500 mil!
E todos os dias,
minhas mãos costuram mais um pedaço de pano
a essa mortalha que parece não ter fim...
Minhas mãos,
tecelãs por natureza,
instrumentos perfeitos de semeadura de pão
e de sonhos,
a cada dia são chamadas a fiar,
aumentando esse sudário da fina cambraia
que há de agasalhar os milhares de corpos
que tombam cansados e sozinhos...
Essa mortalha é urdida por todos nós,
que sós,
ainda que sem voz,
continuamos a missão atroz
de unir as pontas desses tempos inflexíveis.
Na costura de nossas dores,
sejamos Penélopes
a desmanchar a trama todas as noites,
na silenciosa espera do retorno do amor.
Sem voz,
mas não sem lágrimas;
sem ar,
mas não sem coração!
*Janice Vargas de Carvalho Linhares, advogada em MS e servidora pública federal.