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Mendonça pede vista e suspende julgamento de recursos em inquéritos que incomodam Bolsonaro

Ministro indicado pelo presidente ao Supremo quer mais tempo para analisar autos de investigações remetidos ao plenário virtual da Corte; dois dos inquéritos atingem diretamente Bolsonaro, um que atribui ao chefe do Executivo suposta violação de sigilo e outro que mira declarações do presidente sobre a pandemia, entre elas a que ligou vacina da covid à Aids

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Por Pepita Ortega
Atualização:

STF rejeitou ação de magistrados contra trecho da Lei Maria da Penha que dispensa mandado judicial para resgatar vítima de violência doméstica. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu o julgamento de uma série de recursos apresentados no âmbito de inquéritos que incomodam e atingem o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Os casos são relatados pelo ministro Alexandre de Moraes, magistrado que é alvo de ataques do chefe do Executivo e de sua base aliada e toma posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral na terça-feira, 16.

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Segundo ministro indicado por Bolsonaro à corte máxima, Mendonça pediu vista - mais tempo para análise - dos processos que foram remetidos ao Plenário virtual do Supremo - ferramenta que permite que os integrantes do tribunal depositem seus votos à distância. A sessão de julgamentos teve início na madrugada desta sexta-feira, 12, e teria previsão de terminar no dia 19.

Dos 20 recursos que seriam analisados pelo STF - e agora não tem data para voltar à discussão no Plenário - nove questionavam decisões dadas no âmbito do inquérito das fake news e oito foram apresentados no inquérito que investigou 'ilícita incitação da população, por meio das redes sociais, a praticar atos criminosos, violentos e atentatórios ao Estado Democrático de Direito' durante o 7 de Setembro de 2021.

Segundo lista divulgada pelo Supremo, os recursos no bojo do inquérito das fake news envolvem questionamentos de plataformas - Twitter e Facebook - contra decisões de bloqueios de perfis, como no caso do deputado Daniel Silveira, e ainda impugnações feitas por aliados de Bolsonaro que são alvos da apuração. O empresário Luciano Hang recorreu de decisão de bloqueio de perfis e de despacho que indeferiu fornecimento de cópias de documentos. Já a deputada Bia Kicis questionou decisão que negou pedido de levantamento de sigilo dos autos. O empresário Oscar Fakhoury apresentou recurso contra despacho que negou pedidos de fornecimento de cópia de documentos, de desbloqueio de redes sociais e de arquivamento da investigação.

Já os temas que seria discutidos nos autos da investigação sobre os atos de 7 de Setembro de 2021 estão ligados majoritariamente a recursos de redes sociais - Twitter, Facebook e Google - contra bloqueio de perfis. Há ainda um questionamento do deputado Otoni de Paula contra decisão que manteve medida de suspensão das redes sociais e de restituição dos bens apreendidos.

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Também constavam na pauta de discussões dos ministros outros dois recursos de teor público - um apresentado no âmbito do inquérito que apurou suposta violação de sigilo do presidente com a divulgação de apuração da Polícia Federal e outro no bojo da investigação sobre as declarações de Bolsonaro sobre a pandemia da covid-19, como a que o chefe do Executivo ligou a vacina contra a doença à Aids.

Dos recursos apresentados em investigações com autos sem sigilo, um foi apresentado pelo presidente, questionando o acolhimento de notícia-crime impetrada pelo Tribunal Superior Eleitoral contra Bolsonaro, com a consequente abertura de apuração contra o chefe do Executivo. Em tal inquérito, a Polícia Federal disse ter visto 'atuação direta, voluntária e consciente' do presidente na prática do crime de violação de sigilo funcional. Já a Procuradoria-Geral da República defende o arquivamento das apurações.

Em tal processo, Bolsonaro pediu reconsideração da decisão que mandou a PF abrir o inquérito alegando 'ausência de justa causa'. Alexandre de Moraes votou por negar o pedido, ressaltando que Bolsonaro divulgou os dados de inquérito sigiloso da PF com o 'objetivo de expandir a narrativa fraudulenta que se estabelece contra o processo eleitoral brasileiro, com objetivo de tumultuá-lo, dificultá-lo, frustrá-lo ou impedi-lo, atribuindo-lhe, sem quaisquer provas ou indícios, caráter duvidoso acerca de sua lisura'.

Já o outro recurso cuja análise foi sobrestada foi ajuizado pela Procuradoria-Geral da República, questionando decisão de abertura de inquérito em razão das declarações de Bolsonaro sobre a pandemia. O Ministério Público Federal alegou que a apuração foi aberta a partir de notícia-crime da CPI da Covid, sustentando que a comissão não teria legitimidade para pedir a investigação.

Alexandre defendeu negar o recurso da PGR destacando que o órgão 'não apresentou qualquer argumento minimamente apto a desconstituir entendimento' da decisão questionada. O ministro ressaltou que o inquérito está tramitando regularmente, sendo que foi prorrogado por 60 dias em decisão dada no dia 9 de junho, 'de modo que deve se aguardar o decorrer das investigações para a análise das questões incidentais trazidas pela Procuradoria-Geral da República'.

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Mendonça não pediu vista de apenas um processo, no qual um terceiro pede para figurar como 'amigo da corte' nos autos da investigação que apura as declarações de Bolsonaro sobre a pandemia, entre elas a que o chefe do Executivo ligou a vacina contra a doença à Aids. O pedido de ingresso como parte no inquérito foi negado por Alexandre, que votou por não conhecer o recurso sobrepesando 'os ganhos reduzidos que o ingresso do postulante traria à causa e os riscos à funcionalidade e à celeridade processuais'.

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