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Lula diz que se receber de volta os direitos políticos pode ser candidato em 2022 'para derrotar o tal bolsonarismo' e sugere investigação sobre Villas Bôas por 'pito' no STF

Ex-presidente afirmou que eventual candidatura vai depender das 'circunstâncias políticas'; "Se for necessário para derrotar o tal do bolsonarismo, não tenha dúvida nenhuma que eu me colocaria à disposição", afirmou em entrevista ao portal UOL

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Foto do author Rayssa Motta
Por Rayssa Motta e Cássia Miranda
Atualização:

Condenado na Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira, 18, que pode disputar as eleições em 2022 caso o Supremo Tribunal Federal (STF) declare a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro e devolva seus direitos políticos.

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"Para que eu seja candidato a presidente da República é preciso uma razão maior. Se for necessário para derrotar o tal do bolsonarismo, não tenha dúvida nenhuma que eu me colocaria à disposição. Mas isso ainda tem tempo para decidir", afirmou em entrevista ao colunista Kennedy Alencar, do portal UOL.

Lula disse ainda que uma eventual candidatura dependeria das 'circunstâncias políticas' no próximo ano, mas deixou claro que será cabo eleitoral no campo da esquerda caso não entre oficialmente na disputa. "Vai depender do PT, das candidaturas dentro do partido, das alianças políticas", explicou.

A declaração é dada dias após o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, confirmar que recebeu orientação para 'rodar o País' e se apresentar como potencial candidato do PT em 2022, caso ex-presidente continue vetado nas eleições.

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa em Recife (PE). Foto: Adriano Machado / Reuters

O petista também voltou a criticar Sérgio Moro e a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba - chamados de 'quadrilha'. Também reafirmou a inocência e falou sobre as expectativas para o julgamento que pode derrubar sua condenação. "Não sei qual será a decisão da Suprema Corte. O que eu sei é que eu sou refém da maior mentira jurídico-política contada nesse País para evitar que eu pudesse ser candidato à Presidência da República", disse. "Essa gente não estava atrás de combater a corrupção, eles queriam criar uma República de Procuradores."

O ex-presidente, que foi diagnosticado com o novo coronavírus durante uma viagem à Cuba para participar da gravação de um documentário sobre a América Latina dirigido pelo cineasta americano Oliver Stone, disse que foi um paciente assintomático. Ele ainda confirmou que vai tomar a vacina assim que o imunizante for disponibilizado para idosos com mais de 75 anos e chamou de 'encenação política' o ato simbólico organizado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para imunizar os ex-presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer no dia do aniversário da capital paulista.

O presidente Jair Bolsonaro deixa o Palácio do Alvorada, em Brasília. Foto: Gabriela Biló / Estadão

Lula também chamou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez críticas contundentes à condução da pandemia pelo governo federal - o que, na avaliação do petista, justificaria a abertura de um processo de impeachment na Câmara. O ex-presidente, no entanto, não vê chance de instauração do procedimento para cassação do mandato em um futuro próximo.

"Se a gente não conseguiu colocar impeachment em votação com Rodrigo Maia, certamente a gente não vai conseguir colocar agora com o [Arthur] Lira. Eu não acredito que haja um tempo agora de fazer o debate e nem que o Lira vai colocar em votação", avaliou. "O governo age de forma irresponsável e brinca o tempo todo desafiando a ciência. A situação é grave. A sociedade tem que perceber isso. (...) Essa brincadeira que ele [Bolsonaro] está fazendo com o coronavírus é uma estupidez. É o gesto de um homem insano, que não tem sentimento, respeito pela ciência, pela medicina e pelas 250 mil pessoas que já morreram", acrescentou.

Outro ponto criticado pelo ex-presidente foi a política armamentista do atual governo. "Ele pensa que os problemas do Brasil se resolvem com bala, cartucho. Só pode ser chamado de genocida", afirmou.

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Lula sugere que comissão investigue 'pito' de Villas Bôas no Supremo

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Durante a entrevista, Lula também sugeriu que a Câmara dos Deputados convoque 'alguma comissão' para investigar a pressão feita pelo Alto Comando das Forças Armadas no Supremo Tribunal Federal (STF) um dia antes de a Corte julgar um habeas corpus ajuizado pelo petista.

A declaração vem na esteira da revelação feita em livro pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), em que afirmou ter planejado com o Alto Comando da Força um tuíte que foi interpretado como pressão para que o Supremo não favorecesse o ex-presidente petista naquele julgamento em 2018.

Na época da publicação da mensagem, o ex-presidente cumpria pena estabelecida pelo juiz Sérgio Moro, no processo do tríplex do Guarujá. Sua libertação poderia ter influência na campanha eleitoral de 2018, a qual ele tentava concorrer. 

Na ocasião, o comandante do Exército usou o Twitter para dizer que "nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?". A declaração foi vista como uma pressão sobre a Corte para manter Lula preso.

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"Fiquei decepcionado (com a revelação), em algum momento, alguma comissão na Câmara precisaria chamar o general que é chefe do comandante para saber se é verdade que eles participaram daquilo. Porque não é de direito constitucional o Alto Comando se reunir para dar um pito na Suprema Corte", disse Lula em entrevista ao UOL.

"As Forças Armadas existem para cuidar da soberania nacional, elas não existem para interferir se alguém vai ou não ser presidente da República. Se eles quiserem disputar, o general que saia do generalato e que vá disputar a Presidência da República", afirmou.

Segundo a versão, que está no livro General Villas Bôas: Conversa com o Comandante, lançado pela Editora FGV a partir de uma longa entrevista dada ao pesquisador Celso Castro, o militar detalha, do seu ponto de vista, como se deu a construção daquele recado que para ele, não foi uma ameaça, e sim um "alerta". 

Na última segunda, 15, o ministro do STF Edson Fachin, que era relator do caso na Corte, reagiu à revelação e afirmou, em nota, que a pressão de militares sobre o Poder Judiciário é "intolerável e inaceitável". 

"O general Villas Bôas não agiu corretamente, foi um falso general, que não deveria, como comandante, ter feito isso. Eu acho que em algum momento, alguma instância vai ter que chamar alguém para explicar por que aconteceu isso. Quem convidou eles para darem palpite? Que história é essa de fazerem pressão na Suprema Corte?", questionou o ex-presidente.

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Caso Daniel Silveira

Questionado sobre a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), determinada na última terça-feira, 16, pelo STF, o ex-presidente afirmou que é papel da Câmara, e não do Supremo, decidir sobre a questão.

"Acho que não é papel da Suprema Corte mandar prender pessoas, sobretudo um deputado porque tem fórum especializado para isso. O importante é que o presidente da Câmara reúna a Câmara e decida o que fazer com esse cara, afaste esse cara e esse cara vai ser processado normalmente", avaliou.

Na avaliação de Lula, o respeito às instituições é implícito ao cargo ocupado por Silveira, que teve a prisão ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes após publicar vídeo em que fez apologia ao AI-5 e atacou os integrantes do Supremo.

"Esse cidadão tem de ser punido pelo Congresso Nacional. Quando você é eleito deputado, você sabe que você precisa respeitar as instituições e a Constituição. Se esse cidadão não estava preparado para respeitar, não poderia ser deputado. Agora, a Câmara que o julgue, que tire o passaporte dele, que tire a imunidade dele para que ele seja julgado pela Justiça normal. Aí ele vai aprender a lição", finalizou.

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