Cassio Grinberg*
25 de junho de 2022 | 06h00
Cassio Grinberg. FOTO: DIVULGAÇÃO
O que Lego, Best Buy, Campbell Soup, Gap, Target, Gatorade, NeimanMarcus, Nordstrom, Apple, Warby Parker, Dyson, Dunkin, Disney, Lululemon e Peloton têm em comum?
São marcas que, em algum momento de sua trajetória, desaprenderam. E, com isso, puderam se reposicionar e — em alguns casos — inclusive se reerguer, transformando não apenas a si mesmas, mas à própria indústria da qual fazem parte.
Passei, recentemente, um temporada nos Estados Unidos reunindo material para meu próximo livro e documentando, em vídeo, minha experiência com cada uma dessas marcas — e com outras que já estão reinventando seus mercados. E o que percebi foi um ponto comum convergente associado a essa capacidade de desaprender e se abrir para o novo: a habilidade de desapegar de crenças; da maneira como as coisas vinham sendo feitas.
Nos anos 1980, a Gap liquidou o estoque de 400 lojas e se reposicionou a partir da compra de mercadorias melhores. Em 2017, quando todo o varejo migrava para o digital, a Target vendeu 130 lojas no Canadá e investiu US$ 7 bilhões em reformas de lojas nos Estados Unidos. Em 2010, a Gatorade, então desposicionada, abriu mão de vender para todos, e focou em vender principalmente para os esportistas, seu público original.
Nos anos 1970, depois das negativas de muitos investidores, James Dyson criou um aspirador sem saco e hoje fabrica o secador de cabelos mais moderno do mundo. Em 2012, quatro jovens cansados de perderem óculos e pagarem uma fortuna para repô-los, criaram a Warby Parker e redesenharam a indústria vendendo on-line e dando um óculos de graça para quem não pode pagar. (E depois estenderam a experiência para o varejo físico, com as lojas mais lindas nas quais eu já entrei). Em 2018, a Dunkin’ Donuts abriu mão do Donuts e virou só Dunkin (DNKN), focando na experiência de café e relegitimando o direito de vender… as rosquinhas.
A história dos movimentos dessas marcas nos inspira a incorporar o desaprender em nossas estratégias. Entendendo que desapegar de crenças significa estar em movimento, acompanhando, reagindo e, quem sabe, até antecipando a mudança em cujo trem a gente precisa, bem cedo, embarcar.
*Cassio Grinberg, consultor de estratégia e autor do livro Desaprenda
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