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Lições financeiras da pandemia

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Por Sigrid Guimarães
Atualização:
Sigrid Guimarães. FOTO: LEO AVERSA Foto: Estadão

Quem poderia imaginar que teríamos um 2020 tão tumultuado? A pandemia de covid-19 acarretou reduções de salário e renda, obrigou famílias a apertarem o cinto diante das incertezas, e mesmo quem ainda conta com uma boa renda ficou com aquela pergunta no ar: "E agora?".

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No que se refere às finanças, quem tem um planejamento de longo prazo bem elaborado pode seguir com tranquilidade, pois certamente ele foi pensado dentro da perspectiva de que mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente, as turbulências surgiriam. E esse é talvez o maior aprendizado sobre finanças que se pode extrair da pandemia.

Na verdade, o primeiro passo para planejar finanças pessoais é conhecer, de fato, o custo de vida e o potencial do patrimônio. A análise comparativa das declarações de renda dos dois últimos anos é o melhor instrumento. Além de indicar a média de despesas e receitas, suas fontes, previsibilidade e regularidade, ela revela a rentabilidade e o grau de imobilização do patrimônio. Só com essa visão global, podem-se fazer projeções e saber se o nível de gastos é sustentável ou não.

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Estar consciente de que as pessoas quebram por a falta de liquidez, e não por falta de patrimônio, é fundamental. Você pode ter uma fortuna em patrimônio, mas, durante uma crise, transformá-lo em dinheiro no bolso costuma ser muito difícil e implicar no seu aviltamento. Quem não conhece alguém que precisou vender um imóvel rapidamente, muito abaixo do valor, para fazer frente a despesas do dia a dia?

Por isso, o segundo passo é criar uma reserva financeira investida em renda fixa, priorizando liquidez, baixa volatilidade e baixo risco de crédito e aceitando o inevitável contrapeso de uma rentabilidade também baixa. O objetivo não é gerar riqueza, mas garantir o valor e a disponibilidade de recursos quando outras fontes passem por estiagem. Idealmente, a reserva deve ser suficiente para cobrir três anos de sua vida, considerando imprevistos e emergências.

Tendo essa segurança, vamos ao passo seguinte: valorizar o patrimônio aplicando em investimentos mais voláteis e com maior potencial de retorno, mas nunca a qualquer custo. Lembre-se: quando se trata de planejar, estamos falando de futuro e imprevistos; proteger o patrimônio é a prioridade máxima, e diversificar é a palavra de ordem.

Uma carteira qualificada e diversificada em vários mercados e ativos, com flutuações sujeitas a diferentes variáveis, pode não ser a mais rentável a curto prazo, mas é a melhor forma de gerar valor no decorrer do tempo e viabilizar planos de longo prazo. A meta é criar uma linha de crescimento o mais constante possível. As crises sempre vão ocorrer, mas seu impacto sobre a carteira será reduzido na intensidade e, sobretudo, no tempo, sem impor grandes perdas definitivas. Com a vida custeada pela reserva de liquidez, você poderá aguardar a revalorização dos mercados sem ter que se desfazer de bens e ativos em baixa.

Compor e gerir uma carteira diversificada e adequada aos seus planos implica definir a participação de cada mercado e selecionar ativos a dedo, o que exige conhecimentos técnicos e disciplina. Por isso, recomenda-se contar com o auxílio de gestores especializados nos diversos mercados.

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Propostas de ganhos extraordinários a curto prazo são as primeiras a descartar. É preciso resistir à atração fatal dos históricos de rentabilidade e ir, antes, aos fundamentos dos resultados, analisando variáveis qualitativas como, entre outras, a política de investimento, a consistência entre ela e a prática efetiva do gestor, sua reputação e a qualidade de sua equipe, sempre repetindo o mantra "rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura".

Por fim, lembre-se: quando você tem suas finanças organizadas, você tem um plano de vida. As crises passam, e os aprendizados ficam.

*Sigrid Guimarães é sócia e CEO da Alocc Gestão Patrimonial

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