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'Meus agressores acham que vão me parar', reage Erika Hilton, ameaçada por email de ser 'esfaqueada e degolada'

Primeira vereadora trans da Câmara Municipal de São Paulo vive a rotina de novas ameaças de morte e registra boletim de ocorrência no 1º Distrito Policial da Capital

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Por Jayanne Rodrigues
Atualização:

Matéria atualizada às 20h24 para depoimento da vereadora Erika Hilton

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"Satanás do inferno" e "traveco". Estes foram alguns dos xingamentos direcionados à vereadora Erika Hilton, 29, (PSOL). As ameaças foram enviadas por e-mail. Após o ocorrido, a parlamentar decidiu registrar boletim de ocorrência e oferecer representação criminal contra a autora dos ataques, que ainda não foi identificada. Além das ofensas, a acusada também ameaçou esfaquear, degolar Hilton e atear fogo na residência e no corpo da vereadora. "Estou incomodando porque o meu corpo e  a minha política são projetos de revolução", disse Hilton em entrevista ao Estadão.

Apesar do medo que sente, ela contou que não está nos planos dar um passo para trás ou desistir das causas que defende. "O único mal que eu cometi foi ter sido eleita. Porque a partir daí, o ódio que a sociedade sente do meu corpo se intensificaram", relatou. "Mas eu me sinto forte para continuar". No e-mail, de teor transfóbico e racista, a investigada disparou: "eu garanto que você vai morrer".

Registrado no dia 23 de fevereiro, no boletim de ocorrência a que este jornal teve acesso, Erika afirmou estar se "sentindo extremamente agredida, ofendida, ameaçada e com medo. Gostaria que o autor(a) do email seja responsabilizado". 

"Você nunca deveria nem ter sido parido de sua mãe", escreveu a suspeita. Pioneira na Câmara Municipal de São Paulo, sendo a primeira mulher transgênero a ocupar uma cadeira na casa, a vereadora já foi alvo de transfobia em outras situações.

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Com mais de 50 mil votos, Hilton foi a mulher mais bem votada de São Paulo nas eleições de 2020. Foto: Taba Benedicto/ Estadão

No Instagram, a parlamentar lamentou que desde o início do mandato é alvo de ameaças. "Não posso receber amigos em casa, não posso ir ao supermercado sozinha, estou sempre acompanhada por seguranças e carro oficial", desabafou.

Mesmo com a sequência de ataques virtuais, Hilton afirmou não temer. "Meus agressores acham que vão me parar, eles estão enganados. Seguirei firme", escreveu na publicação. Outras autoridades políticas se manifestaram em apoio à parlamentar. Manuela D'ávila, ex-deputada estadual do Rio Grande do Sul, disse em sua conta oficial do Twitter que é "preciso proteger nossas mulheres eleitas".

Na tarde desta quinta-feira, 10, durante a CPI da Violência contra Pessoas Trans e Travestis, Erika fez um pronunciamento sobre as ameaças que sofreu. Veja o vídeo:

 

O autor das mensagens ameaçadoras não está identificado. A primeira suspeita é que seria uma mulher, mas a verdadeira identidade do agressor só poderá ser descoberta quando a Polícia fizer rastreamento pericial nas correspondências.

Ao Estadão, a assessoria jurídica da vereadora comunicou que a Câmara Municipal disponibiliza um carro oficial e designou dois Guardas Municipais para a segurança de Erika desde quando um homem tentou invadir o gabinete dela no início de 2021. Este mesmo acusado cometeu outro crime contra a parlamentar. Através do Twitter, proferiu ofensas racistas e discriminatórias. O Ministério Público enviou a denúncia para a Justiça que abriu inquérito para o caso. Agora o investigado responde a um processo criminal que pode alcançar até cinco anos de reclusão.

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Sobre as mudanças que precisou fazer na rotina por motivos de segurança, hoje a parlamentar diz se sentir mais segura, mesmo que para isso tenha privado a sua liberdade, conforme relatou. "Eu não levo a mesma vida que outros parlamentares. É uma sensação que, às vezes, me incomoda profundamente porque eu era uma menina livre e jovem. E agora tenho receio de ir até na esquina de casa".

Para blindar possíveis ataques, as redes sociais da vereadora são monitoradas 24h por dia. Caso seja identificada alguma ameaça, o corpo jurídico exige das plataformas a quebra do sigilo. Em casos mais graves, é solicitada abertura de inquérito policial, como foi desta última vez. "Nós não vamos nos amedrontar. Nós não vamos nos silenciar a nenhuma tentativa de corte ao nosso corpo e a nossa agenda política", ressaltou Hilton. 

 

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