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Mães na pandemia

Por Simone Las Casas
Atualização:
Simone Las Casas. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A sensação é de estar equilibrando mil pratos de uma só vez. O dia começa e não sei o que faço primeiro. Se realizo algo por mim - uma rotina de autocuidado ou prática de yoga - ou se amamento a minha filha mais nova. Se brinco com o meu filho mais velho que já está acordado desde as 6h da manhã, olho o WhatsApp para ver mensagens importantes ou se já respondo aquele e-mail de trabalho que ficou para trás e não saiu da minha cabeça.

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Ainda cambaleando de sono, faço quase tudo isso simultaneamente, sem me concentrar muito bem em nenhuma das tarefas, como se estivesse apenas cumprindo o obrigatório. A cabeça está sempre cheia e ainda fica aquela sensação de estar "devendo" algo não ficou bem-feito.

A sobrecarga das tarefas da casa que recai sobre nós, mulheres, é imensa. Pensar na organização das rotinas, fazer as listas de supermercado e farmácia, manter os cuidados diários com os filhos, estruturar a logística de ajudantes - quando existem - e muitas outras coisas, tira a maioria das mulheres do sério. Associe a isso a carga emocional inerente às mães, uma pandemia sem precedentes, as responsabilidades do trabalho e pronto! Estamos à beira de um ataque. Não é à toa que, de acordo com uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, 63% das mães participantes apresentaram sintomas de depressão no último ano.

O trabalho fora de casa era uma maneira de nos desafogar, um momento de respiro, uma pausa no dia a dia com os filhos que às vezes pode ser bem desgastante. Além disso, a produtividade e o resultado esperado eram muito melhores quando nos deslocávamos para a empresa ou escritório. Os filhos pequenos não entendem e não respeitam o novo esquema home office. "Se minha mãe está em casa, eu posso acessá-la o tempo todo". Por aqui, Yuri fica pulando em cima de mim enquanto faço reuniões importantes e muitas vezes não há o que se fazer.

Faço parte de alguns grupos de mães e é unânime. Todas reclamam da rotina corrida e muitas revelam que precisam ficar até de madrugada trabalhando para compensar as horas de baixa produtividade. Isso, claro, quando as suas condições laborais permitem que as mesmas trabalhem de casa.

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Outras mulheres, quando podem, decidem trabalhar de dentro de seus carros para conseguir entrar em contato com seus chefes, clientes, colegas de trabalho e etc.. Não há descanso nem pausa para o almoço ou cafezinho. As funções absorvem estas mães 24 horas por dia e acabam resultando em um esgotamento total. De acordo com uma pesquisa feita no Reino Unido, 1 a cada 3 mães chegou no limite do estresse durante a pandemia.

Exatamente por isso procuro incluir várias práticas de autocuidado no meu dia a dia, na medida do possível. Tento não sair do quarto antes de praticar 10 minutos de respiração e meditação. Pratico atividades físicas e yoga pelo menos 4 vezes na semana. Tenho uma rotina flexível com práticas de limpeza e relaxamento, como massagens com óleos, aromaterapia, escalda pés e relaxamentos guiados. Enquanto os meus filhos dormem ou quando tenho uma folga no trabalho, ouço cursos sobre bem-estar e autoconhecimento, disciplina positiva, etc... Faço o possível para cuidar da minha criança interior, que também precisa de atenção.

Este contexto está sendo uma boa oportunidade de crescimento pessoal para muitas mães. É quase impossível não recorrer a ajuda, seja ela profissional ou da família. A rede de apoio que teoricamente deveria estar ainda mais forte, não é realidade para muitas, que têm medo do contágio pelo vírus. Algumas choram caladas, descontam nos seus filhos. Outras conseguem flexibilizar e abrir mão de algumas coisas para conseguir sobreviver neste caos. Mas todas, sem exceção, estão vivendo um desafio inevitável e sairão mais fortes desta experiência.

*Simone Las Casas, diretora de marketing da Ecogranito

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