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Legados móveis

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Por Cassio Grinberg
Atualização:
Cassio Grinberg. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O que acontece quando percebemos que já temos um legado a deixar?

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É comum, em nossas trajetórias, sermos movidos por determinadas linhas de chegada: um certo nível de faturamento, um volume previsto de clientes, um percentual de retorno a nossos acionistas. Estipulamos patamares, geralmente através de um processo de planejamento rígido, e chegamos a eles como aquele maratonista que, depois do quilômetro trinta, se move mais ou menos por inércia.

A hora em que estamos mais cansados, no entanto, é justamente a hora de acelerar. Tenho visto que a diferença entre perfis de empreendedores é que aqueles que dão certo não são necessariamente os que chegam antes, mas os que mostram capacidade de continuar. Mesmo quando as pessoas, muitas vezes as mais próximas, já não acreditam mais. Trata-se de um movimento contrário àquelas empresas movidas unicamente pelo quantitativo.

Negócios têm ciclos, e muitas empresas desaceleram justamente quando percebem que já deixaram um legado. E cometem, com isso, dois erros bastante comuns: associar legado a tamanho, e associar tamanho a legado.

Legado não quer dizer tamanho, e sim propósito. Tamanho não quer dizer legado, e sim... custo. No livro Davi e Golias, Malcom Gladwell traça uma interessante analogia entre algumas cenas da batalha bíblica, nos conduzindo a concluir que na verdade o mais surpreendente seria se Golias (um guerreiro gigante, com mais assistentes do que agilidade) e não Davi (guerreiro pequeno e rápido, especialista na atiradeira), tivesse vencido a batalha. Luxottica e Warby Parker, Gillette e Dollar Shave Club, são exemplos de situações onde o gigantismo foi derrotado justamente pela falta de hábito de acompanhar as mudanças das necessidades e desejos de seus consumidores.

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Resiliência não é apenas levantar quando a gente cai. É também entender que, se não temos visão panorâmica para apreender o tamanho da estrada, é hora de parar: olhar para trás e ver a distância já percorrida. E então acelerar: o passado só não serve para nada se não aprendemos nada com ele, e o sucesso, provavelmente, deve estar dos próximos metros. Portanto, pense bem quando sua empresa chegar ao patamar onde você acredita que já tem um legado a deixar. Talvez essa seja justamente a hora de recomeçar.

*Cassio Grinberg, sócio da Grinberg Consulting e autor do livro Desaprenda - como se abrir para o novo pode nos levar mais longe

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