, defesa do ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública faz alusão à rotina sem sustos do GSI, revelada pelo jornal Nacional da TV Globo,, contrastando com a versão do presidente de que estava irritado com eventuais falhas na segurança de seus familiares no Rio

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Foto do author Pepita Ortega
Por Fausto Macedo e Pepita Ortega
Atualização:

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, durante anúncio de saída do governo Bolsonaro. Foto: Gabriela Biló / Estadão

A revelação sobre trocas na equipe do Gabinete de Segurança Institucional antes da abrupta sucessão de mudanças na Polícia Federal e de sua própria renúncia deu munição para o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro reforçar a acusação de tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. A defesa do ex-ministro diz que os 'fatos levam à inevitável conclusão' de que a manifestação de Bolsonaro na reunião ministerial de 22 de abril, sobre a troca na 'segurança do Rio', se refere à Superintendência da Polícia Federal fluminense.

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O advogado do ex-ministro da Justiça, Rodrigo Sánchez Rios, diz ainda que 'aguarda respeitosamente' a divulgação do vídeo da reunião no Palácio do Planalto - peça chave do inquérito Moro contra Bolsonaro - na qual, segundo ele, 'as intenções das alterações na Polícia Federal ficarão ainda mais evidenciadas'. Ao Supremo, Moro pediu que fosse divulgada a íntegra do vídeo, 'como verdadeira lição cívica'. A decisão final pelo levantamento do sigilo será tomada pelo ministro Celso de Mello na próxima semana.

Em nota divulgada neste sábado, 16, Moro faz alusão à reportagem do jornal Nacional da TV Globo exibida nesta sexta, 15, que revelou que o presidente não enfrentou problemas para fazer mudanças no GSI, colocando em xeque, versão de Bolsonaro de que estava agastado com sua segurança pessoal - missão do gabinete - e que não se referia à PF quando reclamou na reunião ministerial.

"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", disse Bolsonaro na reunião, conforme transcrição encaminhada ao Supremo pela Advocacia-Geral da União (AGU).

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Segundo relatos de pessoas que assistiram ao vídeo, o presidente chamou a superintendência da Polícia Federal no Rio de 'segurança no Rio'. Bolsonaro alega, por outro lado, que se referia à sua segurança pessoal, que é feita pelo Gabinete de Segurança Institucional.

A defesa de Moro argumenta que a revelação sobre as trocas no GSI demonstra que 'nunca houve por parte do presidente da República qualquer insatisfação com o serviço de segurança pessoal que lhe era prestado ou a seus familiares no Rio de Janeiro, tampouco qualquer dificuldade para realizar substituições na área, já que os responsáveis foram, logo antes da reunião ministerial do dia 22/04/2020, promovidos ou substituídos'.

"Os fatos levam à inevitável conclusão de que a manifestação do Sr. Presidente na referida reunião ministerial, de que precisaria interferir na "segurança do RJ" e se necessário trocar o "chefe" ou o "Ministro" para evitar prejuízos a "familiares e amigos", dizia mesmo respeito à Superintendência da Polícia Federal no RJ, ao Diretor Geral da PF, e ao Ministro da Justiça, aliás todos substituídos nos dias seguintes à reunião", registra o texto assinado advogado Rodrigo Sánchez Rios, que defende o ex-ministro.

Rios destaca ainda que as declarações do presidente devem ser associadas à mensagem enviada por Bolsonaro à Moro às vésperas da demissão do ex-ministro. Imagens de diálogo no whastapp mostram que no dia 23 de abril Bolsonaro envia a Moro o link de uma notícia do portal O Antagonista, com a manchete: PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas. "Mais um motivo para a troca", diz o presidente. A matéria faz referência ao inquérito das fake news, conduzido no Supremo Tribunal Federal.

As duas portarias e o decreto que põem em xeque a versão de Bolsonaro

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Conforme revelado pelo Jornal Nacional, em 26 de março, quase um mês antes da reunião de abril, o general André Laranja Sá Correa - então diretor do Departamento de Segurança Presidencial do GSI - foi promovido por Bolsonaro para exercer o cargo de Comandante da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada.

A direção do Departamento de Segurança Presidencial acabou ficando com o então adjunto, Gustavo Suarez, promovido ao cargo titular da repartição.

Uma terceira troca envolvendo a segurança pessoal do presidente ocorreu no Rio de Janeiro. Uma portaria de 28 de fevereiro, dois meses antes da reunião ministerial de abril, colocou o tenente coronel Rodrigo Garcia Otto para exercer a função de chefe no escritório de representação no Rio de Janeiro da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI.

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