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'Malandro num dá bobeira'

Ex-executivo da Petrobrás César Joaquim Rodrigues da Silva, o 'Dehl', ou 'Flipper', ou 'Golfinho', caiu no grampo da Operação Sem Limites, fase 57 da Lava Jato; ele teria sido beneficiário de propinas milionárias de gigantes do petróleo internacional que faziam negócios com a maior estatal brasileira

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt/SÃO PAULO e Jamil Chade/SUÍÇA
Atualização:
 

E-mails de executivos e ex-funcionários da Petrobrás indicaram à Operação Sem Limites, fase 57 da Lava Jato, deflagrada nesta quarta-feira, 5, a movimentação de US$ 31 milhões em propinas. As mensagens, segundo a PF, apontaram a participação de funcionários da estatal ligados à Diretoria de Abastecimento em um esquema de corrupção na área de trading de produtos da estatal.

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RELATÓRIO E-MAILS

A Sem Limites mira também potências do mercado internacional do petróleo como Vitol, Trafigura e Glencore, grupos com faturamento superior ao da maior estatal brasileira. Segundo os investigadores, as empresas usavam o grupo formado pelos intermediadores Luiz Eduardo Loureiro Andrade, Carlos Henrique Nogueira Herz e Bo Hans Vilhelm Ljungberg para interceder negócios de trading junto a executivos da Petrobrás.

O inquérito aponta que as trading companies corrompiam funcionários da Petrobrás, 'e com isso a estatal vendia um produto por um preço mais baixo que o justo e comprava a um preço mais alto que o justo'. O valor da comissão paga, com parte repassada a executivos da Petrobrás, era denominado pelo grupo como 'Delta'.

Uma troca de e-mails analisada pela PF ocorreu em 25 de setembro de 2011. Segundos investigadores, estes e-mails reforçam 'o vínculo criminoso' e também 'a divisão ordenada de tarefas entre os integrantes do grupo criminoso'.

Suspeito de receber propinas, Carlos Roberto Martins Barbosa, ex-gerente da área de Marketing e Comercialização da Petrobrás, escreveu a três interlocutores, sob o codinome 'Phill'.

O executivo se dirigiu a Rodrigo Berkowitz, funcionário da Petrobrás ligado à área de trading de codinome 'Robson Santos', a Luiz Eduardo Loureiro Andrade, o 'Tiger', operador de propina, e César da Silva, o 'Dehl Phin', ex- funcionário do Marketing da estatal.

"Cada um de nós tem um papel dentro do processo e todos são igualmente importantes para o todo: quem joga na ponta e na retaguarda. Às vezes, coisas que nós nem percebemos no dia a dia estão sendo feitas nos bastidores em prol de todos", escreveu Martins Barbosa.

"Esse ano ainda tivemos a felicidade de conhecer o Tiger que abriu novas perspectivas para o nosso trabalho com a sua bagagem profissional e credibilidade."

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Em outro trecho, Berkowitz escreve aos mesmos interlocutores. "Quando aceitei o convite para esta missão, graças ao convite do Phill, imaginei que estava diante de uma grande oportunidade, mas nunca imaginaria que seria tão boa", afirmou. "Tenho muita gratidão ao Phill por ter confiado em mim, ao Golfinho que se dedica muito ao nosso trabalho diariamente e sempre me ajuda quando pode e ao Tigre que mudou nossa perspectiva de ganho com os novos parceiros e tenho certeza que vamos trazer a Trafi pro nosso lado."

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Uma terceira mensagem destacada pela PF foi enviada por César da Silva a Martins Barbosa. O 'Phill' havia dito que 'Dehl Phin' estava 'no paraíso'. "Longe da panela de pressão daqui."

Na resposta, César da Silva escreveu. "Sim senhor, chefe. A gente tamos pra fazê o melhor possível, porque malandro num dá bobeira. Fico daqui só imaginando a cara do morcego, rindo à toa, sem conseguir disfarçar."

Por ordem da juíza Gabriela Hardt, da 13.ª Vara Federal de Curitiba, que autorizou a deflagração da Operação Sem Limites, foram presos Marcus Antônio Pacheco Alcoforado, ex-empregado da Petrobrás e ex-gerente da área de marketing e comercialização, Carlos Henrique Nogueira Herz, operador de propina, Márcio Pinto de Magalhães, representante da Trafigura no Brasil, Gustavo Buffara Bueno, advogado, André Luiz dos Santos Pazza, funcionário do escritório de advocacia, e Paulo César Pereira Berkowitz, pai do funcionário da Petrobrás Rodrigo Garcia Berkowitz.

Martins Barbosa, ex-gerente da Área de Marketing e Comercialização da Petrobrás, não foi preso 'por circunstância excepcionais'. O executivo está internado há 3 dias em um hospital no Rio. A juíza autorizou, após apresentação de laudo médico, que o mandado não seja cumprido enquanto se mantiver o quadro clínico.

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A reportagem está tentando contato com os citados. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A DEFESA

Procurada pela reportagem do Estado, a Trafigura indicou que 'não comenta assuntos legais' e disse não ter nada a dizer ao ser questionado se foi alvo de buscas também na Suíça. A Glencore indicou também que, por enquanto, não teria nada a dizer.

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