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Lula escorrega no triplex: 'Não sei'

Questionado demoradamente pelo juiz Sérgio Moro, ex-presidente demonstrou ter sido treinado para interrogatório e recorreu a frases prontas como 'não tenho conhecimento'

Foto do author Julia Affonso
Foto do author Luiz Vassallo
Por Julia Affonso , Luiz Vassallo , Bruno Ribeiro e Ricardo Brandt
Atualização:

Lula. Foto: Reprodução

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparentou estar 'treinado' para o interrogatório do juiz federal Sérgio Moro nesta quarta-feira, 10. O petista minimizou a todo o momento sua relação com o triplex 164-A, no Edifício Solaris, no Guarujá, litoral de São Paulo, alvo de investigação da Operação Lava Jato. Em outros instantes, diante de questionamentos incisivos de Moro e do Ministério Público Federal, Lula declarou que outros deveriam ser procurados para responder às perguntas.

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Durante o depoimento, Lula declarou repetidas vezes que era a ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em fevereiro deste ano) quem tinha interesse no triplex à beira-mar. Segundo o petista, sua mulher 'certamente queria o apartamento para fazer investimento'.

"A dona Marisa não me disse no mesmo dia que ela foi lá que ela não ia ficar com a apartamento. Eu tinha mostrado para ela que era inadequado o apartamento, ela foi lá, acho que ela queria ver se podia ficar para vender, porque o apartamento, na verdade, é o seguinte, o apartamento nunca, nunca foi me oferecido antes da data que eu fui lá ver e quando eu fui ver, eu não gostei. É isso", declarou.

"Ela disse que não tinha gostado do apartamento mais uma vez e como eu tinha insistido para ela que ela não gostava de praia e que eu gostava, sabe, mas que era inadequado para mim, eu acho que ela tomou a decisão de não comprar."

Em outro momento, Lula disse que perdeu o interesse no imóvel por dois motivos. "Eu quando fui lá perdi o interesse no apartamento pela situação do apartamento e depois eu vi que era humanamente impossível um ex-presidente da República conseguir ir naquela praia fora de numa segunda-feira, de numa quarta-feira de cinza ou qualquer coisa."

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Segundo o petista, 'o apartamento tinha muita escada, o apartamento era muita subida, o apartamento era muito apertado, tinha várias coisas'.

"Não é só um problema de escada estreita, é que é muito degrau de escada para um veínho subir", declarou.

Nesta ação, o ex-presidente é acusado por corrupção e lavagem de dinheiro. A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio - de um valor de R$ 87 milhões de corrupção - da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012. As acusações contra Lula são relativas a vantagens ilícitas da empreiteira por meio do triplex e do armazenamento de bens do acervo presidencial, mantido pela Granero de 2011 a 2016.

O Edifício Solaris era da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). Em abril de 2005, Marisa Letícia assinou Termo de Adesão e Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu 'uma cota-parte para a implantação do empreendimento então denominado Mar Cantábrico', atual Solaris, da unidade 141. Em 2009, a cooperativa repassou o empreendimento à OAS. Segundo a defesa de Lula, a ex-primeira-dama não exerceu a opção de compra após a empreiteira assumir o imóvel.

Lula afirmou que não tinha conhecimento sobre a quitação da cota e nem sobre quanto tempo duraram os pagamentos feitos.

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"Não tenho conhecimento, porque quem cuidava do apartamento era a dona Marisa. Eu não sei quanto tempo pagou, se terminou em 2007, 2008, 2009, 2010, eu não sei", declarou.

Moro quis saber de Lula se Marisa havia relatado ao petista sobre a reforma feita pela OAS no tríplex. Lula disse que não.

"Não, não relatou, querido. Lamentavelmente, ela não está viva para perguntar", afirmou.

Em outro instante, o juiz quis saber de Lula por que a testemunhas haviam afirmado que as reformas foram feitas para a família do petista.

"Tem que perguntar para eles", respondeu o ex-presidente.

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Durante o depoimento, o petista foi confrontado pelo Ministério Público Federal com documentos anexados à denúncia. O procurador Roberson Pozzobon questionou Lula sobre uma planilha apreendida na sede da Bancoop em março de 2016 durante a Operação Aletheia - ação que levou o ex-presidente coercitivamente para depor.

O documento, datado de 9 de dezembro de 2008, apontava, segundo a Procuradoria da República, a relação de todas as unidades do Solaris. O único imóvel que tinha a expressão 'vaga reservada' era o 174. Durante as investigações da Lava Jato, a Polícia Federal identificou uma rasura em uma proposta de adesão assinada por Marisa. No documento, segundo a PF, havia o número 174 embaixo do número 141, rasurado.

O procurador perguntou a Lula se o apartamento 174 estava reservado à família Lula.

"Eu digo para o sr. não. Se tem alguém que pode responder é a Bancoop", respondeu o ex-presidente.

O procurador Julio Noronha questionou Lula sobre caixas com parte de seu acervo guardadas na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. As caixas citadas pelo investigador tinham as anotações 'Praia' e 'Sítio' - que seriam referências ao triplex e ao Sítio Santa Bárbara, em Atibaia.

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"Quem pode responder o que está dentro dessa caixa é quem foi investigar, é quem abriu as caixas. Eu nunca abri uma caixa, nunca visitei o acervo, não sei o que tem dentro e, portanto, se a Polícia Federal foi no Sindicato, poderia ter dito: 'é isso, é isso'. O fato de estar escrito 'Praia' é porque eu ia na praia quando era presidente", afirmou.

"Não quer dizer nada, eu sinceramente fico..."

Julio Noronha insistiu. "A pergunta não tem relação com o conteúdo, mas com a inscrição 'Praia'. O sr sabe qual seria o destino dessas caixas?"

"Vou responder sem ficar nervoso. Pergunte para o policial federal que abriu lá", declarou.

"O sr sabe?", insistiu o procurador.

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"Não sei", respondeu Lula.

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