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Lições sobre a pane nas redes sociais

Por Simone Salles
Atualização:
Simone Salles. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Algumas horas sem acesso ao Facebook e, por serem do mesmo grupo, ao Instagram e ao Whatsapp também, deixaram as pessoas atordoadas. A suspensão dos serviços não foi explicada oficialmente, mas ocorreu no mundo todo. Por serem as redes favoritas no Brasil, muitos se queixaram dessa interrupção nas próprias mídias sociais, quando voltaram a funcionar. Foram relatos de pacientes que não conseguiram realizar o atendimento médico online; trabalhadores sem seu principal meio de contato para serem contratados, como os que fazem fretes; cozinheiras que não puderam divulgar a quentinha do dia e perderam as vendas; além de casos mais corriqueiros, como aniversariantes que ficaram sem parabéns e "influencers" sem poder influenciar.

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O co-fundador, Zuckerberg, não ficou de fora do caos: perdeu bilhões - de dólares - como consequência dessa paralisação, que teve como comunicado para o público uma nota citando uma configuração incorreta como possível causa da pane, um tuíte de desculpas por eventuais inconvenientes e a sensação de que o problema poderia se repetir. Embora não houvesse evidências de qualquer vazamento nas contas dos internautas, logo a seguir dados de usuários do Facebook apareceram à venda de forma criminosa na dark web. Ficou claro para muitos que depender dos aplicativos de um mesmo proprietário não é uma boa estratégia e esse apagão trouxe lições importantes nesse sentido.

Para piorar o atual cenário negativo, uma ex-funcionária denunciou que o Facebook não agia de forma ética com relação aos interesses de seu público. Ela reuniu diversos documentos para provar o que afirma e já foi convidada para depor sobre a questão no Legislativo federal americano, após participar de um programa na TV americana fazendo críticas à conduta de Zuckerberg.

O blackout assume proporções preocupantes quando se leva em conta os mais de 2,7 bilhões de indivíduos que usam alguma das redes sociais da empresa, segundo números divulgados pelo Facebook em relatório no primeiro semestre. É a maior rede social que existe no mundo. O Brasil tem posição de destaque no uso das redes sociais, inclusive quanto ao número de horas dedicadas por dia às plataformas digitais, em especial ao Face. Informações deste ano da DataReportal levantou que os brasileiros passam, em média, 3 horas e 42 minutos por dia conectados às redes sociais.

Outra pesquisa, do Opinion Box, exclusiva sobre o Facebook no Brasil, mostrou que a maioria dos usuários do Facebook é bem ativa na rede social: 79% acessam a rede social pelo menos uma vez ao dia, sendo que, destes, 39% entram no "face" várias vezes ao dia e 14% deixam o Facebook aberto o dia inteiro.

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A pandemia ainda contribuiu para estimular o hábito de permanecer conectado por tempos mais longos. O relatório da DataReportal "Digital 2020" apontou a existência de cerca de 150 milhões de usuários de internet no Brasil em 2020 e que esse número cresceu em 8,5 milhões entre 2019 e 2020, com penetração estimada em 71%. Havia, ainda,140 milhões de usuários das mídias sociais, 11 milhões a mais entre abril de 2019 e janeiro de 2020, um aumento de 8,2%, com penetração estimada em 66%.

Com relação ao Facebook, o Opinion Box avaliou que 44% dos usuários passaram a assistir mais lives no Facebook desde o início da pandemia. Somada a outros fatores decorrentes do isolamento, a frequência de uso do Facebook aumentou bastante no último ano: 35% dos usuários estão acessando mais a plataforma, em comparação ao ano anterior. O aumento no uso do Facebook durante a pandemia faz com que 62% acreditem que continuarão usando a rede social com a mesma frequência nos próximos 12 meses.

Esses dados ajudam a compreender o quadro de dependência digital que ganha espaço cada vez maior na vida cotidiana, onde há dificuldade crescente em agir offline, o que resulta em malefícios no caso de interrupções não previstas como a que ocorreu nesta segunda-feira. A principal lição aprendida, principalmente por pequenos empresários que ficaram paralisados, é a necessidade de ter um plano alternativo bem definido na hipótese de um novo apagão, evitando concentrar somente em uma rede a divulgação de produtos e serviços, além da possibilidade de reforçar o uso de ferramentas mais antigas, como o e-mail e o próprio telefone. Afinal, nem sempre faz sol e é importante estar preparado e equipado para os dias de chuva e tempestade.

*Simone Salles, jornalista, mestre em Comunicação

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