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Microcrédito: uma saída honrosa para a crise

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Por Mariane Carneiro da Cunha
Atualização:
Mariane Carneiro da Cunha. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A pandemia trouxe prejuízos significativos para a economia. Empresas acumularam dívidas, fecharam as portas e ficaram sem saída para seguir adiante com seus empreendimentos. A situação é ainda mais dramática para os pequenos negócios, que geralmente não contam com reserva financeira. Diante desse cenário de caos e aperto, o microcrédito é uma alternativa fundamental para socorrer os empreendedores e dar sobrevida a milhares de negócios, que geram emprego e renda e ajudar a movimentar a economia.

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Nesse cenário de pandemia, estudos comprovam que as mulheres empreendedoras foram as mais afetadas. Segundo pesquisa realizada pelo banco Goldman Sachs em 37 países, 12% das brasileiras donas de pequenos negócios dizem ter encerrado de forma permanente as atividades. O número é elevado quando comparado à média global, que é de apenas 3%. A falta de perspectivas e oportunidades para recomeçar causa pânico.

Hoje somos - e eu me incluo nesta estatística - metade dos empreendedores do país. Muitas por necessidade, é verdade. Mas vemos um contingente cada vez maior de mulheres que escolhem ter o próprio negócio. Empreender requer criatividade, flexibilidade e, acima de tudo, resiliência. No entanto, nos falta apoio, incentivo e estímulo para que a confiança necessária ao jogo nos permita ir além.

Qual é o ponto desta reflexão?

O empreendedorismo feminino tem sido largamente debatido nos tempos mais recentes, com grandes iniciativas na direção de preparar e capacitar mulheres para esta grande e arriscada aventura, que é criar e gerir o próprio negócio. Entretanto, sabemos que aquilo que realmente nos falta é a chance de transformar planos e projetos em realidade.

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Vejo que um dos principais problemas é a falta de crédito - sem qualquer duplo sentido. Mais que uma questão de gênero, tornar o crédito acessível às mulheres é uma transformadora ferramenta de inclusão socioeconômica. Geramos renda, emprego e somos também provedoras de nossas famílias.

É importante ressaltar que já existe uma legislação para destinar recursos ao microcrédito. O Programa Nacional do Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) prevê que até 2% do total dos depósitos compulsórios sejam destinados a este fim. Atualmente, há cerca de R$ 8 bilhões disponíveis para pequenos negócios, mas que são pouco utilizados. Isso porque as principais instituições financeiras privadas não se interessam em oferecer o microcrédito, uma vez que os juros da modalidade são baixos e proporcionam menor rentabilidade.

Por isso, defendo a criação de um programa único de microcrédito, coordenado e regulamentado pelo Banco Central, para que todas as instituições financeiras possam oferecer condições favoráveis e equânimes ao empreendedorismo feminino. É necessário demonstrar aos players das grandes instituições financeiras que, quanto maior o número de pessoas com acesso a linhas de crédito, maior será o contingente de bancarizados. Como consequência, essa parcela da população poderá adquirir novos produtos e serviços, ampliando os resultados destas mesmas instituições.

Acredito que o ambiente de negócios das mulheres possa se transformar extraordinariamente se aliarmos as iniciativas de capacitação, mentorias, educação financeira e tecnológica ao acesso a crédito.

O microcrédito é a porta de saída da crise. Sem assistencialismo, mas proporcionando uma oportunidade concreta para dar o primeiro passo em direção ao sonho de empreender. Em muitos casos, R$ 1 mil ou R$ 2 mil não fariam grande diferença nos orçamentos mensais. Entretanto, esses valores podem transformar vidas e mudar a realidade de muitas mulheres.

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Um excelente exemplo que comprova essa tese foi a iniciativa do professor Muhammad Yunus que, em 1976, plantou a semente do que viria a ser o Grameen Bank, o programa de incentivo às mulheres da zona rural da Índia. É a mais ampla e bem-sucedida alternativa de promoção de desenvolvimento responsável que temos notícia em relação às mulheres. Com carteira de empréstimos de cerca de US$ 24 bilhões e 97% de clientes do público feminino.

Portanto, entendo que, neste momento, o microcrédito deve ser visto tanto como auxílio, quanto como oportunidade. Afinal, todas as iniciativas empenhadas em não permitir que a fome cause tanto ou mais danos que o vírus, são louváveis e bem-vindas.  É só organizar os termos. Se houver disposição e o entendimento da grandeza de resultados possíveis, certamente podemos nos tornar referência.

Vamos tentar?

*Mariane Carneiro da Cunha, empreendedora, fundadora da AH!SIM e idealizadora do Movimento Expansão, pelo fortalecimento do empreendedorismo feminino através da expansão do microcrédito

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