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Leniência prevê que Lava Jato peça fim de bloqueio e de restrições à Odebrecht

Acordo fechado com Ministério Público Federal garante à empreiteira ações para conseguir retomar contratos e se reerguer economicamente, inclusive com pedido para que Petrobrás acabe com bloqueio cautelar imposto à companhia

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Fausto Macedo , Ricardo Brandt e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Prédio da Odebrecht em São Paulo. Foto: Jf Diório/ Estadão

O acordo de leniência firmado entre a Odebrecht e os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato prevê que o Ministério Público Federal fará gestões para que a empreiteira consiga o desbloqueio de bens congelados em decorrência das descobertas de corrupção na Petrobrás e obtenha o fim das restrições de contrato impostas como a determinada pela estatal petrolífera.

O termo de leniência da Odebrecht, fechado com o Ministério Público Federal no dia 1ªº de dezembro foi tornado público ontem, após ele ser protocolado na Justiça Federal, no Paraná.

 

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O acordo, espécie de delação premiada de empresas, prevê pelo menos quatro eixos centrais de benefícios à Odebrecht, em troca de informações e documentos sobre pagamentos de propina e irregularidades em contratos públicos.

As medidas são para ajudar o Grupo Odebrechto grupo a limpar seu nome no mercado, com os órgãos públicos e garantir a sobrevivência econômica da empresa.

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A Odebrecht terá de pagar R$ 3,2 bilhões para Brasil, EUA e Suíça, detalhar contas secretas e fazer um relatório de ilícitos em contratos com a União e nos governos estaduais e municipais.

Em um item específico sobre "contratação com o Poder Público", a leniência estipula que procuradores da Lava Jato e outros membros do Ministério Público que venham a aderir ao acordo, estão comprometidos a não solicitar "a declaração de nulidade de quaisquer contratos celebrados, vigentes e/ou já encerrados" entre qualquer entidade da Administração Pública direta e/ou indireta da União, Estados, Distrito Federal e municípios com qualquer empresa do Grupo Odebrecht.E ainda a solicitar a manutenção de contratos ou negócios jurídicos inclusive com bancos estatais.

 

O objetivo é manter a capacidade de pagamento dos valores previstos na leniência.

Um dos pontos importantes do acordo, que beneficiam a Odebrecht, é o que prevê que o Ministério Público leve o acordo à Petrobrás para que seja considerada a extinção do bloqueio cautelar imposto pela estatal às empresas do grupo.

Com o maior volume de contratos na Petrobrás - são R$ 35 bilhões em negócios fechados em dez anos sob análise, sem contar Braskem, braço petroquímico da empreiteira -, a Odebrecht confessou fraudes em contratos, pagamentos de propinas, lavagem de dinheiro.

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A Lava Jato aponta desvio de mais de R$ 40 bilhões na Petrobrás, entre 2004 e 2014, por empreiteiras que agiram cartelizadas e em conluio com políticos - em especial do PT, PMDB e PP - e agentes públicos.

 

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O documento estipula ainda que em um prazo de 30 dias, depois da homologação pela 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, seja pedido "o desbloqueio de bens da Colaboradora". O item por servir para que Odebrecht consiga o fim do bloqueio de R$ 2 bilhões imposto pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em 2016.

O acordo de leniência, com 26 páginas, foi assinado no dia 1º de dezembro e protocolado nesta sexta-feira, 20, na Justiça Federal, em Curitiba, em uma ação cível em que a Odebrecht é alvo. O acordo de leniência é assinado por 26 procuradores da República, de Curitiba e de Brasília, e deve ser homologado pelo juiz Sérgio Moro - que ainda não recebeu o documento. O termo já foi homologado pela 5.ª Câmara de Coordenação e Revisão, órgão do Ministério Público competente para analisar o ajuste, no dia 15 de dezembro.

 Foto: Estadão

Falência. O acordo de leniência aponta ainda interesse público na preservação da Odebrecht e na "continuidade de suas atividades". Para a Procuradoria, "apesar dos ilícitos confessados, encontra justificativa em obter os valores necessários à repara dos ilícitos perpetrados".

O termo pretende também "estimular que a Odebrecht entabule negociações e conclua acordo em outras jurisdições, que porventura possam ter interesse em acordos semelhantes, para o fim de ser promovida a expansão das investigações de corrupção no Brasil e no exterior".

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