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Mensagens de delator com Chico Rodrigues apontam articulação que levou à queda de secretário de Saúde de Roraima, diz PF

André Garcês foi exonerado um dia depois de tentar demitir seu adjunto, Francisco Monteiro Neto, que estaria dando 'total apoio' às demandas do senador no Estado

Por Paulo Roberto Netto , Rayssa Motta/SÃO PAULO e Breno Pires/BRASÍLIA
Atualização:

Trocas de mensagens obtidas pela Polícia Federal entre o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) e um delator do esquema de desvios da Saúde de Roraima indicam que o parlamentar trabalhou em uma articulação que levou à queda do ex-secretário de Saúde do Estado, Allan Garcês, em fevereiro deste ano.

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A saída ocorreu um dia depois de Garcês anunciar que iria exonerar seu adjunto, Francisco Monteiro Neto, que é apontado nas conversas como uma pessoa que 'está dando total apoio' às demandas do senador.

Além disso, buscas da PF na residência de Chico Rodrigues encontraram um fluxograma relacionado à mudança de comando na Secretaria de Saúde e a compra de respiradores, com setas apontadas para o valor de '1.800.000'. A aquisição dos equipamentos levaria à queda de Monteiro Neto da pasta da Saúde, em maio.

As mensagens foram obtidas no celular do delator Francisvaldo de Melo Paixão, que atuou na liberação de verbas no combate à pandemia de covid-19. Em conversa datada do dia 14 de fevereiro, ele relata a Chico Rodrigues que Allan Garcês exonerou 'nosso secretário Monteiro, quem está dando total apoio às suas demandas'. No dia seguinte, quem foi exonerado foi o próprio Allan Garcês e Monteiro Neto foi reinstituído no governo como secretário de Saúde.

Francisvaldo parabenizou Chico Rodrigues: 'Parabéns pela articulação pela continuidade do Secretário Monteiro. Agiu certo no momento correto. Os servidores da Sesau (Secretária de Saúde) sabem que o senhor teve peso nesse momento'.

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Francisco Monteiro Neto permaneceu na chefia da Secretária de Saúde até o início de maio, quando foi exonerado pelo governador Antonio Denarium (PSL). Sua saída ocorreu na esteira da polêmica aquisição de 30 respiradores em valor que supera R$ 6 milhões - o montante foi pago antes mesmo dos equipamentos serem recebidos pelo governo.

"Mister se faz salientar que a influência exercida pelo senador Chico Rodrigues dentro da SESAU teria sido tão grande que, um dia depois que Francisvaldo o procura para pedir ajuda com a exoneração de Francisco Monteiro, o então Secretário de Saúde, Allan Quadros Garcês, foi exonerado e, em seu lugar, assumiu Francisco Monteiro Neto", apontou a PF.

O senador Chico Rodrigues (DEM-RR), ex-vice-líder do governo Jair Bolsonaro. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Segundo a corporação, diálogos entre Francisvaldo e Chico Rodrigues apontam para 'fortes indícios de que este parlamentar teria grande influência no governo de Roraima'. Apesar de ser servidor do governo estadual, responsável pela destinação das emendas parlamentares no combate da pandemia, Francisvaldo tratava o senador como 'chefe' em uma conversa com a dona de uma empresa investigada por vender máscaras 26 vezes mais caras que o custo.

A proximidade também foi destacada em outra conversa entre Francisvaldo e Chico Rodrigues uma semana antes da exoneração de Allan Garcês. À época, ele relatou ao senador ter receio de ser exonerado pelo secretário, dizendo que 'hoje somente eu trabalho com suas emendas'. Para a PF, a mensagem seria indício de que o servidor atuava como um 'aliado' de Chico Rodrigues.

"Preciso de sua ajuda aqui na gestão com esse novo secretário... pois ele pode querer mudar minha função", relatou o delator, ao que Chico Rodrigues respondeu: "Chance dele mudar ZERO".

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As trocas de mensagens embasaram a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, que afastou Chico Rodrigues do cargo por 121 dias. A liminar foi revista após o parlamentar tirar uma licença nesta terça, 20. O parlamentar foi alvo de buscas da Polícia Federal em inquérito que apura desvios de verbas do combate à covid-19. Durante a diligência, Chico Rodrigues tentou esconder R$ 33 mil na cueca.

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Em vídeo, o senador disse que agiu 'por impulso'. "Por que guardei o dinheiro? Nunca tinha sido acordado pela polícia. Acordei em meio a pessoas estranhas em meu quarto. Em um ato de impulso, protegi o dinheiro do pagamento das pessoas que trabalham comigo. Se levassem esse dinheiro, ninguém iria receber nessa semana", afirmou.

COM A PALAVRA, O SENADOR CHICO RODRIGUESA reportagem enviou uma série de perguntas ao senador Chico Rodrigues e à sua defesa sobre as informações do inquérito. Em resposta, os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso e Yasmin Handar disseram que 'o Senador Chico Rodrigues dialoga, diuturnamente, no âmbito de suas funções, com políticos, servidores públicos, empresários e outros profissionais com as mais diversas pautas e demandas referentes ao Estado de Roraima'.

"O Senador jamais intercedeu indevidamente em prol de qualquer interesse privado no âmbito de contratações no Estado de Roraima ou em qualquer outro órgão. As investigações irão provar que ele não cometeu qualquer irregularidade no exercício de suas funções. O Senador está à disposição das autoridades para esclarecer quaisquer dúvidas a respeito dos fatos em apuração", disse a defesa.

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