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Mobilidade urbana como instrumento de desigualdade social

Por Alysson Coimbra
Atualização:
Alysson Coimbra. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Mais que reduzir o tempo dos deslocamentos e incrementar o transporte e os espaços públicos para pedestres e ciclistas, o planejamento adequado da mobilidade urbana pode ser um valioso instrumento de inclusão social e auxiliar na redução das desigualdades. Da mesma forma, se for negligenciada, pode reforçar os abismos sociais que deixam o Brasil ainda mais distante do caminho do desenvolvimento pleno.

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Pesquisas feitas por entidades sérias, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostram que a população de menor renda é ainda a que mais sofre com os problemas de mobilidade urbana. Segundo estudo do IPEA, essa realidade revela que os investimentos em vias e transportes são feitos de forma a beneficiar quem tem automóveis e mora perto do local de trabalho.

Priorizar investimentos em transporte individual em detrimento do coletivo produz distorções que limitam o alcance das populações periféricas ao transporte de qualidade e a serviços importantes, que geralmente se localizam em áreas distantes do local de moradia daqueles que mais necessitam, promovendo uma segregação invisível de oportunidades.

Segundo estudo do IPEA, os mais pobres gastam quase 20% a mais de tempo do que os mais ricos no deslocamento para o trabalho. Essa desigualdade, além de impactar na qualidade de vida, reduz a produtividade e impede, por exemplo, que uma significativa parcela da população possa se dedicar à busca de qualificação profissional, perpetuando um ciclo de desigualdade.

Investir em transporte público inclusivo e sustentável, e no deslocamento coletivo é essencial para que minimamente se busque a equiparação de acesso a serviços e oportunidades pelos mais vulneráveis.

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O custo do deslocamento no Brasil é muito alto. Quando isso se associa à falta de planejamento e integração de rotas, inviabiliza que milhões de brasileiros tenham acesso a cultura, saúde e emprego, por exemplo. Precisamos buscar ações rápidas que diminuam esse abismo social, pensando as cidades e a mobilidade de uma forma inclusiva para todos. Enquanto privilegiarmos carros e as regiões mais ricas no planejamento urbano, segregaremos a maior parte da população, justamente a que precisa de atenção maior do poder público.

Ciclo vicioso

A tarifa do transporte público é calculada pela divisão do custo do sistema pela quantidade total de passageiros. Com o aumento de 331% da frota de carros e motos entre 2001 e 2020, houve uma queda brusca no número de usuários do sistema público: em 2018, a quantidade diária de passageiros transportados por veículo era cerca de 60% do registrado na década de 1990.

Quando se prioriza o transporte individual, o preço das tarifas cresce e, com ele, amplia-se a desigualdade, na medida em que se nega a uma parcela da população o acesso à saúde, educação, cultura e emprego.

*Alysson Coimbra, diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra)

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