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Louvor a Alexandre racha Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo

Proposta de homenagem ao ministro do Supremo, que foi promotor de Justiça do MP paulista, por sua defesa ao sistema eleitoral e da democracia, dividiu colegiado de cúpula da Instituição na reunião desta terça-feira, 23; cinco conselheiros votaram contra louvor ao presidente do TSE, que recebeu apenas um voto a mais

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Foto do author Fausto Macedo
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:

 Foto: Reprodução/Youtube

A proposta de um voto de louvor ao ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, em razão de seu discurso de posse na Corte rachou o Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo nesta terça-feira, 23. A homenagem acabou aprovada, mas com placar apertado, de 6 votos a 5. A votação foi marcada por ponderações acerca da 'prematuridade' do voto de louvor e contestações de que Alexandre de Moraes - que iniciou a carreira no Ministério Público de São Paulo - não vem respeitando o sistema acusatório na condução de investigações.

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O voto de louvor foi proposto pelo corregedor-geral do Ministério Público de São Paulo, Motauri Ciocchetti de Souza, que classificou o discurso de Alexandre na ocasião de sua posse no TSE como 'firme, coerente, coeso e respeitoso', delimitando o papel da Justiça Eleitoral. Na ocasião, o ministro disse que o sistema eleitoral é 'orgulho nacional' e ressaltou que afirmou que a Constituição 'não permite a propagação de discurso de ódio, de ideias contrárias à ordem constitucional e ao estado democrático' que visa à 'instalação do arbítrio'.

Em seguida, o procurador-geral de Justiça de São Paulo Mário Sarrubbo concordou com a indicação, indicando que a fala do atual presidente do TSE foi 'forte e consistente, mas ao mesmo tempo respeitoso'. Para o PGJ o discurso de Alexandre 'pontuou a democracia , a separação de poderes e a Constituição Federal como guia' diante de eleições 'que se apresentam conturbadas e polarizadas'.

Tanto Souza como Sarrubo estiveram na cerimônia de posse de Alexandre de Moraes na Corte Eleitoral, assim como a conselheira Tatiana Viggiani Bicudo, que também votou a favor da homenagem.

O primeiro conselheiro a abrir divergência sobre a homenagem foi José Carlos Mascari Bonilha. Ele considerou 'açodado e prematuro' conceder um voto de louvor para 'algo que ainda está se iniciando, a gestão de Alexandre à frente do TSE.

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"Seria motivo de orgulho vermos um ex-promotor ocupando uma cadeira no Supremo Tribunal Federal e na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, mas quanto à assunção do cargo de presidente não imagino que se possa aprovar um voto de louvor para algo que ainda vai se desempenhar", afirmou.

Além disso, Bonilha ponderou que o ministro 'de forma recorrente desobedece ao comando constitucional que consagra o sistema acusatório'. "Não posso concordar com concessão de voto de louvor a quem de forma recorrente desatende primeiro ao comando constitucional e em segundo deixa de respeitar o Ministério Público", completou.

Na mesma linha, o conselheiro Saad Mazloum afirmou que o 'sistema acusatório não tem sido devidamente respeitado, com especial atenção para as atribuições do Ministério Público'. Ele também entendeu ser 'prematura' a proposta. "Democracia não é pra ser idolatrada apenas, mas exercitada de forma concreta", afirmou.

Pedro de Jesus Juliotti também alegou que Alexandre 'reiteradamente vem violando o sistema acusatório e as prerrogativas do Ministério Público'. O conselheiro citou pedidos de arquivamento solicitados pela Procuradoria-Geral da República não acatados pelo ministro do Supremo.

"Me perdoe o ministro, não posso concordar com uma ministro que não respeita nossas prerrogativas que foram duramente conquistadas e estão expressamente citadas na Constituição Federal e lamentavelmente não respeitadas", disse Juliotti.

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O procurador Antonio Carlos Da Ponte também ponderou que o voto de louvor lhe parecia 'açodado e prematuro'. "Democracia se faz não com discurso, mas com prática, com ações efetivas. O que tem se observado, por vezes, é o desrespeito ao sistema acusatório, assim como às prerrogativas que são tão caras ao Ministério Público. Me parece que o sr. ministro terá oportunidade ao longo dessas eleições de demonstrar na prática como deve se dar o processo democrático, mas nesse momento um voto de louvor me parece prematuro", indicou.

Também votou contra a proposta de 'louvor' a Alexandre de Moraes o conselheiro Marco Antonio Ferreira Lima. A favor da homenagem, votaram junto de Sarrubbo, Souza e Bicudo os conselheiros Antonio Calil Filho, João Machado de Araújo Neto e Jurandir Norberto Marçura.

Este último chegou a ressaltar que concordava com as ponderações feitas pelos colegas que abriram divergência, mas decidiu votar a favor da homenagem ao louvor por tratar em especial do discurso feito pelo presidente do TSE.

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