Ricardo Brandt, Julia Affonso, Luiz Vassallo e Fausto Macedo
08 de março de 2018 | 13h26
Leia dos 27 depoimentos das testemunhas da Operação Trapaça, a terceira fase da Carne Fraca, deflagrada nesta segunda-feira, 5, que investiga esquema de fraudes em laudos e informações de produtos da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, para burlar as fiscalizações do Ministério da Agricultura.
Um dos depoimentos é o da ex-funcionária Adriana Marques de Carvalho, que reclamou em e-mail sobre adulteração em laudos para evitar rastreabilidade do Ministério da Agricultura, que culminou em ação trabalhista e em levantamento pela Carne Fraca do envolvimento da direção da BRF em tentativa de abafar o caso.
O Ministério Público Federal e a Polícia Federal consideram ter encontrado elementos de prova de que executivos e técnicos da BRF mantinham um esquema sistematizado de fraudes em laudos e adulteração de dados para ocultação de informações do Ministério da Agricultura, voltado a maximizar lucros e cuja dimensão é ainda “incomensurável”. As suspeitas são que os crimes eram cometidos com a participação ativa de membros da cúpula da empresa.
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Os investigadores da Operação Trapaça suspeitam que o ex-presidente da BRF Pedro de Andrade Faria (2015 a 31 de dezembro de 2017) e o ex-vice-presidente do grupo Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior tinham papel ativo no esquema. Ao pedir a prisão dos dois à Justiça, o MPF apontou a necessidade de levantamento de mais documentos para apurar o envolvimento, ou não, deles com ilícitos a possibilidade de destruição de material ou coação de testemunhas e investigados na Trapaça – a terceira fase da Carne Fraca deflagrada nesta segunda-feira, 5.
LEIA OS DEPOIMENTOS
“Tendo em vista os indícios de que era política da empresa adulterar laudos e criar documentos ideologicamente falsos, há de se tomar como séria a possibilidade de que os funcionários da BRF ligados ao esquema promovam a destruição sistemática de provas, uma vez deflagrada esta fase da investigação”, escreveu a procuradora da República Lyana Helena Joppert Kalluf, no parecer do pedido de prisão entregue à Justiça Federal, em Ponta Grossa.
COM A PALAVRA, A BRF
O grupo BRF informou nesta segunda-feira, 5, que ‘a empresa está mobilizada para prestar todos os esclarecimentos à sociedade’ e que segue normas brasileiras e internacionais.
Veja a íntegra do comunicado divulgado pelo grupo:
Comunicado Geral sobre a Operação Trapaça
A empresa está mobilizada para prestar todos os esclarecimentos à sociedade. A BRF segue normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos. Há mais de 80 anos demonstra seus compromissos com a qualidade e segurança alimentar, que estão presentes em todas as suas operações no Brasil e no mundo. A BRF possui importantes certificações internacionais de qualidade. É a única empresa brasileira a participar do GFSI (Global Food Safety Initiative).
Com base nos documentos disponíveis, a BRF entende que nenhuma das frentes de investigação da Polícia Federal diz respeito a algo que possa causar dano à saúde pública.
A Companhia reitera que permanece inteiramente à disposição das autoridades, mantendo total transparência na interlocução com seus clientes, consumidores, acionistas e o mercado em geral.
Sobre as denúncias até então divulgadas, a empresa esclarece o seguinte.
1) Sobre a Salmonella Pullorum em Carambeí
• Existem cerca de 2.600 tipos de salmonela. A Salmonella Pullorum é essencialmente de aves e não causa nenhum dano à saúde humana.
• A BRF segue todos os monitoramentos estabelecidos pelo PNSA (Plano Nacional de Sanidade Avícola) e Instrução Normativa nº 20. Estão inclusos o monitoramento e a pesquisa de S.Pullorum.
• No lote de 46 mil pintos citado na acusação foram realizadas análises microbiológicas que não identificaram presença da bactéria S.Pullorum. Porém, ela foi identificada em matrizes e lotes de frango de corte no mesmo período em Carambeí.
• Os resultados dessas análises foram devidamente notificados ao Serviço Veterinário Estadual e ao Serviço de Inspeção Federal, como determina a legislação. O ofício nº 016/16/Matrizes foi encaminhado no dia 18 de abril de 2016 ao Serviço Estadual. Outros 28 ofícios relacionados ao assunto foram encaminhados ao Serviço Federal.
2) Sobre o uso do composto Premix
• O Premix é um composto de vitaminas, minerais e aditivos para rações animais. É utilizado no mundo inteiro. Tem como finalidade complementar os níveis nutricionais da ração.
• Os processos de produção do Premix seguem normas técnicas nacionais e internacionais. Pela rastreabilidade do produto é possível identificar tudo o que foi incluído no Premix, suas concentrações, origem e destino. Para cada fase da vida do animal, existe uma composição diferente de Premix.
• As fábricas da BRF que produzem o Premix são registradas e certificadas pelo MAPA conforme as Instruções Normativas IN04 e IN14. As fábricas passam por fiscalização constantemente. As informações são auditáveis por clientes, MAPA e outros órgãos fiscalizadores.
• A última auditoria do MAPA na BRF ocorreu em outubro de 2017, e todos os parâmetros estavam devidamente dentro das normas.
• Os e-mails revelados pela investigação em curso são de três anos atrás. O teor das mensagens está sendo investigado pela empresa.
3) Sobre as acusações da ex-funcionária Adriana Marques Carvalho
• Tratam-se de denúncias de uma profissional que foi desligada em julho de 2014 e ingressou com ação trabalhista contra a empresa.
• As acusações da ex-funcionária foram tomadas com seriedade pela companhia, e medidas técnicas e administrativas foram implementadas para aprimorar seus procedimentos internos. Cabe ressaltar que esse aprimoramento é um processo contínuo dentro da governança da BRF. Entre essas medidas, umas das principais foi desvincular a hierarquia das unidades produtoras sobre os laboratórios, que passaram a responder diretamente à estrutura global de Qualidade.
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