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Magistrados saem em defesa de Alexandre, classificam pedido de impeachment como 'ataque frontal' de Bolsonaro e cobram do Senado reação à 'tentativa de rompimento da ordem democrática'

Renata Gil e Eduardo André Brandão, presidentes da Associação dos Magistrados Brasileiros e da Associação dos Juízes Federais, as duas maiores e influentes entidades da classe, defendem independência da toga

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Foto do author Fausto Macedo
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:

O presidente da República Jair Bolsonaro. Foto: Dida Sampaio/Estadão

As maiores e mais influentes entidades representativas da magistratura no País, a Associação dos Magistrados Brasileiros e a Associação dos Juízes Federais do Brasil, saíram em defesa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, classificando o pedido de impeachment do magistrado - encaminhado ao Senado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, 20 - como um 'ataque frontal à independência e à harmonia entre os Poderes'.

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"Temos a certeza de que as instituições - em especial, o Senado Federal - saberão reagir a toda e qualquer tentativa de rompimento do Estado de Direito e da ordem democrática", ressaltaram as entidades em nota divulgada neste sábado, 21.

No texto, a AMB e a Ajufe dizem que as decisões judiciais devem ser contestadas no âmbito do próprio Judiciário e 'jamais por meio de instrumentos políticos.

As entidades frisaram que os despachos dados por Alexandre de Moraes estão relacionados a 'sua independência funcional', um 'valor constitucional instituído como proteção da sociedade'. A nota é assinada pelos presidentes das associações, Renata Gil e Eduardo André Brandão, respectivamente.

Em sintonia com a AMB e a AJUFE, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) afirmou que pedidos de impeachment contra ministros do STF promovidos por integrantes de outro Poder 'infringem de forma visceral' a Constituição 'quando têm por verdadeiro intuito ameaçar e coagir o Poder Judiciário'.

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"No sistema de repartição e cooperação entre os poderes da República eleva-se a função de impor limites a qualquer cidadão que, por motivos pessoais, vendeta ou convicções violentas, pretendam se subtrair ao cumprimento da lei. Confiamos que o Senado Federal saberá repor o comportamento doloso de investigados, acusados e profanadores do regime de cooperação e interdependência entre os Poderes da República, aos trilhos estreitos da legalidade e ao leito da convivência pacífica e harmônica", ressaltaram os juízes do trabalho em nota.

As manifestações se somam às diversas reações ao movimento de Bolsonaro. A última vez que um presidente da República atuou para afastar ministros do STF se deu durante a ditadura militar (1964-1985).

Também neste sábado, dez ex-ministros da Justiça dos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT), Dilma Roussef (PT) e Michel Temer (MDB) enviaram um manifesto ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), defendendo que ele rejeite o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes.

Os ex-ministros classificam o pedido apresentado por Bolsonaro como 'mero capricho' do presidente que, na avaliação deles, segue 'roteiro de outros autocratas ao redor do mundo'. Eles alertam ainda para o risco do Senado Federal se transformar em um 'instrumento de perseguição pessoal' de Bolsonaro caso aceite o pedido.

Leia a íntegra da nota da AMB e da Ajufe

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Nota de repúdio ao pedido de impeachment contra o ministro do STF Alexandre de Moraes

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As maiores entidades representativas da magistratura no Brasil manifestam repúdio ao pedido de abertura de processo de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Tal ato representa um ataque frontal à independência e à harmonia entre os Poderes, conforme estabelecido no artigo 2º da Constituição Federal.

As decisões tomadas pelo magistrado Alexandre de Moraes são oriundas de sua independência funcional - valor constitucional instituído como proteção da sociedade.

Decisões judiciais devem ser contestadas no âmbito do Poder Judiciário e jamais por meio de instrumentos políticos. Temos a certeza de que as instituições - em especial, o Senado Federal - saberão reagir a toda e qualquer tentativa de rompimento do Estado de Direito e da ordem democrática.

Renata Gil Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)

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Eduardo André Brandão Presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe)

Leia a íntegra da nota da Anamatra

NOTA PÚBLICA EM DEFESA DA DEMOCRACIA, DA INDEPENDÊNCIA E DA HARMONIA ENTRE OS PODERES DA REPÚBLICA

A ANAMATRA - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MAGISTRADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO, entidade da sociedade civil que congrega cerca de 3.600 magistradas e magistrados do Trabalho de todo o Brasil, vem a público reafirmar a defesa intransigente da independência e da harmonia entre os Poderes da República, que são traduzidas por normas constitucionais, que definem e caracterizam o Estado Democrático de Direito brasileiro.

A independência do Poder Judiciário é necessária para a garantia e a manutenção de uma sociedade livre, justa, solidária e soberana, de modo que as decisões devem ser objeto de insurgência na seara própria e, jamais, serem atacadas na esfera política e com objetivos que não se coadunam com princípios constitucionais e republicanos.

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Pedidos de impeachment contra Ministros do Supremo Tribunal Federal promovidos por membro de outro Poder da República infringem, de forma visceral, o Art. 2º da Constituição Federal - "são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário"- quando têm por verdadeiro intuito ameaçar e coagir o Poder Judiciário.

A imputação ao Magistrado Alexandre de Moraes de crime de responsabilidade parece se motivar, exatamente, no exercício independente da jurisdição, dever comum a todos os Magistrados, forjados na cotidiana atividade de interpretar e aplicar o sistema normativo contra poderes políticos, econômicos e qualquer grupo de interesse organizado.

No sistema de repartição e cooperação entre os poderes da República eleva-se a função de impor limites a qualquer cidadão que, por motivos pessoais, vendeta ou convicções violentas, pretendam se subtrair ao cumprimento da lei. Confiamos que o Senado Federal saberá repor o comportamento doloso de investigados, acusados e profanadores do regime de cooperação e interdependência entre os Poderes da República, aos trilhos estreitos da legalidade e ao leito da convivência pacífica e harmônica.

A ANAMATRA está convicta de que ações que promovam a violação da independência e da harmonia entre os Poderes da República serão rechaçadas pelos agentes públicos e políticos competentes e pela opinião pública nacional. Contudo, precisa alertar a sociedade e apresentar seu posicionamento nesta crise institucional extemporânea, conforme determina o seu Estatuto e a convicção cívica e histórica de sua Diretoria e de seus associados e suas associadas.

Assim, a ANAMATRA está atenta e presente neste e em outros debates da sociedade que envolvam a defesa intransigente da Constituição Federal, da manutenção da democracia e dos deveres e prerrogativas do Poder Judiciário.

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Brasília, DF, 21 de agosto de 2021.

LUIZ ANTONIO COLUSSI

Presidente da ANAMATRA

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