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Mobilidade e política pública em tempo de coronavírus

Por Carolina Louzada Petrarca
Atualização:
Carolina Louzada Petrarca. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A pandemia da covid-19 veio como uma avalanche sem dar tempo de reação e trazendo, infelizmente, muitas mortes e perdas econômicas que ainda não podem ser mensuradas. O cenário é de guerra. Se olharmos de cima, vai parecer que tudo está parado, um ambiente desolador. Mas na medida em que nos aproximamos, a vida continua. Existem milhões de pessoas que simplesmente não podem seguir a quarentena e ficar em casa durante as 24 horas do dia. São profissionais de serviços essenciais, em sua maioria, que precisam sair de casa como os soldados na guerra para vencer o inimigo.

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Muito tem se falado na mídia e nas redes sociais sobre os impactos da pandemia em empresas, grupos econômicos e na população que é mais afetada pela falta de recursos pra se manter e pela dificuldade de quem precisa estar na rua para vender seu produto, buscar seu sustento. Parte dessas pessoas precisa se locomover. E a necessidade de locomoção precisa estar caminhando passo a passo com a segurança para mitigar ao máximo o risco de contaminação.

É aí que entra o transporte público. O serviço é essencial, como determina a Constituição de 1988, e é papel do Estado garantir que o transporte público seja regular e tenha continuidade. E mais: 80% dos brasileiros dependem do transporte público. Esse dado, por si, já deixa clara a necessidade de que as políticas públicas sejam voltadas para amparar e garantir a oferta do serviço. E para que isso seja possível, é necessário aliar boa vontade de empresas e governantes.

Em tempos de calamidade como a que estamos vivendo, é preciso intensificar o transporte público e não o contrário. No final das contas, com planejamento e políticas públicas adequadas, o transporte público será peça fundamental para permitir que a economia de alguma forma ainda siga. É pelo transporte público que profissionais de saúde, trabalhadores do ramo alimentício, de segurança, entre tantos outros que são fundamentais, vão chegar ao seu destino e cumprir a importante missão de não deixar um país parar totalmente.

Os gestores precisam ter isso em mente, mesmo que não entendam de transporte ou de economia. É possível manter o transporte e evitar aglomerações. É isso que estamos fazendo na capital do Brasil. Brasília manteve sua frota nas ruas, permitindo que as pessoas que necessitam sair de casa o façam com segurança e respeitando as normas do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde. Tudo isso com sacrifício das empresas e apoio do poder público: política pública na veia.

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A mobilidade urbana é fator estruturante. É dela a causa e consequência do desenvolvimento econômico e social das cidades. É a partir dela que se define a expansão urbana e a localização das atividades dentro de qualquer cidade. É uma rede complexa, que passa pela infraestrutura urbana e vai até os mecanismos de gestão estratégica das cidades. Tudo está interligado. Desde as calçadas para pessoas se locomoverem até a sinalização de trânsito, tudo faz parte desse complexo sistema que precisa ser estruturado para garantir a toda e qualquer pessoa a garantia de deslocamento no espaço urbano. Enfim, a mobilidade urbana deve ser uma política de Estado não dependendo de quem é o governante do momento. E deve estar integrada à gestão urbanística de maneira sustentável sob o ponto de vista econômico, social e ambiental. Só a partir daí teremos equidade e condições adequadas para a população ter seu direito constitucional garantido. País rico não é aquele no qual o pobre pode comprar carro, mas é aquele em que o rico usa transporte público!

*Carolina Louzada Petrarca é presidente da Associação das Empresas de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (DFmob)

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