Ao juiz Sérgio Moro, no interrogatório desta quarta-feira, 10, o ex-presidente Lula disse que procurou o ex-diretor da Petrobras Renato Duque para perguntar se ele, já condenado na Operação Lava Jato, teria contas no exterior. Lula disse que foi motivado a procurar Duque por causa de "boatos" sobre propinas relacionados ao diretor e que ficou "muito puto" por causa disso.
"Tinha muito boato de que o Duque tinha conta no exterior. Eu falei para o (João) Vaccari (Neto): 'Se você conhece o Duque, quero falar com ele'", narrou Lula.
Em seguida ele declarou como teria sido a conversa com o ex-diretor. "Duque, é o seguinte: você tem conta do exterior?''Não tenho.' Acabou. Para mim, é o que interessava", disse Lula.
O juiz questionou porque Lula teria procurado apenas Duque, não outros diretores da estatal. Lula afirmou que era porque o ex-diretor era uma indicação da bancada do PT para a empresa.
"O Duque tinha sido indicado pela bancada do PT. Como disse no começo: o PT indicou o Duque, com outros partidos políticos, penso, que foi para a Casa Civil e cumpriu todo o ritual (para a nomeação). Então, eu fiquei muito puto da vida, muito puto, e falei (com ele). Se ele disse que não, ele não mentiu para mim. Mentiu para a consciência dele."
A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio - de um valor de R$ 87 milhões de corrupção - da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012. As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira por meio do triplex 164-A no Edifício Solaris, no Guarujá (SP), e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantido pela Granero de 2011 a 2016. O petista é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção.
TRIPLEX. O Edifício Solaris era da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), fundada nos anos 1990 por um núcleo do PT. Em dificuldade financeira, a Bancoop repassou para a OAS Empreendimentos os prédios inacabados, o que provocou a revolta de milhares de cooperados. O ex-tesoureiro do PT foi presidente da Bancoop.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em 2017) assinou Termo de Adesão e Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu 'uma cota-parte para a implantação do empreendimento então denominado Mar Cantábrico', atual Solaris, em abril de 2005.
Em 2009, a Bancoop repassou o empreendimento à OAS e deu duas opções aos cooperados: solicitar a devolução dos recursos financeiros integralizados no empreendimento ou adquirir uma unidade da OAS, por um valor pré-estabelecido, utilizando, como parte do pagamento, o valor já pago à Cooperativa.
Segundo a defesa de Lula, a ex-primeira-dama não exerceu a opção de compra após a OAS assumir o imóvel. Em 2015, Marisa Letícia pediu a restituição dos valores colocados no empreendimento.
BENS. A Lava Jato afirma que a OAS pagou durante cinco anos pelo aluguel de dez guarda-móveis usados para armazenar parte da mudança do ex-presidente Lula quando o petista deixou o Palácio do Planalto no segundo mandato. A empreiteira desembolsou entre janeiro de 2011 a janeiro de 2016, R$ 1,3 milhão pelos contêineres, ao custo mensal de R$ 22.536,84 cada.
Toda negociação com a transportadora Granero teria sido intermediada pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que indicou a OAS como pagante com o argumento de que a empreiteira é uma "apoiadora do Instituto Lula."
Para investigadores da Lava Jato, os fatos demonstram "fortes indícios de pagamentos dissimulados" pela OAS em favor de Lula. Isso porque o contrato se destinava a "armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativo de propriedade da construtora OAS Ltda", mas na verdade os guarda-móveis atendiam a Lula.