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Lugar de criança é na escola

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Por Lana Romani e David Schlesinger
Atualização:

Lana Romani e David Schlesinger. FOTOS: ARQUIVO PESSOAL E DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Em um ano de pandemia de Covid-19, o Brasil já perdeu 240 mil vidas, quase 5% do PIB e um ano de aulas. Vamos sentir este impacto por décadas. A pandemia é uma maratona em que ainda nem chegamos à metade. Mesmo com vacinas, a linha de chegada vai ficando mais distante devido às novas variantes virais.

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O debate sobre a estratégia de combate aos impactos da pandemia, como todo debate político na atualidade, tende ao binário: isolamento completo contra abertura completa. Economia contra vidas. Quem nos dera houvesse respostas tão simples para problemas tão complexos.

Para piorar, o debate foca em somente dois dos três grandes impactos: vidas e economia. Na educação os efeitos, positivos e negativos, extrapolam o ciclo eleitoral de 4 anos. As vozes pelo isolamento estão organizadas e ignoram as evidências científicas do resto do mundo. Os extremos mais uma vez se encontram - abraçam as informações que lhes convêm e caluniam as que lhes contradizem. Pior para nossas crianças. Pior para o país.

O impacto individual na saúde física e mental das crianças é enorme. Em uma revisão sistemática da literatura científica feita por Russell Viner e colegas, entre 18% e 60% das crianças isoladas atingiram níveis de alto risco para sofrimento ("distress").

Da mesma maneira que as denúncias de abusos contra mulheres caíram durante a pandemia, no mesmo estudo verificou-se uma queda de 27% a 39% nas denúncias pelas escolas ao serviço social de abusos contra crianças. As escolas são a principal fonte de proteção contra abusos, fome e desamparo. As denúncias caíram, mas a violência certamente não. Escolas fechadas prejudicam as vidas das crianças.

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O impacto econômico do fechamento de escolas também é grave. Estudo da OCDE[1] indica que o fechamento de escolas causará a perda de rendimento de 3% ao longo da vida das crianças e uma diminuição sustentada de 1,5% do PIB por um século. Escolas fechadas prejudicam a economia por gerações.

E o que dizem os estudos sobre o retorno à escola? Atividades escolares são altamente seguras. Crianças têm uma probabilidade baixa de manifestar sintomas, de infectar seus pares, professores ou familiares. As escolas não são um núcleo transmissor significativo na comunidade. Quem afirma isso em uma revisão sistemática é o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças, em relatório datado de 23 de dezembro de 2020.

Diversos estudos científicos em ambientes urbanos e rurais mostram isso claramente, como demonstraram a Dra. Margaret Honein e colegas em artigo na revista Journal of the American Medical Association datado de 26 de janeiro de 2021.

As medidas preventivas como uso de máscaras, ambientes ventilados, distanciamento e higienização do ambiente são essenciais e suficientes para reduzir drasticamente o risco. Testes que detectam o material genético do vírus mesmo em assintomáticos, como PCR ou LAMP, ajudam ainda mais, mas não são acessíveis a todos por questões econômicas e logísticas e não devem ser mandatórios.

Sim, as crianças devem voltar para a escola. Não, as crianças não devem fazer tudo como antes. Não é simples, mas é factível.

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As novas variantes virais, como a variante de Manaus, manterão aceso o fogo da pandemia mesmo com as vacinas atuais. Escolas foram inicialmente fechadas para entendermos o que se passava e para o sistema de saúde ter tempo de se preparar para a primeira onda. O sistema de saúde se preparou.

Agora vivemos em outro momento que pode durar anos. Manter as escolas fechadas por tempo indefinido destruirá uma geração. Um, dois, três anos tiram não só o presente das nossas crianças, mas destruirão o futuro da nossa nação. Lugar de criança é na escola.

*Lana Romani, cofundadora do Movimento Escolas Abertas; David Schlesinger, médico, geneticista, CEO do laboratório Mendelics

[1] https://www.oecd.org/education/The-economic-impacts-of-coronavirus-covid-19-learning-losses.pdf

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